Não assisto Big Brother Brasil por achar que é legítima perfumaria da Globo, desnecessária, cultura inútil e um ‘aperfeiçoamento’ da técnica das novelas: Garantir audiência discutindo o supérfluo…Mas não critico quem acompanha. E reconheço que o ‘bombardeio’ para capturar telespectadores é poderoso e eficiente, na TV e nas redes sociais.
Acredito, também, que o BBB na verdade promove e estimula um traço cultural muito difundido entre os brasileiros, de todas as classes: A Fofoca! Ficar sabendo o que as pessoas fazem quando ninguém está vendo é, sem dúvidas, uma das maiores taras dos brazucas. E outra tara nacional, igualmente poderosa, também é incentivada, sem nenhum pudor, pelo Big Brother: Falar da vida alheia…
É bem verdade que quem está no programa sabe perfeitamente e de antemão que é vitrine, está sendo vigiado e será espiado, fofocado, mal falado etc. Mas não há como negar que o seriado estimula e incentiva quem assiste a observar, julgar e condenar “os outros”. E mais: Dá ao telespectador a orgástica e prazeirosa oportunidade de eliminar os que forem julgados inconvenientes, ou antipáticos…A fórmula tem sucesso garantido!
E também oportuniza a falsa impressão de que os espectadores é quem decidem os rumos e o vencedor do programa, premiado com apetitosa soma em dinheiro, mais a fama! Ou seja, o Big Brother interage e dá poder ao espectador – algo que sempre foi o sonho de consumo de todos os programas de TV. Acredito que o BBB é a opção de programa de TV mais parecida com o antigo circo romano….
Na verdade é muito parecido. Se no circo a participação do espectador lhe dava direito a opinar até sobre a vida ou a morte do gladiador derrotado, no BB a morte significa ser eliminado da batalha pelo grande prêmio final. Porém, contudo…, na minha opinião a maior atração do programa não é quem será o vencedor. A grande atração na verdade é a fofoca, o espiar o que eles fazem ‘atrás das bombas’…
A curiosidade matou o gato – diz um dos mais velhos ditos populares. A explicação é de que lá na Idade Média os gatos eram associados às bruxas. E na caça a elas, quem morria primeiro era o inocente gatinho da bruxa…, mas a curiosidade é sem dúvidas uma das maiores molas propulsoras da evolução humana. O que não significa dizer que fazer fofoca seja um indício de pessoa evoluída…
Mesmo que a história da maçã que teria caído na cabeça de Isaac Newton seja apenas um trololó histórico, o fato dele ter ficado curioso e de se perguntar porque a maçã “não caiu para cima”, mostra que a curiosidade tem, com absoluta certeza, inúmeras participações positivas, ao longo da História da Humanidade. Daí pode-se deduzir inclusive um argumento positivo para a fofoca: O de se buscar saber ‘o que ninguém sabe’…
Não que isso enobreça a “arte” de se meter e de comentar a vida, os hábitos, as qualidades e os defeitos “dos outros”. Porque tal comportamento revela apenas o péssimo costume de se intrometer onde não se é chamado, ou de julgar o comportamento de outras pessoas, como se fôssemos deuses…um programa que estimula a gente espiar, opinar e julgar o que os outros fazem…pode até ser engraçado, mas treina fofoqueiros, no mínimo!
Pode-se ainda argumentar que há fofocas e fofocas, e que muitas não prejudicam ninguém, nem significam descabida intromissão da vida alheia, e isso também pode ser verdade. Muitas fofocas apenas fazem rir, ou geram admiração, ou críticas sem maiores consequências. Mas hoje em dia – reza a bíblia do politicamente correto – cada um deve ficar, permanecer e cuidar apenas do seu quadrado…
Não critico, nem menosprezo, quem acompanha o BBB, até porque isso seria um imenso e totalmente indevido julgamento. Cada um é dono do seu nariz, e também dono do seu aparelho de TV! Mas me reservo o direito de não gostar e de considerar um estímulo ao brasileiríssimo mau costume de “se meter na vida dos outros”. Algo que – falando bem a verdade – não precisa de estímulos de espécie alguma…
Sei que programas semelhantes ao BBB nasceram nos EUA e se espalharam pelo mundo, sempre com muito sucesso – o que comprova que todos somos iguais, ou muito parecidos! Mas me surpreendo com tanta gente acompanhando e comentando um teatrinho que não é teatrinho e uma realidade que também não é real. E aí também está a fórmula para o retumbante sucesso dos Big Brothers da vida: Vive- se a vida real, mas é um teatro; E faz-se teatro com a vida real…
É natural que o brasileiro ou qualquer outro povo deste planeta aprecie, acompanhe e aplauda novas formas de lazer e divertimento. Só gostaria de ver o mesmo interesse e a mesma preocupação com outros temas do cotidiano do brasileiro, e de qualquer outra população. Se destinássemos à solução dos nossos inúmeros problemas a mesma atenção que o BBB recebe, com certeza o mundo estaria bem melhor… É um sonho, mas sonhar, também é preciso…
Quirera Gourmet