Em 1954, quando Xanxerê virou município (abrangendo os atuais municípios de Abelardo Luz, Bom Jesus, Ipuaçu, Ouro Verde e Faxinal dos Guedes) seu território abrigava cerca de 30(trinta!) Serrarias. Por aí dá para calcular o tamanho dos pinheirais… Elas ficavam em terras vendidas pelas colonizadoras – que nunca tiveram “a fineza” de saber, e nem tinham porque, pois, a ordem era colonizar, desenvolver – se aquelas matas abrigavam índios, ou caboclos fugidos da Guerra. Vem daí o fato de que não raramente madeireiros cercavam-se de “seguranças” (à época chamados de capangas) para assegurar a posse de toda a terra que compraram, legalmente na maioria das vezes, ou não. Vai daí que o apelido “Capital do gatilho” não deve ter origem muito distante da história da região. Na minha infância ouvi muito falar de Raul Teixeira, considerado à época um bandido, pistoleiro de aluguel, matador. Adílio Fortes, primeiro prefeito eleito de Xanxerê, me contou: “Raul Teixeira me conhecia e um dia quando eu chegava em casa vindo da prefeitura, ele parou seu cavalo, apeou e me disse que alguém queria contratá-lo para me matar, mas ele não aceitou porque gostava de mim”.
Perguntei ao professor (indígena e Kaingangue) sobre os botocudos que viveram por aqui, segundo seu relato, antes da chegada de Rondon, o que foi feito deles? A resposta foi surpreendente: “Você sabe aquela imbuia grande que tinha lá no Toldo Velho? Pois lá nós enforcamos o último botocudo”! Segundo o professor a pergunta que eu fiz também fora feita por ele, muitos anos atrás, ao então cacique Kaingangue da Terra indígena chamado Pedro Pica-pau, que lhe respondeu revelando o enforcamento do último botocudo. Ainda segundo o professor, Rondon quis pagar aos Kaingangues e Guaranis pela “assessoria” contra os botocudos, e ouviu deles que o pagamento deveria ser em área de terra, de 150 mil hectares, situada entre os rios Xapecó e Xapecozinho, limitada pelo traçado da própria estrada da linha (mais ou menos o mesmo traçado da SC de Abelardo Luz a Xanxerê), até o encontro dos dois rios (onde hoje está o município de Entre Rios). O governo brasileiro aceitou a proposta, mas a área jamais foi demarcada. Madeireiros e a ocupação branca reduziram o território para os atuais 15 mil hectares, 10% dos era o combinado…
Em pleno século XXI é inadmissível que se continue derrubando árvores – agora na Amazônia – para tirar madeira e criar bois (o solo da Amazônia não é próprio para a agricultura…). O Brasil possui terras desmatadas (e ociosas) o suficiente, sobrando até, para criar bois e produzir grãos. Não é preciso mais desmatar,derrubar árvores. E matas virgens, com a tecnologia atual, podem render muito mais empregos, riquezas, impostos e conhecimentos se forem mantidas intactas. O passar dos anos também revelou, através de estudos, pesquisas e o uso de tecnologias que os tais “bugres” não mereciam ser chamados assim! E nem eram tão “selvagens”, pois não morriam de fome criavam seus filhos e preservaram suas riquezas! Eles são até hoje alvo de catequizações e “branqueamentos” levados a cabo por governos, e ainda agora por igrejas. Indígena não é nem quer ser capitalista, nem socialista. E nem branco! Quer ser o que já é: Índio, há milhares de anos. E isso é um direito deles! Foi assim que eles preservaram as matas e a natureza. Matas e natureza que nós, brancos, “cultos”, “tementes a Deus” e descendentes de europeus – invasores, portanto – sob a alegação do “progresso e do desenvolvimento” destruímos por aqui! E continuamos destruindo, agora na Amazônia…