As duas primeiras décadas do Século 21 passaram voando, a cada ano o Papai Noel chega mais cedo, os dias estão cada vez mais curtos, o tempo não para. Dizem que com a idade essas sensações de sempre se tornam mais perceptíveis, como a nos lembrar que – os com mais de 60 – já não estamos mais no começo, nem no meio do caminho. Já rodamos mais da metade da vida e essa é a mais antiga certeza que temos…
Final de ano é tempo de reflexões, balanços e planos, a começar pelo principal: Continuar vivo! No início da via esse importantíssimo projeto – se manter vivo – era compulsório, passava sem se notar. Mas ao vermos gente mais moça que nós se despedindo dessa e partindo para outra vida, impossível não agradecer a Deus por estarmos por aqui, lépidos e fagueiros…
A Pandemia me deu um novo ângulo para enxergar a vida. Dizer que ela é um sopro, uma leve brisa que apenas, mal-e-mal nos revolta o cabelo e se vai, parece uma definição cada vez mais real e mais perfeita. Amigos que estiveram conosco durante décadas somem sem nem mesmo nos dar um tchau, sem ficarem velhos, nem doentes. Morrem, de repente. Só isso…
De um lado vem a vontade de viver e fazer o que nunca vivemos, como se isso também fosse uma simples vontade. De outro vem a confirmação que somos grão de areia, ou somos pó e ao pó voltaremos. Não sejamos negativistas a ponto de dizer que nossa passagem por aqui foi o mesmo que nada, porque não foi! Também não mudamos o mundo, mas sobrevivemos a ele, por bom tempo.
Portador de modestas ambições e exíguos sonhos, me encontro na tribo dos que nunca tiveram muita pressa. E no clã dos que viveram de bem com a vida. Mesmo, é claro, com óbvias e necessárias passagens por tsunamis, tornados a acidentes de percurso, que renderam histórias, causos e situações que alguém, quem sabe, poderá um dia lembrar e contar aos que vierem depois. Se não for lembrado, valeu pela aventura!
Por conta dessa paz interna que sempre me premiou, optei por viver essa parte da vida no lugar onde nasci e me criei. Porque aqui me sinto bem, e porque aqui, penso eu, é o meu lugar. Pretensioso, acredito que uma parte do mundão velho de Deus eu carrego comigo e com as minhas caraminholas. Há muitos lugares que gostaria ter visitado, a começar pela Bahia que, pode ser, um dia eu ainda vá!
Orgulho mesmo eu tenho é dos bons momentos que passei em família e entre os amigos. E de algumas artes& peripécias e aventuras hilárias, com algum fundo de utopias a enfeitar o cenário. Nada fora de série, nada do outro mundo, mas bem agradáveis, risíveis e até gargalháveis. Porque o bom humor é o melhor dos estados de espíritos, e um santo remédio para as – sempre indesejáveis – amarguras da vida!
Fiz muitas escolhas, e na maioria delas não tenho motivos para me arrepender. E faria tudo novamente, sem tirar nem por. Admiro sempre a musa d’O Pasquim, nos anos 70, Leila Diniz, que disse certa vez uma frase que jamais esqueci: “Só me arrependo das coisas que não fiz”! E mesmo das que me arrependo, quando penso nelas consigo sorrir, e tirar boas lições das pisadas no tomate!
Na política, usando a régua mais habitual, “perdi mais eleições que ganhei”, embora nunca tenha sido candidato a nada. Mas sigo o mestre Darcy Ribeiro: Não me sentiria bem, nem teria orgulho algum, em estar ao lado dos que venceram. O cenário que nos rodeia não é o que seria real – e é muito pior, caso tivesse conseguido eleger os candidatos em quem votei, e perdi.
Não me julgo melhor que ninguém, ao fazer esse balanço. Porque penso que a maioria também tem essa vivência, embora alguns não queiram, ou não consigam, enxergar assim. É lógico que não me refiro às pessoas que definiram grandiosos projetos para suas vidas, ou aos que bravamente lutaram, mas não conseguiram atingir as metas a que se propuseram…cada um tem a sua régua e o seu compasso. E é direito de cada um e de todos, traçar, com eles, o seu caminho!
Lamento, com sinceridade, os que eventualmente desperdiçaram sua vida aqui na terra para tentar diminuir, ou prejudicar os outros, ou simplesmente ser melhor que todos. Sempre busquei fazer o melhor, mas sempre reconheci, elogiei e aplaudi quem se saiu melhor que eu, quem chegou ao topo da fama, da riqueza ou da felicidade. Não os invejo, os felicito e expresso meu reconhecimento, sincero. Fico feliz quando vejo gente feliz! E isso sequer é um sentimento nobre, ou digno de qualquer elogio. É um sentimento humano…Pelo menos foi isso que me ensinaram, ou o que aprendi!
Aprendi, também, que os melhores momentos e as melhores sensações da vida podem estar – e muitas vezes estão mesmo – no que chamamos que pequenas coisas! Mas nem por isso acho errado quem aprecia as grandiosidades, o muito, o que não dá para se avaliar, nem medir. Penso que viemos ao mundo para sermos felizes. E acredito que a busca da felicidade nos é oferecida por inúmeros caminhos…Basta que escolhamos o nosso e sigamos em frente, na luta, em busca da felicidade!
Um bom final e semana a todos (as)!
Quirera Gourmet