Muitas práticas da política brasileira merecem severas críticas e deveriam, há muito tempo, ter sido definitivamente banidas do cenário. E não se trata de condenar apenas OS POLÍTICOS, embora eles sejam os réus principais e os grandes beneficiários das inúmeras maracutaias, jeitinhos e “estratégias”, desde a campanha até o exercício dos mandatos. A hipocrisia de maus políticos (a maioria) aparece como sexo explícito, naquele sentido da velha “pouca vergonha na cara”. Isso aos olhos de eleitores que têm a coragem de recusar, repelir e denunciar as mesmas péssimas e corruptas atitudes “consagradas pelo uso”. A estes eleitores (infelizmente ainda uma minoria), o meu aplauso e todo o meu incentivo para que sigam na incansável guerra para moralizar a atividade política. Sem galgar esse degrau e dotar o país de uma classe política digna e ética, nem com mais 500 anos o Brasil conseguirá “cumprir seu ideal” e tornar-se um orgulho para os brasileiros! E não são apenas os políticos que precisam evoluir e isso é óbvio (mas ocultado): os senhores e senhoras eleitores (as) também estão entre os “desavergonhados”. E somos nós, eleitores, os primeiros que devemos mudar…
Impossível citar nomes (o esquecimento de muitos provocaria graves injustiças), mas conheço muitos brasileiros e brasileiras que, com seu silêncio criminoso, sua omissão, ou com seu olhar de paisagem, são “sócios acionistas” do que existe de mais vergonhoso e condenável, entre os políticos. Tais eleitores ainda acham que enganam, mas eles apenas enxergam a realidade atual com olhos de 50 anos atrás… Para o público externo eles também condenam, com veementes discursos e impublicáveis palavrões, os inúmeros malfeitos da banda podre da política. Mas isso é só da boca para fora! Entretanto, graças – não sei a Deus ou ao discernimento crescente dos bons eleitores sobre essa realidade – também vejo nos olhos de políticos, poucos, por enquanto, o tácito e silencioso reconhecimento de que tais práticas vetustas e ultrapassadas de campanhas de dois ou três séculos atrás, não deveriam mais estar sendo usadas em pleno Século XXI.
Da mesma forma, escuto e enxergo opiniões e atitudes de eleitores que condenam e mandam para aquele lugar a corrupção. Mas só a CORRUPÇÃO DOS OUTROS. A do “nosso time” é claro, é sempre “limpinha”, devidamente higienizada com “álcool batizado”, que sequer tira a fedentina das vergonhosas falcatruas, promessas eleitoreiras e mentiras. Me divirto (porque rir ainda é remédio) e não vou parar de falar em corrupção durante essa campanha. Porquê? Porque é exatamente nesta época em que ninguém quer falar de falsidades e de corrupção. E corrupção, sabemos muito bem – é uma via de mão dupla. Mas nessa hora ninguém, “dos nossos” é corrupto, e a única preocupação é “ganhar a eleição” e “eleger o nosso candidato”. E para alcançar seu objetivo vale, literalmente, tudo. Principalmente dar homéricas e explícitas caneladas na honestidade e na cidadania. E que se lasque a ética, a lei, a correção, a honra e a dignidade. Tais eleitores tem escrito, bem grande, na testa: “Hipócrita!”. E em casos mais graves também pode-se ler “Fariseu”, ou “Mais falso que Nota de três”!
