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03/05/2021 às 07:48
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Quirera Gourmet – 03/05/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

Analfabetismo e Ignorância: Um Projeto Chamado Brasil

Erradicar o analfabetismo entre jovens e adultos foi a bandeira oficial do Movimento Brasileiro de Alfabetização, o Mobral, nos anos 1970, invenção da ditadura militar que também buscava integrar o Brasil e os brasileiros, dos grandes centros e dos sertões. E era extremamente comum, aqui no Oeste e no país inteiro, daqueles anos, pessoas não conseguirem, sequer, escrever seus próprios nomes. Nem desenhar. O descalabro disso retratava várias “caras” do Brasil, ao longo de sua história, e no decorrer de seus governos, desde a Colônia de Portugal, passando pela Monarquia e pela proclamação da república.

“Os Interésses”

E a maior das caras escancaradas na vitrine é a de um país que nunca se preocupou em dar educação a todo o povo, nem ensinar o mínimo be – a – bá para todas as crianças em idade escolar. Existem várias teorias de sociólogos e estudiosos sobre tal descaso. Uma vergonha mundial, pois se o Brasil até hoje não erradicou o analfabetismo foi porque nunca realmente buscou fazer isso verdadeiramente, sem intenções demagógicas e enganadoras! Não fez porque não quis, essa é a verdade. Porque condições para isso sempre teve e continua tendo. Basta querer! Aí cabe perguntar: Mas, interessa, mesmo, acabar com o analfabetismo? Para mim, não há dúvidas: Isso não interessa. Mesmo com supostos esforços (para livrar a cara da vergonha) como ações de apoio à “alfabetização de jovens e adultos”. Como diria Brizola, “não há interésse”…

Manadas

Sob o olhar desconfiado aqui da minha moita ou do meu monte de Quirera no chão do “muinho”, penso que não  apenas não interessa: Acredito que nunca interessou formar cidadãos aptos a discernir o que é alho, e o que é bugalho. Ou saber o que é m* nenhuma disso. Manter o povo na ignorância – algo que os brasileiros poderosos aprenderam com a escravidão – facilita mentiras históricas – do tipo “vamos acabar com o analfabetismo”, inclusive – ajuda (muitíssimo) a eleger salvadores da pátria. É bem conhecida a utilidade de grandes massas populares manipuladas e conduzidas como manadas, para o abatedouro. E de tanto produzir manadas, o Brasil acabou por eleger o que já é considerado por muitos como o pior governo de sua história. Situação que hoje, escancara esse desprezo pela Educação de seu próprio povo. E isso, agora, escandaliza nossa (“sempre inocente”) classe média…

Capitalismo

E manter o analfabetismo também atrela, acorrenta, os mais pobres ao bom patrão – aquele que, num ato que no Brasil se considera um grande favor e ato de imenso patriotismo – “gera emprego”, evitando que tantos ótimos trabalhadores brasileiros morram de fome! É o que dizem. Aqui nas minhas Quireras tenho outra leitura disso. Eu e boa arte do mundo civilizado. Nessa pandemia ficou ainda mais claro essa realidade: Sem empregados, sem operários que trabalhem, a empresa quebra, o patrão não ganha nada. O trabalhador e o dono dos meios de produção, os donos das empresas, são duas peças de uma mesma máquina. Se faltar uma, o capitalismo não funciona!

Patrão e Trabalhador

Então faz tempo que rio, para não chorar de vergonha, quando escuto expressões do naipe de “gerar emprego”, ou “dar trabalho para os pais de famílias sustentarem seus filhos”. Palavras muito lindas, para enganar quem é semianalfabeto, ou analfabeto mesmo. Ninguém na verdade dá trabalho, nem gera emprego. O nome certo disso é empreender, contratar mão – de – obra, trabalhadores, operários, braçais, servidores. Para trabalhar para os donos das empresas, para estes obterem lucros, justos e merecidos. Tem nada de patriotismo, nem de caridade nisso, são apenas peças que se encaixam e que movem o sistema capitalista. Sem nenhum pieguismo, nem falsos sentimentos de nobreza, de se dar isso, ou gerar aquilo. Enganação, demagogia. Por que sem trabalhadores também não existiriam empresas, nem patrões, nem empregos. Na maioria dos países, patrão não é um “ser superior” ao trabalhador, é igual a ele. No Brasil, muitos ainda não enxergam isso!

