As vergonhas do Brasil voltaram a desfilar diante dos nossos olhos de paisagem tupiniquins. A região Sul, europeia, rica, educada, industrializada, tem o menor percentual de pessoas passando fome, de todo o país: Cerca de 6%. Para um país que se orgulha de ser o celeiro do mundo e que fatura bilhões todos os anos, exportando alimentos para o mundo todo, convenhamos que isso é uma vergonha gourmet. Ou top! Mas vergonha também é algo brega, de tão comum. E falar dela caiu em desuso não se toca nesse assunto na frente das crianças…
Um país tão rico ver crescer o volume de gente passando fome não é – infelizmente – nossa única vergonha. Ela é só a maior. Passar vergonha hoje em dia virou quase mania nacional, e pode destronar o futebol. Somos craques em vergonha, também: Nosso país tem 3% da população mundial, e já contabilizamos com 33% dos mortos pela Covid, em todo o mundo! E estamos com “tendência de alta”, para usar o palavrório dos adoradores do Deus Mercado. Mas é bom não “falar disso” com outros adoradores – os do despresidente do país! Melhor nem falar…deixa assim…
Outra vergonha diária por aqui é polícia batendo, ou matando inocentes. Todo dia tem notícia disso, e muitos esqueceram que polícias existem – e são pagas com dinheiro do povo – para proteger a população. Isso não inclui descer o cacete em inofensivos feirantes, ambulantes, negros, moto boys, e muito menos matar inocentes, incluindo crianças, com as assassinas e anônimas (quase sempre) “balas perdidas”. Polícias são para proteger a maioria e prender bandido, não para matar.
Outra desavergonhada prática é se queixar de que quando um bandido mata um policial, ninguém lembra de falar dos direitos humanos da vítima, o policial, ninguém faz passeata de protesto, ninguém “fala mal do bandido”. E isso é verdade! Direitos humanos servem, ou deveriam servir para proteger a todos. Mas especialmente e principalmente aqueles que não tem quem os defenda, o que obviamente não é o caso de policiais. Civis começam defendendo que policiais matem os bandidos. E daqui a pouco começam, os mesmos civis, a matar também…
Policiais pertencem a sólidas corporações, organizadas, atentas e atuantes, tem respaldo das leis – desde que respeitem seus limites – e sabem que a profissão que abraçaram é atividade de alto risco. Risco que também é levado em conta no cálculo de seus vencimentos, o que é radicalmente justo e necessário. Ninguém defende e nem deve defender bandido. Mas as leis, isso está escrito, são para todos, incluindo os bandidos. Não acha justo? Então lute para mudar a lei! Fazer justiça com as próprias mãos também é coisa de bandido…
Embora a discussão esteja quase chegando no outro lado do planeta, lá na China – e sem que muitos admitam que estão quadradamente errados – milhares seguem acreditando que 1) “ninguém morre de outras doenças” 2) A Pandemia é uma mentira 3) Cloroquina cura Covid 4) Tem vacina para todos os brasileiros e 5) Prefeitos e governadores estão roubando o dinheiro que o Bolsonaro manda para combater a pandemia.
Na verdade, 1) as mortes por outras doenças seguem normalmente, embora não sejam tão noticiadas, por óbvio, quanto as causadas pelo Corona vírus; 2) a pandemia acontece no mundo inteiro e no mesmo mundo ninguém mais duvida de sua existência, nem da sua gravidade; 3) Cloroquina – e outros medicamentos – além de não curar, ainda podem trazer sérios danos à saúde, principalmente se ingeridos sem acompanhamento médico 4) Faltam vacinas e é exatamente por isso que a vacinação “corre igual a tartaruga”, e as mortes aumentam todos os dias. 5) Prefeitos e governadores não estão desviando recursos da pandemia. E os números divulgados como sendo “dinheiro que Bolsonaro mandou”, na verdade são apenas os repasses normalíssimos, que acontecem mensalmente desde muito antes da Pandemia, e que sustentam todas as administrações estaduais e municipais. Se prefeitos e governadores roubarem esse dinheiro, estado e prefeituras param. E não se vê nenhuma prefeitura, nem governos de estado, parados!
Com tanta gente passando necessidades, incluindo fome, não se vê representantes eleitos (e bem pagos) pelo povo, de vereadores a presidente da república, passando por prefeitos, governadores, deputados e senadores, tomando a iniciativa de, por exemplo, fazer um fundo social, com doações de 2% ou de 5% dos seus polpudos salários para dar algum apoio aos que não tem nada, nem para comer. Existem eleitos que abrem mão de seus salários e eles são belos exemplos, sem dúvidas. Mas duvido que estes cheguem a 1% do total…
São verdadeiros muitos dos depoimentos e protestos de pessoas que reclamam e não aceitam o lockdown, o fechamento temporário de atividades, pois não teriam como sustentar suas famílias. Mas são maiores ainda os que reclamam de boca cheia, que podem perfeitamente ficar alguns dias sem faturar em suas empresas sem que isso os deixe sem comer, ou que precisem fechar suas empresas. Esses, acredito eu, acham que todo mundo é cego. Ou que somos todos uns idiotas…
Existem, sim, e ainda bem, muitas pessoas que ajudam, sempre ajudaram e vão ajudar, sempre, os que mais precisam, sem colocar isso no Facebook, no rádio ou na Internet. Porque exercer a caridade é diferente de fazer campanha política, faturar popularidade em cima da pobreza, ou polir o próprio ego, mostrando “como eu sou boa pessoa”…Ou porque “eu mereço ir para o céu”. Ajudar o próximo é um ato muitas vezes politizado, pelos fariseus e pelos hipócritas. “Ah, mas eles ajudam mesmo assim”, ouço dizer. E é verdade. Mas também é verdade que não tem aí muita solidariedade e nem fraternidade. Tem mais é interesses. E falsidade mesmo…
“Mentir para mim mesmo” é a novíssima moda de muitos brasileiros. Moda gourmet, inclusive, totalmente top! Facílimo encontrar nas redes sociais e ao vivo e a cores pessoas que, mesmo diante de muitas e incontestáveis provas e evidências – da Pandemia e fora dela – continuam insistindo em mentir para si mesmos. E não discuta com elas. Elas acreditam naquilo que dizem e pronto! Não mudam uma vírgula, mesmo diante de montanhas de evidências, provas e incontestáveis verdades… e é melhor deixar assim…Porque nada melhor que um dia depois do outro!
Às vezes temos a impressão que agora só se fala da Pandemia, das vacinas, do número de mortes, só se fala e só se tem notícia ruim – o que também é outra notícia falsa. Porque desde sempre, notícia – uma de suas definições – não é o cachorro que mordeu o carteiro, ou o vizinho. É o vizinho, ou qualquer humano, que morda o cachorro! E olha que isso também tem! Notícia boa é saber que a maioria dos infectados conseguiu se curar. Ainda bem! Graças a Deus, à Ciência e aos profissionais que trabalham com saúde pública. Mas notícia boa, todo sabemos, não dá tanto ibope quanto as ruins, ou péssimas. Exatamente aquelas que não queremos ouvir, ou que não gostaríamos que tivessem acontecido. Mas o mundo – e a vida – não é o paraíso. E este, se existiu por aqui, “a gente fomos expulsos dele… Tá ligado”???