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08/06/2020 às 08:02
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Quirera Gourmet – 08/06/2020

Quirera Gourmet

De Novo, Andar Para Trás? NÃO!!!

Em 1980 e poucos não acreditei muito, nem me convenci, de que em alguns anos a gente não precisaria sair de casa para fazer compras ou ir ao banco, conforme anunciou, em sala de aula, o Professor Daniel Herz. Os computadores e a informática já haviam invadido o noticiário, mas eu fazia muito pouca ideia do que estava começando em Floripa e no mundo. Menos ainda o que estava começando acontecer em nossa profissão, o Jornalismo. Nossa sala de aula na “Faculdade comunicação-Habilitação Jornalismo” (tinha uma plaquinha na frente) era “equipada” com umas 30 máquinas de datilografia, manuais, é claro.

“On line” era algo que não existia, como tantas outras expressões e práticas que vieram, ano a ano, revolucionar a vida de todo mundo. Eu tinha 27 anos, estava casado com a Viviani, colega de turma, e volta e meia a gente levava nossa filha Maíra, de seis meses mais ou menos, para dentro da sala de aula, no “moisés”. Cumpre registrar que o barulho das máquinas nunca extraviou o sono de Maíra. Volta e meia alguém saía para tomar um ar e levava a Maíra junto. A faculdade era ao lado do “Bar do Básico”, point até hoje no campus da Ufsc e um dia encontrei Maíra no colo de alguém que eu nem conhecia.

Eram os tempos de “abertura política” ou abertura democrática como General João Batista Figueiredo comandando a pátria amada Brasil, que ia mal pra baralho. Inflação galopante, desemprego, custo de vida nas alturas, remarcações diárias…Eu trabalhava meio expediente na Cidasc e o salário durava uns três ou quatro idas, o tempo necessário para pagar as contas. E ficar duro de novo, sobrava nada, reabriam-se as contas. A insatisfação do povo em Floripa ganhara uma B12 na veia com a novembrada, mas no país inteiro gestava-se o Movimento das Diretas Já. Os dias eram nervosos e o fim da ditadura militar, um sonho.

A maior parte dos universitários era de esquerda ou, no mínimo, repelia os militares, a censura e “o pessoal da Arena”, simpatizantes da ditadura. Os poucos que restaram, pois muitos viraram a casaca, e outros tantos, envergonhados, não falavam mais em política. Mas havia sim, os defensores dos militares, embora poucos e de boca fechada. Essa divisão entre a favor e contra a ditadura foi literalmente materializada dentro da nossa turma da faculdade, que se dividiu entre esquerda – a maioria, e direita. Esta comandada pelo (detestado) colega Artur que, talvez por seu radicalismo reuniu poucos seguidores (as). A cisão resultou em homéricos bate-bocas e em duas formaturas: Uma na reitoria, com toda a pompa e circunstância que o momento exigia e era a praxe; e a formatura da “Turma das Diretas Já”, realizada no Teatrinho da Ufsc (Praça da Trindade) no dia 31 de março de 1984, data escolhida com evidente propósito pela turma.

Nós ainda espalhamos alguns outdoors na ilha avisando: “Esta turma vai botar a boca no mundo!”, com fotografia dos autores. Aconteceram também alguns muristas que não se identificavam nem com um grupo nem com o outro. Com 13 militantes, a turma das diretas era majoritária. A “nossa formatura” terminou com cervejas geladas e na solenidade – com o Deputado Francisco Kuster e o Senador Nelson Wedekin como paraninfo e homenageado – “rolou” o Hino da Internacional Socialista e ” Coração de Estudante”, de Milton Nascimento. Particularmente – e eu nunca disse isso antes – achei nossa formatura parecida com uma reunião de “aparelho” de alguma organização clandestina da guerrilha terrorista e comunista que, anos atrás, eram caçadas pelo Exército Brasileiro, a bala! E criticar o governo ainda era meio perigoso. Era voz corrente que, dentro da UFSC, espiões-dedo-duro passavam informações, para militares, sobre “estudantes subversivos”…

Sem exagero, o que a formatura que a gente fez, apoiados por professores e por muitos amigos – e embora estivéssemos na “abertura democrática”- foi meio que um desaforo às “autoridades constituídas”, ao magnífico reitor e até para alguns colegas da “Direita da turma”. A gente tinha consciência que os tempos não eram mais tão duras contra manifestações semelhantes à nossa. Mas também tínhamos consciência que os milicos ainda estavam no poder. Então, também tinha aquela máxima: Quem tem c..tem medo”!

A formatura fez o maior sucesso, primeiro porque nem parecia formatura, todos de calça jeans e camiseta com a inscrição Turma das Diretas Já” (inclusive a Maíra). Recebemos nosso canudo, ouvimos os discursos de praxe e fomos beber cerveja e degustar uns salgados, em uma associação na Rua Hercílio Luz. Quem foi, adorou. Baita festerê! A turma das diretas voltou a se reunir nas comemorações de 20 e de 30 anos de formatura, e duas integrantes da galera subiram ao andar superior (antes da hora, pois fazem falta), Eliane e Viviani, que o senhor das esferas as proteja! O resto da turma está toda na área, puta da cara com o Bostonaro, somente alguns têm filiação partidária, acho que nenhum do PT, mas todos (acredito, não perguntei a eles) seguem “esquerdopatas”, de carteirinha e com orgulho, eu imagino!

Escrevi estas mal traçadas não por saudosismo. Foi para contar aos felizardos que não viveram aqueles anos, como era cinzentos e nervosos aqueles dias. Para se ter ideia de como uma (hoje) inocente bravata como a da Turma das Diretas significava muito, naqueles anos. Agora de tanto ouvir falar em ditadura militar e assistindo o inacreditável momento da política brasileira e, pior ainda: Vendo gente com 30 ou 40 anos defender a volta dos militares ao poder, eu fico dividido: 50% tem vontade de desistir desse país, que falar só de pescaria, ou só de futebol, ou de qualquer coisa, menos de Brasil… Os outros 50% estão com vontade de vomitar. E depois sair berrando, que nem doido, alguma coisa como : “De novo andar pra trás, NÃO!” Abaixo a Burrice! Fora com a Ignorância!”  E “Fora, Bolsonaro”!

Para este reles escrevinhador a simples intenção (acredito que vá ser proibida pela Justiça) de querer esconder, maquiar ou manipular os números da Pandemia já é suficiente para pedir (mais uma vez) a saída desse “despresidente” do cargo que irresponsavelmente ocupa. O Brasil não merece isso…. Quem quiser, pode pesquisar na Internet uma outra epidemia, de Meningite, que os militares brasileiros durante a ditadura varreram para debaixo do tapete. Censuraram até epidemia, negaram o fato, esconderam os números…E suas consequências foram fatais para muita gente! De novo, isso? Não né?! CHEGA!

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