Nascido no meio rural (dizem hoje), ou no meio do mato, na “colonha”, pelo idioma local, sempre gostei de mato, rio, árvore e bichos. E de índios – até mesmo quando eles atacavam o forte nas tardes de domingo do Cine Luz em Xanxerê, onde a “plateia” torcia pelos soldados, batendo o pé no assoalho de madeira. Na Xanxerê da minha infância, a atual “campina da cascavel” nos seus verdes anos (êpa) era a “Capital do gatilho”, título conquistado após homicídios de alguns bravos delegados, hoje nomes de rua; e pelo tipo de atividade econômica que impulsionou a criação e crescimento de todos os municípios da região: A extração dos vastos pinheirais de araucárias que cobriam as coxilhas e peraus do grande oeste, e/ou do “velho Oeste”.
Quando os primeiros colonos europeus chegaram por aqui, atraídos pela exuberante madeira e vastas terras férteis, virgens e “sem donos” – a não ser os índios, “bugres”, vistos como “selvagens”, ignorantes, caso não fossem catequisados pela igreja católica – O grande Oeste já recebia outros habitantes: Embrenhados no mato havia caboclos, fugidos da Guerra do Contestado (1912-1916) – também causada pela extração de madeira; Mas quem impôs sua lei, sua economia, sua cultura, suas qualidades e seus defeitos foram os europeus(italianos e alemães, predominantemente), atraídos por terras oferecidas por grandes empresas colonizadoras, na maioria pertencentes a famílias de militares ou de amigos do (antigo) reinado. Assim, cresci sem conseguir entender direito quem eram aqueles tais índios daqui chamados pela maioria de “bugres”…Tão diferentes dos índios do Cine Luz…
Ao escolher a história da terra indígena Xapecó como tema da minha reportagem / Trabalho de conclusão de curso (TCC) de Comunicação/Jornalismo, na Ufsc, em 1982, eu já sabia bastante sobre “nossos” indígenas, mas queria saber mais. Lendo antropólogos e sociólogos descobri coisas que minhas criativas e bem-nutridas minhocas nem imaginavam. Entrevistando (em 1982) o primeiro professor Kaingang lotado na então chamada “Área Indígena”, ele me contou que os primeiros “donos” daquela região não eram os Guaranis, nem os Kaingangues, mas era também indígenas, da Etnia Xokleng, conhecidos como “botocudos”. Kaingangues e Guaranis ficaram com área de 150 mil hectares (que hoje são 15 mil, ou menos) como pagamento do governo brasileiro por serviços prestados ao marechal Cândido Rondon, que passou pela região entre 1890 e 1900, abrindo a “Estrada da Linha”(do telégrafo, que ele instalava), de Guarapuava até o Goio-em, divisa com o RS. Kaingangues e Guaranis mataram e afugentaram Xocklengs, para que as tropas de Rondon não fossem dizimadas pelos botocudos, muito hostis aos brancos…(Continua amanhã….)