Conseguir hoje acreditar que as coisas vão melhorar, que a Pandemia vai passar já-já e que a economia e o Brasil vão crescer é parecido com acreditar que a Terra é plana. Não há no horizonte qualquer sinal de que isso possa ser verdade. Com representantes do povo contra o povo e vendida aos interesses dos que mandam – os donos da grana…. Com um governo de costas – e correndo para bem longe das soluções que o povo pede…E com um povo apático, anestesiado por novelas, futebol e BBB’s, acreditar que as coisas vão melhorar é a mesma coisa que acreditar que a Terra é plana! Para piorar o novo presidente do Congresso, chefe do Poder legislativo, eleito com apoio do despresidente do Brasil, é réu em processo por corrupção. Ficou famoso por agredir a ex-mulher, na frente dos filhos, por mais de 40 minutos.
Mesmo assim o brasileiro da classe média, a maioria, ainda consegue por enquanto sustentar sua família, ganhar seu dinheirinho, pagar as contas, assistir o Big Brother, chamar o Lula de ladrão e achar que os militares são a solução mágica, para tudo. E aí mora outro obstáculo para que esse país “tome jeito”: O povão não tem a dimensão, não conhece e nem tem interesse de saber como eleger políticos que trabalhem honestamente e, principalmente, coloquem acima de tudo não as orações a Deus, mas os urgentes interesses da maioria da população: Educação, saúde, trabalho. Os militares recentemente mandaram no país por mais de 20 anos, e devolveram o poder aos civis com o Brasil em forma de “pena e bico”! Mas hoje já tem cego achando que os militares sabem governar…
Esse mesmo povão acredita em salvadores da pátria e reza, pede, implora para Deus resolver todos os seus problemas, inclusive a histórica falta de trabalho bem remunerado. Aí acusam o brasileiro de não saber trabalhar…E quem ensina? A que custo? Não é que os brasileiros, a maioria deles, sejam vagabundos, ou não gostem de trabalhar. Nada disso. O brasileiro de ontem, anteontem, de hoje e, pelo jeito, de sempre, peca por acreditar que só os políticos é que devem se preocupar com a política. Esperam que tudo caia do céu, e não estamos falando de chuva, nem de raios ou tornados. Ninguém cobra dos representantes eleitos a palavra empenhada antes da eleição, mesmo de vereadores.
Um sinal muito pequeno, quase invisível, de que essa passividade, preguiça e anestesia pode mudar são as críticas recheadas de palavrões, ofensas e também de inverdades que passaram, há pouco tempo, frequentar as redes sociais. São manifestações marcadas mais pelo ódio do que pela crítica serena, racional e bem fundamentada. É um aviso, perigoso! Isso não é pouco, pois trata-se de um grande avanço, em relação há alguns poucos anos atrás. Há pouco tempo era comum ouvir, de homens e mulheres, a sentença: “Não gosto e não falo de política…”. Esses hoje, falam, ou melhor, xingam! Política não é questão de gostar ou não gostar. Ela está em tudo o que fazemos. E muitos estão começando a enxergar isso…
Os que não gostavam de falar em política não apenas não falavam como, em muitas eleições, por décadas, votaram e elegeram candidatos que não valiam o que comiam e não mereciam ser eleitos. Candidatos sem a mínima intenção de trabalhar pelo coletivo, por todos. Queriam apenas “levar vantagens”, viver a custa de todos…. Candidatos que estava apenas em busca de viver bem, usufruir das famosas mordomias, trabalhar quase nada e, nas horas em quem ninguém estava olhando, meter a mão na cumbuca! Foi nesse “caldo político-cultural” que se criaram os monstrinhos que hoje governam esse país, com raras exceções!
Umas das mais recentes e mais sofisticadas falcatruas, roubalheiras, dessa turma de mamateiros profissionais, tratados a leite condensado, com mestrado e doutorado, é a tal “Rachadinha”. Uma invenção perfeita, e uma criação iluminada: Com elas, eleitos e eleitores se associam na roubalheira. E ninguém reclama. Se alguém reclamar, é só empregar ele, ou um familiar, numa Câmara de vereadores, Assembleia legislativa, ou Câmara de deputados, com belo salário, e propor ao indignado que ele devolva ao “patrão” parte do que lhe é pago. E que ele cale o bico! O ex-indignado “cidadão” passa a defender, com unhas e dentes o seu “chefe”. E vira onça ao criticar “os corruptos”!