Exploração

O trabalhador aluga para o patrão a sua força física e/ou mental – e recebe um salário por isso. Um salário que em muitos países garante a sobrevivência de sua família e lhe permite ter um bom padrão de vida. No Brasil, nem sempre, ou raramente. E isso é outra verdade histórica. Não por acaso até mesmo grandes profissionais brasileiros, de muitíssimas profissões, foram e continuam indo embora do país, em busca de remuneração condizente com o que sabem – porque estudaram e aprenderam – fazer.  Mas a desumana exploração da mão-de-obra por capitalistas inescrupulosos não atinge só os “formados em faculdades”. Isso levou e leva embora do país milhares de babás, jardineiros, cozinheiras, faxineiras e outros, em busca de vida digna.

Projeto da Elite

Sou admirador confesso de professores em geral, e tenho amazônico e especial apreço pela obra do Antropólogo, Sociólogo, Professor e Político Darcy Ribeiro, um dos brasileiros que mais respeito, pelo seu conhecimento de Brasil. Darcy dizia que o obscurantismo (manter o povo na escuridão do conhecimento) e, por extensão, o analfabetismo, não é uma consequência, ou uma dificuldade, no Brasil. É um projeto da elite nacional, que atrasa esse país, desde a escravidão! Foi por ter acabado com a escravidão, aliás, que os brasileiros mais ricos fizeram de tudo, alegaram patriotismo (como sempre!) e acabaram com a Monarquia no Brasil. E quem ler a História desse país pode comprovar isso. Se Dom Pedro II e a família real fossem escravocratas, restam seríssimas dúvidas de que se teria destronada a família real e proclamada a república. Ainda que perneta, a abolição da escravatura desagradou, e muito, os brasileiros senhores de terras… E aí, logo depois de 1888, no início do Século XX o governo brasileiro foi atrás de colonos europeus, para substituir a mão-de-obra escrava, baratíssima e abundante por aqui.

CLT Comunista

E os donos de terras e engenhos conheceram então trabalhadores europeus, que não foram escravizados, e que queriam ganhar salário pela venda da sua força de trabalho, da sua mão-de-obra. Note-se que apenas lá por 1950 – mais de 50 anos depois da abolição – Getúlio Vargas criou o salário mínimo, a carteira de trabalho, a CLT – a mesma que agora a elite desse país conseguiu rasgar! Para esses, a CLT era comunista, mesmo que eles nem façam ideia do que seja comunismo…. E muitos analfabetos – que não ganham salários justos, são doutrinados a desdenhar de sindicatos e que não sabem lutar por seus direitos – acham bom! Aí, pendura-se a bandeira nacional na janela, declaram-se patriotas, combatem o comunismo…. E (muitos) ainda pensam que todos somos idiotas e imbecis!

Vão para o Céu…

Greves, sindicatos e outras conquistas mundiais de trabalhadores, na visão de muitos empresários xanxereenses, Oestinos, catarinenses e brasileiros, ainda são “coisa de comunistas”, lamentavelmente. No resto do mundo, ninguém, ou uma minúscula minoria ainda pensa assim. O atraso brasileiro pode ser pesado e mensurado pelo tratamento que se dá hoje ao que chamam de comunismo. E que na verdade nada mais é que a luta dos trabalhadores! Luta para não serem mais tratados, vistos e classificados, como beneficiários e devedores de favores a santos empresários, pessoas “de grande coração, de gente do bem, que irão para o céu”, porque ajudam os trabalhadores, dão empregos e sustentam famílias. Blá – blá, mais blábláblá!

Sem Favores

E mantendo esses trabalhadores analfabetos – com o apoio de muitos governos – sem estudo, sem saber de seus direitos e sem conhecimentos, eles, os maus patrões, seguirão sendo idolatrados, com vaga assegurada no céu! E continuarão tratando seus “colaboradores” quase como, só um pouquinho melhor que escravos! E posando de santas criaturas. Não se nega: eles têm seu valor, criam empresas, trabalham e conseguem lucros, graças aos seus ”colaboradores”. Mas daí até a sua pretensa santidade vai uma longa diferença. Muitos deles preferem chamar assalariados de colaboradores… Porque o termo trabalhadores atrai a exigência de salário justo, a existência de sindicatos, e principalmente induz a valorização da mão-de-obra – e não apenas com salários justos. Também e inclusive com o reconhecimento que ninguém, nessa relação, faz favores a quem quer que seja!

 

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