Há um bom tempo, e com frequência cada vez maior, notícias avulsas e aparentemente sem nenhuma ligação desqualificam o decantado espírito humanitário e os sentimentos de solidariedade e fraternidade – até agora tidos como “nobres” do bicho Homem. Manifestação pública como a registrada na Alemanha, há uma semana, assumida por conservadores e ultradireitistas, incluindo neonazistas camuflados (na Alemanha qualquer divulgação de promoção ao nazismo é crime), protestaram contra as restrições impostas por conta da Pandemia, e chegam a duvidar e rejeitar da eficiência de vacinas, mostrando a expansão do pensamento negacionista entre a população, considerada uma das mais cultas e evoluídas do planeta. Ver o neonazismo a ponto de participar de manifestações públicas, mesmo de forma anônima, e ainda por cima na própria Alemanha, é algo digno de profundas reflexões sobre o momento atual.
Na matéria publicada pelo G1, pode-se ler nas entrelinhas a surpresa que o movimento causou: “Apesar de as infecções pelo novo coronavírus voltarem a aumentar na Alemanha, elevando os temores de uma segunda onda da doença no país, milhares de pessoas se reuniram em Berlim neste sábado (1) para protestar contra as restrições impostas pelo governo. A multidão era formada por uma combinação de grupos de extrema direita, pessoas contrárias à vacinação, defensores de teorias da conspiração e outros descontentes com as medidas para conter a disseminação do vírus. “Somos a segunda onda”, gritavam alguns manifestantes, enquanto outros pregavam “resistência” e classificavam a pandemia como “a maior teoria da conspiração”. Alguns carregavam cartazes com dizeres como “corona: alarme falso”; “somos forçados a usar mordaças”; “defesas naturais ao invés de vacinas” e outros que pediam a reinstituição dos direitos fundamentais. Segundo a polícia – segue o G1 – “em torno de 15 mil pessoas participaram do chamado “Dia da liberdade”, número bem inferior ao de 500 mil anunciado pelos organizadores. Poucas máscaras foram vistas em meio aos grupos que caminhavam do portão de Brandemburgo até o parque Tiergarten.(….). O nome “Dia da liberdade”, escolhido como slogan do protesto, remete a um documentário de 1935 da produtora Leni Riefenstahl que mostrava uma conferência do Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores (Nazionalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei – NSDAP), de Adolf Hitler”.
Outra notícia alarmante e com pouca ou nenhuma indignação percebida na opinião pública em geral chegou a sair na Globo, no Jornal Nacional, em pelo menos duas edições: Em São Paulo, dois moradores de rua morreram
após atendimento hospitalar, vítimas, de acordo com exames iniciais, segundo a Globo, de comida envenenada pelo conhecido “Chumbinho”, um veneno para ratos….! O que leva uma pessoa a envenenar comida distribuída gratuitamente, por ação voluntária, a moradores de rua? As respostas podem ser várias, mas com certeza passam pela cultura do ódio e pela “vontade de eliminar a pobreza” e pessoas “desagradáveis” com métodos claramente criminosos e desumano(para não dizer mais)! Dar comida envenenada a quem está com fome é de uma monstruosidade até agora comum apenas em filmes de ficção. Fraternidade? Sentimentos humanitários? Solidariedade? Nada disso interessa a quem pratica tal crime que – é bom frisar, não deve estar sequer incluído na lista de crimes hediondos. Sentimentos humanitários não apenas não interessam a essa gente como – com certeza – devem ser sentimentos e atitudes a serem combatidas e banidas da sociedade…Da mesma forma como a humanidade viu surgir movimentos em defesa de minorias sociais, ainda lá na década de 1960, hoje vemos aparecer, já sem nenhuma vergonha, pessoas dispostas a “acabar com a pobreza” e com minorias na base da violência e de ações criminosas, que cheiram à barbárie!
Costumo ficar “com um pé atrás” cada vez que vejo comerciais anunciando a “Santa & Bela Santa Catarina”, ou loas e baba-ovos ao estado classificado – a meu ver exageradamente, como um dos mais evoluídos do Brasil. Líder nacional na geração e exportação de vários produtos, dono de uma produtividade agrícola “de primeiro mundo”, o estado precisa, sim acabar com alguns, ou muitos, atrasos que negam e desmentem categoricamente aquela decantada posição de liderança. Neste caso igualmente – como acontece no Brasil – exemplos não faltam: Na noite de segunda-feira um telejornal estadual mostrou a libertação de trabalhadores contratados – e enganados – para trabalhar no plantio de cebola no Alto Vale do Itajaí, na região de Ituporanga. Trabalho escravo, no estado mais evoluído do Brasil?? Estado que tem uma economia moderna, próspera e diversificada…ainda tem trabalho escravo?? Tem sim! E não é a primeira vez, nem a décima vez, que isso é denunciado e emplaca nas páginas policiais. Todo ano tem disso…
E olha o detalhe: os trabalhadores foram atraídos por falsas promessas no município de Timbira, no PARÁ! Veja bem 1: Os chamados intermediários foram a um paupérrimo município nordestino para enganar e atrair trabalhadores com falsas promessas. A notícia, obviamente e como é comum acontecer no caso da “Santa e Bela ” mais uma vez omitiu o nome dos criminosos! É que talvez, quem sabe, vai saber…. eles sejam amigos, ou amigos de anunciantes da emissora de televisão. Um Estado que quer se orgulhar de sua economia não deveria permitir, muito menos omitir nomes de criminosos que, em pleno Século XXI lançam mão de trabalho escravo! E essa imprensa que dá meia notícia só tem uma definição: Ridícula! Se fossemos um estado e um país sério, tal barbárie exigiria a pronta atuação do Sindicato de produtores, federação de produtores e da própria imprensa, que jamais pode ser cúmplice ou varrer para debaixo do tapete um crime que – se não me falha – é classificado como hediondo. Mas, neste país agora o que não é AGRO, nestes tempos de desgoverno passou a ser da categoria “E DAÍ”??? Resta cumprimentar o Ministério Público do Trabalho de SC pela denúncia. Nas demais esferas cabe a pergunta: VER-GO-NHA-NA-CA-RA… CADÊ VOCÊ???
Sinceramente quando penso nessa maré de crueldade/desumanidade e barbárie fico com medo do que pode vir daqui há alguns anos, se continuarmos nessa “batida”. Chego a ter a impressão que os avanços da ciência, as maravilhas tecnológicas e a decantada evolução humana a caminho de uma vida mais confortável e menos penosa, fisicamente falando, tem como contrapartida darmos alguns passos atrás, regredir nos relacionamentos interpessoais. Ou seja: melhoramos em muitos aspectos do nosso dia-a-dia, conseguimos – por exemplo – conversar com outra pessoa, a vivo e a cores, em praticamente todos os cantos do planeta. Mas passamos a ignorar qualidades básicas e fundamentais para uma convivência harmoniosa com os muitos seres iguais a nós que nos rodeiam. Não sou adepto, nem propagador, do apocalipse. Mas muitas coisas estão saindo – para bem longe – dos trilhos do bom senso, da dignidade e da ética que prevaleceram até agora, na trajetória humana por aqui!