Tenho amazônica certeza que não estou falando nenhuma novidade, mas não paro de falar… Afinal, parece que já na Bíblia dizia-se que “todo homem tem seu preço”. Vender o voto é uma atitude deplorável…. mas só quando o voto foi vendido para o candidato adversário. Quando aquele corrupto eleitor e péssimo cidadão vende seu voto para “o nosso candidato”, nada a declarar! Cala a boca, que em boca fechada não entra mosca. No Brasil, mais que em qualquer outro país do planeta, a versão de que “os culpados são os outros” é uma verdade irretocável! Todo brasileiro é um santo… Até que a ele seja oferecido alguma “vantagenzinha miúda”, “coisa pouca”, que “não vai fazer falta a ninguém”. Ai torna-se uma pessoa de bem, ferrenho adversário de corruptos…
Diante dessa tragédia – que ninguém admite combater, denunciar, ou discutir – fica mais fácil entender porque o Brasil e os brasileiros chegamos onde chegamos. Ou melhor, na merda onde estamos! E com claríssima tendência a ficar pior… Daí, resta – diz a maioria – ir levando, tocar o barco, deixar estar, “porque os políticos não vão colocar comida na panela lá de casa”. Combato e condeno, sempre, os maus políticos. Mas quando penso nas pessoas que votam neles e depois esquecem de tudo, fazem vistas grossas para as falcatruas e passam a defendê-los…me dá vontade de rir! Porque são geralmente esses mesmos os que se mostram mais indignados. Mas só da boca para fora, ninguém toma atitude alguma. Só papo, garganta! E de boas intenções – dizem, já que falam tanto em Deus – o inferno está cheio!
É óbvio, também, que existem muitos brasileiros que já enxergam uma luz no fundo dessa fossa imunda onde nos encontramos. E o que se enxerga lá no fundo do buraco – e estamos a caminho dele – muitos (ainda) não acreditam: Com eleitores majoritariamente mal informados e manipulados, quando não falsos, interesseiros e desonestos…. Com uma classe política majoritariamente profissional em corrupção e em jeitinhos muito bem arranjados – para assaltar os cofres públicos – não precisa ser vidente, nem profeta, para antever que estamos caminhando para o abismo. E a corda, sabemos bem, sempre arrebenta na parte mais fraca. Ontem li notícia que três caminhões foram assaltados num subúrbio do Rio de Janeiro. Os assaltantes ou melhor, a população, dividiu a carga, de …alimentos! Enquanto isso, no Congresso nacional a deputada Flor de Liz – com tornozeleira eletrônica, que a soltou da cadeia, acusada de matar o marido – é cotada para ter cargo na mesa diretora, em defesa da mulher! Esse é o Brasil, e vai piorar!
O Brasil de Darcy e Millôr
A maioria da elite econômica e política desse país, em geral, herdou – e alguns ainda tentam manter – a escravidão. Com pouco mais de cem anos de sua abolição (no papel!), a escravidão ainda tem muitas sequelas, e grandes. Para negar isso inventou-se a meritocracia: Se pobre quiser vencer, que trabalhe, dizem, chamando o brasileiro de vagabundo… A recente “reforma” trabalhista retirou importantes e históricas conquistas de assalariados, em troca de – os empresários prometiam – mais empregos e melhores salários! Fake News! Não há empregos como prometeram, e os salários…ó! O grande brasileiro Darcy Ribeiro, sociólogo saudado como ”Gênio da Raça” – para mim um dos maiores pensadores deste país, foi bem claro. E por isso é odiado, por muitos: “O Brasil tem uma classe dominante ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir para frente”! Já o humorista, escritor e autor de teatro Millôr Fernandes deu na veia: “O futuro do Brasil tem um imenso passado pela frente”! Ou seja, a “descoberta” que a elite brasileira é vanguarda do atraso aconteceu há muito tempo…