Na maioria das vezes, passada a eleição e empossado “o nosso candidato vitorioso” – sobre o qual se evitaram críticas e não se dirigiram olhares e análises profundas sobre suas reais intenções – começam as eternas, iradas e moralistas reclamações. Muitos se consideram traídos, outros, decepcionados e outros, enganados. Mas para todos esses comportamentos pode-se tranquilamente argumentar: NÃO FOI POR FALTA DE AVISO”! Ao ver – por exemplo – inimigos políticos (não adversários, inimigos mesmo!), de pouquíssimo tempo atrás abraçados, jogando confete e serpentina um no outro, num estranho carnaval fora-de-época, eu não consigo conter o riso. Riso amargo, mas ainda um riso… Também não consigo entender eleitores de ambos os lados, que passaram anos se evitando ou se odiando mutuamente, agora dizendo amém e votando em pessoas ou “esquemas” que, até há pouco, não queriam nem ver. E fazem isso na maior naturalidade, com ares tão inocentes que parecem ter levado uma paulada na cabeça. E perdido a memória e a razão…
Já pensei diferente, especialmente sobre a união de posições políticas e/ou ideologias antagônicas… Mas hoje não consigo acreditar nas palavras da maioria dos políticos que, repentinamente e sem um motivo(bem) razoável, pregam repentinamente um discurso de união entre quem sempre foi adversário. O PT, ex – aliado nacional do PMDB por mais de uma década, deve saber do que estou falando. Mas há outros e muitíssimos exemplos. Também não creio que todos, ou a maioria dos eleitores, irá pensar e acreditar “que bom, agora eles são amigos”, “somam esforços”, “estão acima das diferenças ideológicas”, “agruparam suas forças em prol da população”! BA-LE-LA! Parte dos eleitores já sabe que tipo de armação é essa. Geralmente por trás de tais geniais “estratégias” se encontram várias opções. E cito algumas, à escolha dos senhores e senhoras: A fogueira de vaidades pessoais; A sede interminável de poder; As carreiras políticas; Mudar para não mudar, e/ou pior ainda: intenções jamais divulgadas, muito menos admitidas. Trabalhar pela população? ESQUECE! Coisa mais fora de moda isso! E assim segue o Brasil, que muitos dizem (e só dizem) querer ver livre da corrupção. Mas continuam aplaudindo, aderindo e votando na velhíssima e falida política que temos hoje…
Resolvi abordar essa questão de eleitores X candidatos e sua convivência feliz com as ultrapassadas práticas da política nacional para focar principalmente os eleitores. Estes são quase unânimes em culpar os políticos pela corrupção endêmica do país. Mas eles, claro, sempre são santinhos, e são os críticos mais ácidos contra a corrupção, na maior cara-de-pau! Não me refiro aqui – nem especificamente, nem de longe – a qualquer eleitor ou candidato ou a qualquer coligação, de qualquer município. Os “Tratados de paz” entre correntes políticas adversárias, inimigas ou completamente divergentes são hoje uma ocorrência muitíssimo comum, no Brasil inteiro. Elas são adotadas tanto na direita quanto na esquerda da política nacional. E como era de se esperar, a massa de filiados e simpatizantes dos partidos envolvidos, majoritariamente, não aprova tais “soma de esforços em prol do município”. A demagogia e a artimanha contidas aí saltam aos olhos. E muitos não votam…
Tais tratados de paz são sucatas, caducos e decrépitos arranjos de conveniência indicados por observadores, estudiosos e por raposas de campanhas, visando, é óbvio, ganhar a eleição. E ao se colocar a vitória nas urnas como objetivo número zero, ”a qualquer preço” o atendimento às demandas da população, o planejamento e a execução programas de governo….automaticamente ficam em segundo, terceiro, quarto lugar nas prioridades dos eleitos! Ou nem ficam! Pior: Esse “ganhar a qualquer preço” sempre, invariavelmente, apresenta depois “a conta” da vitória. E de onde será que eles vão tirar a grana para pagar essa conta? Os políticos se queixam de que sua imagem está ruim, que nem todos são corruptos, etc… Mas a absoluta maioria deles, a quase totalidade, sequer tem a ousadia de tentar mudar suas práticas de campanhas. E entram em campanha só para ganhar, a qualquer preço, e do jeito que der. E aí mora o perigo! Darcy Ribeiro, um dos brasileiros que mais admiro, disse que perdeu muitas eleições em sua vida, mas frisou, e acertou na mosca: “Não gostaria de estar entre os vencedores”!
Muitos devem estar se perguntando quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha: “Se não ganhar a eleição aí mesmo é que não vai atender a população”! Isso é a pura verdade. Porém, numa eleição, sempre, a prioridade, a verdadeira meta, o foco, deve (ou deveria) ser oferecer ao povo uma opção de governo que possa ajudar a melhorar sua qualidade de vida. E deixa-lo escolher, sem “jeitinhos brasileiros”, boatarias e outras geniais ações de “estratégias políticas”. A meta dos candidatos deveria ser fazer um governo para construir uma vida mais digna, para todos, ou para a maioria! Mas essa meta é substituída por… “ganhar a eleição”! Vem daí, da ênfase em ganhar, ganhar e ganhar, que candidatos e eleitores esquecem – completamente – das maiores necessidades, descasos, injustiças e reivindicações do povão. O negócio é ganhar, “depois a gente vê o que vamos fazer”, prometem. O brasileiro, eleitor deve, ou deveria começar a votar como cidadão. E deixar de votar como torcedor do Grêmio contra o Inter, do Flamengo, contra o Vasco, ou da Chapecoense, contra qualquer um. Ganhar, nesse “jogo da política” não pode ser trocado pela certeza de votar na melhor opção para depositar a confiança, e o voto. Ganhe ou não, a eleição! Poucos, nessa hora, tem coragem de dizer: Vote livre e soberano. De acordo com sua consciência, não com sua conveniência!