O cigarro foi substituído pelo telefone celular, diz a internet, e observando por aí é fácil notar hoje que o número de pessoas ‘fumando’ o celular é muito maior que o de pessoas ‘pitando’ seu cigarrinho. Na condição de ex-fumante e típico usuário de celular, a troca é vantajosa, em termos de saúde. Mas sem querer defender o tabagismo, dá para dizer que ir ali fora para fumar um cigarrinho é mais sociável do que focar toda a sua atenção no celu. Com um cigarro pode-se observar o que se passa, conversar com outras pessoas, conferir o ambiente, ver, ouvir, falar e interferir no que se passa. No celular, mãos, olhos e ouvidos ficam centrados na telinha…mesmo que essa telinha possa trazer o mundo todo, ou quase, para dentro do nosso universo de percepção. Tragar o cigarrinho não enche de informações, só enche de fumaça! O celular aprisiona todos os sentidos e movimentos, isola o vivente do meio em que ele se encontra. É ele e o mundo. O que está imediatamente ali, ao seu lado, fica em segundo plano, até despercebido.
Dizem que a necessidade de satisfazer seus desejos impulsionou o ser humano à vida gregária, em grupo ou em comunidade, onde pessoas se reúnem com outras pessoas com quem tem alguma afinidade e com quem dividem problemas comuns. Na realidade de agora dá para notar que o dito “cada um por si e Deus por todos” parece ser a opção mais adotada: Reunir pessoas e tentar fazer um grupo agir coletivamente dá trabalho e em muitos casos é impossível, ou muito difícil…Vai daí que pensar e agir coletivamente parece estar caindo em desuso. Atingimos um hipotético grau de autossuficiência que nos damos ao luxo de pensar que podemos resolver tudo, sozinhos! É cada um por si, pois “o mundo está em nossas mãos”, bem ali no celular. E está mesmo, porém nesse mundo podemos olhar e dar nossa opinião, e nada mais que isso. Já em grupos, coletivamente, ainda é possível (pensar em) tentar mudar o que nos rodeia. No celular podemos aprovar ou condenar o que vemos e ouvimos. Interferir ou tentar mudar aquilo é impossível!
Não se discute se é melhor fumar ou grudar no celular (ou tentar fazer as duas coisas juntas). O que me atenta é a ilusão de que sozinhos, “cada um por si e Deus por todos”, consigamos melhorar a vida de cada um e melhorar a vida da maioria, ou melhorar o mundo, nem que seja só um milímetro… O bicho Homem ostenta com tal intensidade sua superioridade, sua tecnologia, sua sabedoria, seu modo de vida, que está deixando de pensar em termos coletivos, numa sociedade ou num grupo que, unido, busque melhorar a vida de todos, ou da maioria. A moda é resolver tudo sozinho, e de até – olha o perigo – fazer justiça com as próprias mãos! No alto da “nossa inteligência” e de nossa incontestável e arrogante liderança no mundo mineral, vegetal e animal – principalmente com a Internet na mão (via celular) – nós sabemos tudo, sobre qualquer coisa. E nos achamos no direito de dar pitaco desde a opinião do vizinho até naquilo que o Papa, ou um físico nuclear resolvem dizer ou fazer…Mas não sabemos e não colaboramos para resolver o problema da violência, do uso de drogas, dos buracos de rua ou da falta de médicos na nossa cidade, ou em nosso bairro!
Aí leio que querem acabar (a bala!) com os indígenas brasileiros, igual os norte-americanos (quase) fizeram com os deles…E antes de achar qualquer coisa, lembro que índios sobreviveram na América e no mundo durante milhares de anos, não extinguiram – com sua ação (voluntária ou não) nenhuma espécie de animal, não poluíram o ambiente, nem esgotaram ou danificaram suas fontes de vida, de alimentos e de energia. Guerreavam e se matavam entre si, é verdade. Mas criaram seus filhos, tinham tribos, famílias e até nações, sobreviveram, em grupos maiores ou menores. E não tinham celular, nem internet, embora tivessem sua “tecnologia” de caça, pesca e até de cultivos de alimentos! Sonhando em pleno dia? Pode ser…Mas me divirto pensando na possibilidade de o “ civilizado homem branco” acabar destruindo o planeta, ou quase toda a terra, e lá nos fundões da floresta amazônica sobre uma tribo, caçando e pescando. Criando os filhos e rindo de quem achava que índio só “queria apito”… Índio não é tão burro quanto a maioria pensa! E agora eles têm celular, também! Outra: Chamam índio de vagabundo, porque não trabalha…Acontece que essa é a cultura deles, o extrativismo, foram educados para ser assim. Quem foi educado para trabalhar, ganhar dinheiro e deixar no banco fomos nós, os “civilizados”…