Lembrar de eleições municipais em Xanxerê não é um exercício edificante, se tentarmos resgatar fatos que tenham chamado a atenção ou ficado famosos…. Não sei se em outros municípios a marca de compra & venda de votos seja um acontecimento tão frequente quanto aqui. É muito provável que aconteça em todo o Brasil, porém aqui sua frequência é muito alta… Fora isso também tivemos outros casos que não engrandecem a história do município, mas, para ser honesto com a história, igualmente não devem ser esquecidos. Tivemos um falso atentado, à bala, contra candidato a prefeito – que acabou ganhando a eleição; o fechamento de uma emissora de rádio, por 24 horas, por ordem do Juiz eleitoral, que flagrou propaganda eleitoral, quando ela não era mais permitida. E pessoalmente ouvi de um candidato a prefeito, derrotado, que disse com todas as letras: ”perdemos porque faltou dinheiro na reta final, para comprar mais votos”. Também flagrei, há muitos anos, ao vivo e a cores, um poderoso empresário com os bolsos cheios de notas de cruzeiros, comprando eleitores em plena rua, a poucos metros de uma seção eleitoral…
Faz tempo que faço questão de trazer fatos pouco ou nada recomendáveis, e não pretendo abandonar esse mal-amado hábito. Mesmo que ouça – como ouvi de novo, esses dias – a observação que é preciso parar de “falar mal de Xanxerê”. Não acredito, nem posso admitir como razoável que se trate fatos reais com a generalização de que isso é “falar mal”. Não é. Isso é contar a verdade sem meias palavras e sem omitir a realidade, é escrever a história como ela é, como de fato aconteceu. A hipocrisia de querer lembrar apenas das “coisas boas” equivale a esconder grande parte da história que, como estamos cansados de saber, é feita de bons e maus exemplos, todo santo dia. E por falar nisso, também é bom admitir que há muito e pelo menos até onde a vista alcança, ninguém mais é santo. Relembrar a banda podre, de qualquer cidade, serve de alerta a maus cidadãos e a viventes que se acham mais espertos e inteligentes que a maioria. A verdade pode demorar a aparecer, mas sempre vai aparecer, doa a quem doer. Somos donos dos nossos próprios narizes, podemos fazer o que acharmos melhor, mas é bom não esquecer que somos responsáveis por nossos atos.
E ao contrário do que alguns acreditam, gosto muitíssimo de falar bem da cidade onde nasci e onde pretendo viver até quando for possível. Faço isso desde os 14 anos, quando fui estudar em Curitiba, e virei mais um alvo daqueles que chamávamos de “curitibócas”. Ainda não tinham definido bullying, mas nós, “catarinas” éramos seres de segunda categoria por lá. E se falasse que era de Xanxerê, piorava: “Xanxerê, Xaxim, Xapecó”?? As gargalhadas e as ironias eram acompanhadas de comentários de menosprezo. Para evitar discussões e bate-bocas vazios, eu geralmente apelava para o humor e emendava: “Xanxerê: Terra de moça bunita e rapaiz valente”, bem assim, falando errado mesmo, para mostrar que não entrava na onda deles, de se irritar ou revidar a agressão verbal. Dava certo, eu acho, pois a maioria mudava de assunto rapidamente. E depois vivendo em Floripa também sempre destaquei Xanxerê e o “Velho Oeste” como um lugar tranquilo para se viver, onde é fácil fazer amizades verdadeiras e viver em paz – apesar da fama de “Capital do Gatilho”. E hoje se me perguntarem o que Xanxerê tem de melhor não teria dúvidas na resposta: o tranquilo modo de vida e as amizades, novas e antigas, principalmente. Mas há também muitas outras qualidades, sempre que se olhar com atenção. E com carinho…
Voltei a morar aqui há um ano e volta e meia tenho que explicar porque prefiro viver aqui, e não em Florianópolis – sonho de consumo de muita gente. Me considero “bicho do mato” e se pudesse (espero ainda conseguir) viveria o mais longe possível da civilização. Mas – veja bem 1 – não estou com isso diminuindo nem menosprezando minha terra, estou apenas declarando minha já bem divulgada vontade de fugir de multidões, de aglomeração (isso bem antes da Pandemia), filas, gente apressada e correrias que essa tal “vida moderna” nos empurra goela a baixo. Penso que o relógio é uma das piores invenções da Humanidade: Vivemos correndo atrás do tempo, atrás do dinheiro, atrás…e esquecemos de viver a vida! E duas vidas mesmo – como poetou Vinicius de Moraes – “só com atestado passado no cartório do Céu. E assinado em baixo: Deus! Com firma reconhecida”! Daqui levamos nada e a morte é a única certeza que temos na vida. A poesia não é necessária, mas navegar é preciso! E viver também é preciso, mais do que qualquer outra coisa!
Estou achando muito bom, ótimo mesmo, assistir essa eleição xanxerense “quase de camarote”, com o mínimo envolvimento possível. Primeiro porque para mim é novidade, nos últimos 32 anos em todas as eleições, menos a última, andei correndo atrás de candidatos, frequentando comitês, showmícios, comícios, reuniões, carreatas, passeatas, debates, entrevistas, bocas-de-urna, apurações e algumas (poucas) comemorações de vitórias do “meu” candidato. Valeu a pena e faria tudo de novo sem vacilar. Mas ao menos por enquanto, essas práticas já estão “de bom tamanho”, e garanto: Senti falta nenhuma delas! Espero, sinceramente que os (as) eleitores (as) xanxereenses acertem na escolha do novo prefeito, vice e dos vereadores. Que os eleitos consigam fazer aquilo que anunciaram e que se propuseram a fazer. Também espero, peço, torço e rezo que essa triste história de comprar e vender votos diminua ao máximo, que nenhum candidato “apele” para esse rasteiro, criminoso e vergonhoso expediente. E igualmente convoco a todos que tiverem provas dessa sem-vergonhice que denunciem à Justiça Eleitoral. E que os criminosos sejam exemplarmente punidos pela Justiça! Chega de corrupção!! E a compra de votos é uma das mais praticadas, neste país!