A confirmação, ontem à tarde do primeiro caso de pessoa portadora de Coronavírus em Xanxerê era previsível, mas serve para reforçar o alerta para manter todos os cuidados. Até ontem falava-se muito em insegurança, incertezas, indefinições…mas ao mesmo tempo o que se via todos os dias eram pessoas defendendo liberações, retorno de reuniões e de aglomerações de pessoas. E não há indicadores que justifiquem esse otimismo, menos ainda agora. O fato de só ontem ter surgido o primeiro caso diagnosticado de portadores de Coronavírus em Xanxerê pode ter várias interpretações positivas. A principal é de que conseguiu-se evitar por algumas semanas, e isso atesta que as medidas adotadas tiveram êxito. E que é preciso mantê-las e reforça-las. O aparecimento de casos ninguém deseja, mas seria ingenuidade achar que isso não aconteceria…
Na minha opinião dois motivos principais podem ser apontados para a estatística positiva de diagnósticos da pandemia em Xanxerê: A grande adesão ao isolamento praticada pela maioria da população nos primeiros dias de alerta para a pandemia e a correta atuação dos órgãos públicos na frente de trabalho – que está atuando muito bem, e merece aplausos! Outra razão pode ser o fato de não existir em Xanxerê empresas com 300 trabalhadores ou mais, como frigoríficos, por exemplo. Os casos que foram atestados até agora em Chapecó e em Concórdia apontam para essa possibilidade. Males que vem para o bem: O primeiro diagnóstico serve para alertar que ainda não é hora de “liberar geral” – tendência que, até ontem, era facilmente constatada por algumas manifestações feitas através da imprensa, em Xanxerê.
Não se trata de ‘torcer contra’, trata-se de continuar a se prevenir, prática que é a principal responsável pela situação favorável e sob controle até agora. E ninguém pode esquecer, também, de portadores assintomáticos. Era muito cedo ainda para achar que o perigo já passou – embora seja isso o que todos queremos. Assim, o mais importante é não baixar a guarda! O período de incubação do vírus – tempo que demora para quem entrou em contato com o Coronavírus apresentar sintomas da doença – é outro fator a ser considerado: Se alguém teve contato com o vírus, a doença poderá se manifestar dentro de sete a dez dias, mais ou menos. E essa conta já indicava que esta semana seria um período crítico para o surgimento de casos, considerando-se as liberações de atividades em Xanxerê, na última semana de abril.
É óbvio que as perdas de empregos, salários e renda causadas pela Pandemia trazem efeito cascata e afetam toda a economia mundial – e nenhum município ficará imune a isso. A queda de 50% no consumo mundial do petróleo é mais um indicador confiável do grande ‘estrago’ provocado nas atividades produtivas. Centenas, talvez milhares de navios petroleiros aguardam, estacionados em alto mar, espaço e locais para descarregar seus tanques. O mundo inteiro contabiliza perdas e essa deve ser, depois dos cuidados em preservar vidas, a principal preocupação de autoridades e da população. Que a economia vai se recuperar não há dúvidas, e que isso terá um alto preço também é uma certeza. Mas vidas não têm preço e nem são recuperáveis.
Escassa, porém muito bem-vinda foi a chuva que veio nos visitar ontem. Chegou calminha, bem-comportada e esperamos que se mantenha assim – e que dure pelo maior tempo possível, embora a previsões não sejam neste sentido. A economia de Xanxerê e do Alto Irani depende e muito da agricultura – a maior mola propulsora da região, que se ressente da maior presença de indústrias. A chuva de ontem, nestes dias de expectativas e incertezas “tomou ares” de um belo dia de sol, para tentar alegrar um pouco nosso deprimido astral. Imagens do Rio Uruguai quase dando para atravessar a pé e das cataratas do Rio Iguaçu com ralos fios de água, onde jorravam milhões de litros por segundo, são aterradores. Mas não serão suficientes para nos desanimar! Nem de desistir!
A grande imprensa brasileira, ou quase toda ela, e as redes sociais trazem, todos os dias, notícias na maioria digamos muito desagradáveis (para pegar leve) sobre o desgoverno que nos assola. Impeachment, renúncia, destituição servem para deixar o brasileiro mais triste e mais decepcionado ainda, não bastasse a pandemia. Muitos olham para trás e lembram que há cinco ou seis anos atrás o mesmo ou quase o mesmo bombardeio de críticas atingia os governos petistas e é verdade. A diferença desta vez é que as críticas são majoritariamente causadas pelo descaso – que beira a ignorância – com que o ocupante do cargo de presidente deste país trata não só a pandemia, mas a imprensa e a todos que ousam contestar qualquer coisa. Parece um imperador, mas não é! Respostas como “não sou coveiro”, ou “vai morrer muita gente, e daí? O que você quer que eu faça? ” revelam um grau de desumanidade e grosseria que não cabe, ou não deveria, caber na liturgia de um presidente do Brasil. E só leva a uma desconfortável conclusão: O despresidente está construindo a sua própria queda. Um governo desses não precisa nem de oposição!
Demonstrando novamente falta de traquejo na comunicação, Jair Bolsonaro voltou (ontem) a agredir a imprensa e, por duas vezes, Bolsonaro dirigiu-se aos jornalistas com o grito de “cala a boca”, ao negar interesse na troca da Polícia Federal do Rio de Janeiro. “Vai sair da superintendência para ser diretor-executivo da PF. Eu não tô trocando ele, isso é uma patifaria, cala a boca não perguntei nada, jornal patife e mentirosa, cala a boca. Se eu tivesse ingerência para a PF ele não iria para lá”, disse ele, após se reunir com apoiadores. “Canalha é elogio para a Folha de S.Paulo”, disse. Bolsonaro fez referência ao fato de que o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Souza, trocou a chefia da superintendência do Rio de Janeiro. Carlos Henrique Oliveira, atual comandante do estado, foi convidado para ser o diretor-executivo, número dois na hierarquia da PF (em nível nacional).(Fonte: Celeste Silveira/O Antropofagista – 05/05/2020)