Mortes de pessoas conhecidas ou amigas, ainda mais lamentáveis e entristecedoras que as demais, parecem ter assumido também agora o papel principal de frear as voluntárias e involuntárias tentativas de querer considerar que a Pandemia “acabou”. Verdade que as restrições de reunião e de circulação de pessoas atingiram o patamar do quase insuportável, e do muito estressante, mas o perigo não passou. E vem aí o final de ano, igual a tudo neste 2020, com todas as chances de ser diferente de todos os anteriores. Depois vem o tradicional período de férias, escolares ou não, onde a corrida para a beira mar enlouquece milhões de brasileiros.
Entre fazer o que se gosta de fazer e o que sempre se fez, e a recomendação expressa de não aglomerar existe hoje um muro chamado Pandemia, construído pelo Corona Vírus, mundo a fora. Pular ou ignorar esse muro deve se constituir no esporte preferido dos brasileiros no verão que se aproxima. E não acredito que mesmo uma indesejável segunda onda de casos apavorando alguns países europeus, como a Espanha, tenha força, desta vez, para manter no verão, as pessoas isoladas em casa. E enquanto isso, as previsões de vacinas disponíveis até o final do ano aqui no Brasil, sumiram do mapa e do noticiário.
Falamos muito nesses sete meses e pouco de Pandemia sobre as mudanças que o Corona vírus trouxe ou trará, para a população em geral, e das pessoas em particular. Olhando assim por cima a maior delas nas ruas é o uso de máscara, embora aos poucos já se note que muitos preferem não usar mais…. Outra mudança visível é que os amigos que encontramos ao virem nos cumprimentar não vem mais com a mão espalmada, para o antigo aperto de mãos. Isso mudou para um punho fechado que se toca no punho do amigo. E os afetuosos abraços, parece, foram totalmente abolidos, ao menos por enquanto. Nos restaurantes que vendem refeições por peso, os fregueses agora usam luvas, ao servir seus pratos.
Nos supermercados alguém na entrada borrifa nossas mãos com álcool, ou há um frasco a disposição. Nas lojas, bancos e estabelecimentos comerciais, as filas indicam que ainda existe a preocupação em não aglomerar. Mas nos bares a lotação menor do que a permitida antes já está sendo aos poucos ignorada. É uma tendência natural, com o tempo, as pessoas passarem a relaxar nos cuidados, ou protocolos estabelecidos, e isso não é bom, mas está acontecendo. Outra mudança visível é que diminuíram as muitas reclamações que existiam sobre os serviços públicos de saúde, especialmente o SUS.
Mas se há atitudes novas, ainda existem também antigas e nada recomendáveis reações que antes mesmo da Pandemia já constavam da lista do “Fuja”. Uma delas, talvez a principal, é a ainda muito frequente reação de pessoas contrárias a tomar vacinas. Teorias de conspirações, e temores potencializados por religiões que desprezam a ciência – e acreditam somente em milagres e graças divinas – são molas propulsoras da reação anti-vacinas, dentro da grande moda ou onda do tal negacionismo. Renegar conceitos exaustivamente comprovados e aprovados no mundo todo e pela ciência, por incrível que pareça, parece que ganhou forças…
Mas talvez a maior vitória no Brasil, na guerra contra a Pandemia, ainda deve ser o fato de que raríssimos ainda fazem pouco caso, ou não acreditam na doença causada pelo novo Corona vírus. No início da Pandemia era bem mais fácil encontrar pessoas que nem a pau acreditavam que a doença não era “só uma gripezinha”. Hoje ainda existem, mas diminuíram bastante. Por enquanto ainda são raros e/ou pouco divulgados os casos de pessoas que adquiriram o vírus pela segunda vez. Mas essa possibilidade existe em outros países e não se pode garantir que não venha a acontecer por aqui, o que também ninguém quer. Mas…
Também pode-se constatar que apesar do pessimismo de muitos lá no início de tudo, a economia não quebrou. Caíram vendas e negócios, diminuíram muitos tipos de transações, muitas empresas fecharam suas portas e também muitas outras conseguiram se adaptar. Mas a maioria sobreviveu. Fiquei sabendo de transportador, por exemplo, que se adaptou muito bem, depois que competições esportivas foram canceladas. Ao invés de transportar atletas para eventos – e aproveitando o cancelamento de linhas de ônibus coletivos estaduais e interestaduais – ele passou a levar passageiros a Floripa ou Curitiba, com lotação menor no veículo. Conseguiu, ao menos, tirar o seu faturamento do zero. E não tem queixas…
Soluções criativas sempre aparecem ou são descobertas, em situações de restrição social como a de agora, embora é claro, a situação não favoreça os negócios de ninguém. Ou de quase ninguém: Ficando mais em casa, por exemplo, deve ter aumentado a venda de ingredientes e de alimentos prontos em supermercados, a venda de gás de cozinha idem, e crescido também os gastos com energia elétrica, água e telefone. Alguns benefícios também já foram apontados na imprensa em geral; Com medo do que poderia ou poderá ainda vir, o consumo de bens supérfluos também foi reduzido. Famílias com filhos na escola, agora sem aulas, também devem ter reduzido gastos…Há melhorias e também pioras, como seria razoável esperar…
Mas não era isso que a maioria pensava, no começo. O pânico, se não chegou a grassar solto em toda a comunidade, conseguiu assustar em determinados momentos. Prevaleceu o bom senso e, mesmo com muitas mortes, lamentáveis, que poderiam ter sido evitadas, podemos dizer que a reação média do brasileiro na Pandemia foi positiva. Especialmente considerando o corre-corre, o mimimi e o disque-disque que nos cercaram, no início. Não nos salvamos todos, como seria o ideal. Perdemos pessoas queridas, muitas tiveram suas vidas encurtadas pois o vírus se somou aos problemas e doenças que já acometiam essas pessoas.
Ainda não vencemos a guerra, mas ganhamos importantes batalhas. E isso nos permite acreditar que ainda conseguiremos dizer, ao final, que conseguimos evitar males maiores. E igual a toda situação de perigo em que a vida nos coloca, a experiência de resistir a uma Pandemia foi, em grande parte, assimilada. Aprendemos. Ainda não temos nada a comemorar. E, portanto, não dá nem para pensar em baixar a guarda. Se aguentamos até aqui, custa menos continuar tomando as precauções recomendadas, para a saúde de cada um e de todos!