Sempre me considerei, sem nenhuma humildade, um ser universal – por acreditar que conseguiria me adaptar e viver em qualquer lugar do planeta. Nada mal, embora nunca tenha me imaginado morando na Sibéria, mas no Afeganistão já, por exemplo. Então, quem acredita que se ajeita em qualquer canto não pode amarelar para a primeira pandemiazinha que aparece. Muito menos por uma gripezinha qualquer! Resultado: Me acostumei a gostar de ficar em casa, grudado na internet e no computador – com passeios gastronômicos até a geladeira ou à cozinha, é lógico! Mais os deslocamentos obrigatórios ao banheiro, quarto e área de serviço. Até a sacada para ver as plantas, espiar um casal de pombas namorando no pé de camboatã em frente, e olhar para o céu, ver se chove…Para quem passou a maior parte dos dias, nas últimas três décadas, andando na rua de lá pra cá em reportagens e matérias – a maioria feitas ao vivo e a cores, é uma senhora adaptação!
Sinto falta de conversas com pessoas na rua, Xanxerê tem uns 50 mil habitantes e devo conhecer entre 20% e 30%, o que deve dar umas 10 mil pessoas, mais ou menos. Vai daí que em terras xanxerianas sair para a rua e não encontrar um conhecido sequer é difícil… Então, falar com homens, mulheres, idosos, jovens, fora os desconhecidos que me conhecem e eu não lembro mais, faz uma falta danada! Mas logo estaremos trocando figurinhas novamente, espero! Em compensação, agora sob suas ordens, ouço e converso todos os dias com a chefe de redação, Dona Iamara, parceira top de linha, também conhecida por “Dos Deuses! ”. Além de companheira de todas as letras, traços e curvas, é minha inspiração para (raras) incursões à poesia! E leitora obrigatória – ela tira a temperatura! Cabe assinalar que sua proximidade induz este aposentado escrevinhador a não pensar que a vida agora é só pra vadiar. Alguém tem que trabalhar nesta casa! É justo registrar igualmente o meu bissexto e incerto exercício de parcos dotes culinários, notadamente carreteiros com sobrinhas de churrasco – que nestes tempos carrancudos não se pode perder nada!
Gosto de lembrar – na condição de cidadão universal – que o homem é o único animal capaz de se adaptar as condições de vida mais adversas, além de cometer loucuras que outros animais nunca praticam. Como deitar ao sol, em pleno meio dia, para ‘pegar um bronze’ num calor de trinta ou quarenta graus. Daí, se reinventar, reprogramar e se desfabricar para permanecer dentro de casa pode ser um saudável e bem-humorado ato revolucionário! Já tive vontade de proclamar “Confinados do mundo, uni-vos! ”, mas melhor não. Achei meio exagerado, embora ainda ande pensando em fundar uma organização terrorista, para tacar bomba no Coronavírus!
Ontem para sentir o clima e encarar o poderoso inimigo, mascarado e de boné tapeado, dei uma volta de 40 minutos no front, pelo centro. Encontrei Janjão e Gavin conversando, ou melhor, conspirando – como sempre – no “aparelho subversivo” do segundo. Falei que tô bem de saúde, pros meus 45 anos e 72 quilos. Rimos um pouco e avancei. Na lanchonete Espigão, meu amigo Valdecir xingou “essa merda do Coronavírus do Bolsonaro”, que derrubou 80% do seu movimento! Exorcizamos essa corja de ignorantes, talvez alguns inimigos, infiltrados… que não usam máscara! Depois minha amiga Maria Zolet me mostrou fotos antigas, e deu saudades da capital do gatilho. Terminei renovando o estoque de palavras cruzadas, para as horas de vigia.
E ainda não esgotei todas as atrações da quarentena. Por exemplo, ainda não tirei o violão do guarda roupa, atividade do ramo artístico, cuja claudicante trajetória pretendo retomar meio logo. E criar calos nos dedos é outra missão a ser encarada, antes de afinar o gogó! Meu amigo Badotti disse que esse ano queria montar um show com os talentosos e gloriosos “Filhos da Terra”, de saudosa memória. Mas antes temos que vencer o inimigo! Igualmente agendada está a abertura de um baú com livros, jornais e outras bugigangas importantes, junto com tralhas fora. Algumas são de estimação!
E foram também, cumpre registrar, conquistadas algumas vitórias importantes na quarentena, como esta que transcorre justo agora, e bem aqui. Fazia tempo que tentava reencontrar a velha fórmula de falar comigo mesmo, com você, e escrever ao mesmo tempo. Prática – que costumo desclassificar e taxar de ‘escrevinhação’ – que me faz um bem que vocês não imaginam! E as senhoras e senhores são testemunhas disso, queiram ou não queiram. Vocês, assim como eu, gostam de ler histórias que tem começo, meio e fim.
Fim! Mas não acaba nunca. Daqui uns dias tem mais!
Bom fim de semana a todas (os)
Quirera Gourmet