O aumento de casos positivos do Covid 19 no estado e no Oeste nos últimos dias serviu para acionar o sinal de alerta em algumas autoridades da esfera pública e lideranças empresariais. Em Xanxerê, o Hospital São Paulo, único de referência para uma região com 14 municípios e mais de 150 mil habitantes registra aumento da ocupação de leitos de UTI, que se aproxima da capacidade máxima. Entre Rios, com cerca de 3.000 habitantes, tem aproximadamente 3% dos habitantes – 86 pessoas – com exame positivo. O Prefeito Jurandi Dell Osbel decretou na segunda feira (01/06) estado de calamidade pública por dez dias. O decreto determinou o fechamento do comércio, mantendo apenas postos de gasolina, farmácias e supermercados em atividade, além de proibir o transporte público e também o transporte de trabalhadores para agroindústrias. Ponte Serrada e Xanxerê são outros municípios com números crescentes. Ambos os municípios estão entre os mais populosos do Alto Irani, onde a única UTI é a do Hospital Regional São Paulo. Em Xanxerê o número subiu para 140 casos confirmados e na região são cerca de 400. Em pleno aumento dos casos positivos, porém, a Câmara de vereadores de Xanxerê, por exemplo, retomou na segunda-feira, suas sessões presenciais. E há sinais de outros setores pregando e se preparando para retomar as atividades normais.
Na tarde de ontem, prefeitos da região participaram da reunião mensal, ordinária, na sede da Associação dos Municípios, em Xanxerê, para tratar de assuntos gerais e também da pandemia na região. Sem intenção de procurar culpados, mas sim de alertar para evitar problemas maiores, é preciso considerar que quase todos, ou todos os municípios do Alto Irani transportam muitos moradores de suas cidades para trabalhar em agroindústrias de Chapecó, Concórdia e outros municípios que abrigam frigoríficos. E ao que se sabe nenhum dos frigoríficos, que operam 24 horas, reduziu ou alterou seus turnos de trabalho em função da pandemia, desde seu início. Os operários são transportados diariamente, ida e volta para casa, geralmente em ônibus fretados. Embora as agroindústrias tenham adotado medidas de prevenção contra o Coronavírus, não há dúvidas que suas atividades exigem locomoção e aglomeração, duas situações de alto risco na proliferação da pandemia. Em Entre Rios, principalmente, mas também em Ponte Serrada e outros municípios da microrregião, agroindústrias contratam muitos trabalhadores e, certamente, esta realidade deve estar no foco de atenções dos prefeitos.
As agroindústrias são a maior força econômica do grande Oeste catarinense e recordistas na contratação de mão-de-obra de toda a região, além de serem vitais na arrecadação de impostos que sustentam pequenos e médios municípios. A interrupção de abates de aves e suínos causaria, sem dúvidas, grandes prejuízos a milhares de produtores e às indústrias. No último sábado (30/05), a Justiça do Trabalho desinterditou um frigorífico de aves, em Ipumirim, depois de um surto do Coronavírus entre funcionários. A desinterdição evitou o abate sanitário (descarte) de 650 mil aves, segundo informou a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Agricultura. A Secretaria informa também que o governador Carlos Moisés comemorou a decisão judicial e lembrou a importância econômica do setor. Segundo ele, os frigoríficos estão comprometidos em respeitar as normas sanitárias determinadas pela administração estadual. “A decisão da Justiça do Trabalho de desinterditar a planta de Ipumirim é acertada. Nossas exportações são fundamentais para a economia neste momento. Trabalhamos para garantir a saúde dos trabalhadores do campo e da agroindústria. A condição sanitária de Santa Catarina é reconhecida mundialmente e nossa intenção é manter esse status, mesmo com a pandemia”, afirmou Carlos Moisés. Como se vê, a polêmica entre salvar vidas e/ou manter a economia em plena atividade continua no olho do furacão, embora raros órgãos de imprensa ousem divulga-la.
As indústrias ligadas ao Sindicato Indústria Carnes Derivados (Sindicarne) e Associação Catarinense de Avicultura (Acav) estão mobilizadas no combate ao Coronavírus em Santa Catarina. Desde o mês de março, o setor já doou, direta ou indiretamente, cerca de R$ 35 milhões em recursos, equipamentos e alimentos para hospitais, municípios e para o Governo do Estado. Só as doações da empresa JBS irão superar a marca de R$ 28 milhões. O Sindicarne e ACAV destinaram R$ 600 mil para o combate à pandemia. “A Acav e o Sindicarne estão empenhados no combate à Covid-19. Nós nos preocupamos com a sociedade e com as pessoas que estão inseridas em nosso meio. Essa é a razão pela qual nós embarcamos nesse projeto e estamos dando a nossa carga de contribuição ao estado. Nós intensificamos o trabalho que já fazemos, ao longo do tempo, nas comunidades onde estamos inseridos e, agora, com uma maior efetividade porque reconhecemos que temos sim um papel relevante no combate à Covid-19”, explica o gerente do Sindicarne, Jorge de Lima. (Fonte MB Comunicação)
Diante de mais de nove mil casos positivos em Santa Catarina e de mais de 30 mil mortes no Brasil, podem parecem poucos os 86 casos positivos em Entre Rios, mas não é bem assim. Com população estimada de 3 mil habitantes, o número representa cerca de 3% da população – e é o maior percentual em municípios do estado. A ampliação dos casos positivos em um município de pequeno contingente populacional pode e deve ser mais facilmente contida. Porém uma ampliação daquele percentual seria muito preocupante também pela possibilidade de alastramento de casos por toda a região e, mais ainda, pela reduzida oferta de leitos de UTI – Entre Rios e seus pacientes têm como referência o Hospital São Paulo. Outra característica no município que deve chamar a atenção das autoridades de saúde pública: Por ter cerca da metade de sua população constituída por indígenas o risco de letalidade ser maior é uma realidade. Até ontem, dos 86 casos positivos 28 eram de indígenas, segundo o Site G1 Santa Catarina. Pela sua própria constituição fisiológica indígenas são mais suscetíveis e mais vulneráveis a doenças. Na segunda – feira (01/05), o Prefeito Jurandi Dell Osbel decretou estado de calamidade pública no município por dez dias, incluindo a proibição do transporte de trabalhadores para agroindústrias.
Quirera Gourmet