Alterações da rotina geralmente deixam uma fotografia, ou uma expressão para marcar, retratar ou remeter nossa mente ao que alterou a “normalidade”. São símbolos, ícones ou marcas registradas que “valem mais que mil palavras”, diz o manjado bordão. Ao observar o mundo nesta segunda-feira, sete de julho de 2020 – que provavelmente será lembrado como “o ano da peste” – tentei achar algum sentimento que reflita o espanto e a insatisfação com o pouco caso, o desleixo e o menosprezo que “baixou” em muitos viventes desse planeta. Falo dos que não acreditam em Pandemia, aqueles que negam e até combatem a ciência e a evolução humana. E inventam desculpas esfarrapadas e ridículas para tentar justificar sua incompreensível negação em usar uma simples, barata e necessária máscara na cara. “Não uso. E daí? ”, escutei…
Esse “E Daí? ” – lançamento vocês sabem de quem – tem tudo para virar símbolo do descaso e da negação da Pandemia. Porque a rigor nem a ciência sabe com certeza que sequelas esse vírus poderá deixar, mesmo nas pessoas que foram contaminadas e se curaram, inicialmente sem maiores problemas. Poderemos ter, daqui há alguns meses ou daqui um ano uma nova onda de contaminação coletiva, ou uma segunda mutação do Novo Coronavírus. A rigor, ninguém pode dizer o que virá depois da Pandemia. Pode vir coisa alguma. Mas também podem vir coisas bem piores, ninguém sabe… “E Daí? ” Daí que sempre será melhor prevenir que remediar. Daí que quanto menos pessoas se contaminarem, menor será a multiplicação do vírus. E também menores serão os riscos de uma segunda e ainda mais letal onda de contaminação mundial, com alcances imprevisíveis.
“E daí? ” Que esse mundo tido como de Deus poderia sofrer radicais alterações e até, quem sabe, mudar de dono, ou virar algum lugar bem pior, onde talvez não seja mais possível ouvir a pergunta “E Daí”. Porque uma das respostas possíveis pode ser a terrível: “Aqui se faz, aqui se paga”. O pouco caso com a importância da vida está desenhado, nesta segunda-feira, nos números que apontam um totalmente indesejado aumento de casos, pelo menos em Santa Catarina, em Xanxerê e no Brasil. Na semana que passou o país registrou pela primeira vez cinco dias seguidos com mais de mil casos novos, por dia. E pela reação de muitos pregando a “volta à normalidade”, incluindo jogos de futebol – algo completamente dispensável – a reação de muitos brasileiros, incluindo xanxerenses no pacote, continua sendo um irresponsável e inaceitável, a estas alturas, “E Daí? ”
As razões que cercam a expressão “E Daí” devem ser estudadas, dissecadas e submetidas a todos os exames possíveis para se tentar identificar e fotografar, por dentro, o cérebro que consegue dar de ombros, deixar para lá, achar que é desgraça pouca e até rir e ironizar o medo que as pessoas tem de morrer…Se morrer, “E Daí? ”. Todo dia morre gente e todo dia nascem outras gentes, não muda nada, nem uma vírgula. Ah, mas se morrer alguém que você ama, um familiar, o melhor amigo, o que você vai achar? Bom, vou ficar muito triste, mas isso passa, sempre é assim, ninguém vive para sempre, nem fica para semente. É a vida, “E Daí”? Daí que poucos ainda se importam com “os outros”, é “cada um por si e Deus por todos” – alegam exatamente os mais apegados a religiões e autodenominados ou autopromovidos como iluminados e fiéis “tementes a Deus! ”…”E Daí? ”
Daí que Deus, como não poderia deixar de ser, sempre é colocado bem no meio das confusões que o ser humano arruma aqui neste planeta. E nesta Pandemia do novo Coronavírus, Deus pode estar repensando e reavaliando sua brilhante iniciativa em se diluir, se espalhar e de viver um pouquinho dentro de cada um de nós, e de todos. Se foi ele quem nos deu a vida, e se ele É a vida, … O que ele está vendo as pessoas fazerem com suas vidas – e principalmente o valor que as pessoas estão dando para a vida dos outros – deve estar deixando Deus bastante contrariado! Porém, mesmo com o Criador pê da vida com o descaso, ainda cabe, na atual lógica de muitos, a pergunta “E Daí? ”. Também é óbvio imaginar que alguns que se auto intitulam porta-vozes, ou ‘assessores de imprensa’ de Deus respondam que “Daí que Deus pode se irritar SÓ com os mais pecadores e castiga-los”! Ou seja: Os homens e mulheres tementes a Deus, os que garantem que não pecam mais, esses estariam salvos!
Daí o resumo da ópera poderiam ser velhos chavões do tipo “a humanidade está perdida”, ou que “não tem mais jeito, estamos caminhando para o fim dos tempos”… Mas ainda que fosse isso, a voz me persegue e continua atazanando: “E Daí? ”. E emenda: “ Se o mundo acabar, acaba tudo, sobra ninguém, é o fim de tudo e de todos, e é capaz de a gente nem notar! ”. E isso parece verdade, se o mundo acabar, ”E Daí? ”… nada poderemos fazer. Porém, se o mundo continuar ainda haveremos de ouvir “E Daí? ”. Então o resumo de tudo pode ser mesmo o “E Daí? ”. E nada mais importa, o universo ficou reduzido às quatro letras “E Daí”? colocadas entre aspas porque trata-se de uma citação literal do que alguém falou. Não confundir que esteja entre chifres, que isso é outra coisa bem diferente. Se o (a) amigo (a) leitor (a) leu até aqui, e não gostou, juro que não vou fazer a referida pergunta. Porque o “E Daí? ” espelha um tempo onde descobrimos que a ignorância, a desumanidade, a baixeza e a mediocridade humana são muito maiores do que imaginava a nossa vã filosofia…”E Daí? ”. Daí eu respondo que a coisa está ficando cada dia mais feia. E daí se agarre para não cair!
Quirera Gourmet