Essa mania de escrevinhar, dar pitacos, criticar, elogiar, contar causos ou lembrar estórias e passagens, acontecimentos, sonhos e pesadelos, ou induzir a pensar, não deixa de ser uma intromissão em áreas pessoais, por mais que a decisão de ler ou não ler seja do cidadão. Cada um pode ter o seu olhar exclusivo para enxergar o mundo, e ninguém, rigorosamente ninguém, é obrigado ou precisa concordar com outros, muito menos com as opiniões dos outros. Mas também é verdade que ninguém pode ser proibido de falar, ou de escrever e manifestar o que está sentindo, sobre qualquer coisa que lhe interesse, que lhe diga, ou não lhe diga, respeito. A liberdade que nos concederam, aliada à autodeterminação – a capacidade de fazer qualquer coisa que acharmos que devemos fazer, arcando com suas consequências – torna o bicho homem um eterno intrometido. E para galgar essa posição é que temos opinião. Ou podemos ter, se quisermos.
Passei, há mais de vinte anos atrás, rasos trinta dias “em cana”. E lá reconfirmei o que já sabia, mas não dava mais tanto respeito: A liberdade é sem dúvidas a maior dádiva que Deus nos deu. E também o maior incentivo a cometer barbaridades, crueldades, crimes hediondos ou irresponsabilidades. Ou praticar, igualmente, ações e atividades que aos olhos de muitos nos tornam pessoas queridas, estimadas, úteis e necessárias. E temos a autodeterminação para fazer uma coisa ou outra. Ou ambas, a critério, conta, e risco, de cada um. Essa filosofada amadora veio a calhar ao responder à pergunta: Escrever para quê? Para quem? E porquê??
Não sei como a maioria responde a essa pergunta. Por mim, escrevo porque gosto muito, em primeiro lugar. Em segundo porque, descendente de italianos, dizem, sempre são falastrões. Ou, no caso de tímidos para falar, escrever também é o jeito de falar. E em terceiro lugar porque penso – e isso ainda não foi alvo de negacionistas – existo! E se existo, ao escrever tento dizer para que vim a lume, nasci e sobrevivi até agora. E igualmente tento dizer o que acho sobre o que vejo no mundo que nos rodeia e nos acolhe. É óbvio para mim que isso não irá necessariamente provocar aplausos, nem é essa a primeira, nem a maior intenção…
Aprendi, no Jornalismo, comentar, criticar atitudes das pessoas, mas não as pessoas. Afinal, cada um faz o que quer. Mas reconheço que é difícil, muitas vezes impossível, segurar a vontade de xingar de ignorante quem, voluntariamente e em plena consciência, comete, ou incorre em alguma total ignorância. Acho que isso acontece porque é sabido, mas não levado a sério desde Adão e Eva, que “o saber não ocupa espaço”…Que aprender é preciso. É indispensável! E mesmo nos moderníssimos tempos do computador e da internet, ainda estamos longe de inventar algo próximo à capacidade do cérebro humano.
Ou seja, o cérebro humano tem qualidades e aptidões que estão muito acima de qualquer invenção do mesmíssimo ser humano. Isso parece óbvio, pois do contrário teríamos o risco de inventar algo que poderia mandar em nós mesmos, ser mais inteligente e mais poderoso que o bicho homem. Aí, porém, existem também divergências: Há quem diga que os computadores dominam, ou vão dominar totalmente as nossas vidas e as nossas mentes, tal a interação deles no cotidiano da vida e das coisas da vida…
Não sei se isso realmente começou a acontecer, e é possível que sim, embora disfarçadamente. Os grandes solavancos e graves atribulações constantes no dia a dia da humanidade no planeta hoje estão, cada vez mais, sinalizando que o ser humano pode estar dando tiro no pé…Tiro de canhão, se é que ainda existem canhões. Esses dias li que o Brasil está entre os países que mais importam SEMEN HUMANO para gerar filhos loiros, de olhos azuis, supostamente inteligentes, ricos e bonitos. Ricos porque tal importação, segundo a notícia, mulheres mais cheias da grana são as principais importadoras.
De novo, não se pode julgar, muito menos condenar quem optar por essa alternativa para ter seus próprios filhos. Mas a atitude para mim é de uma ignorância sem tamanho. Vamos dizer que não enxergamos aí nem racismo, nem preconceito, nem soberba. Mesmo assim sobra a pretensão e querer montar, ao invés de gerar, como acontece a milhões de anos, o próprio filho. Isso significa desprezar o que a natureza nos concede gratuitamente – e que entre solavancos e perturbações – tem dado certo e trouxe a espécie humana até hoje…
No resumo da ópera o que tenho mais medo é que as tais modernas tecnologias e outras inteligentíssimas invenções do cérebro humano acabem sendo uma criatura que se volte contra o criador. E acabe com esse criador, aos poucos, para gerar uma nova espécie humana. Graças a Deus, penso eu, provavelmente não estarei mais por aqui para ver isso acontecer. Sou totalmente a favor da invenção de “ferramentas” capazes de melhorar, facilitar, agilizar e dar mais eficiência às atividades humanas. Mas, igual a sempre, tudo deve ter seus limites.
E esses limites são o ponto, hoje: Nosso empoderamento, coletivo e/ou individual com os avanços tecnológicos apontam para a abolição de qualquer limite. Os avanços já possibilitam até a geração de clones humanos. E não se duvida que esse tema ainda esteja muito em pauta, por baixo dos panos, por conta das restrições impostas por religiões e por pensadores ultraconservadores. Estes consideram “essa parte” – a geração de novas vidas – uma atribuição exclusiva do Senhor das Esferas, Deus…
E Deus, como é sabido, também sempre enfrentou a oposição de agnósticos e ateus, alguns inclusive considerados gênios da ciência e das artes. Mas, ao que se saiba, nunca deixou de produzir tais gênios, ao longo da história da humanidade. O Homem querer “fabricar” um ser humano mais inteligente que o humano criado por Deus, convenhamos, é tentar sair dos limites, abolir qualquer sinal vermelho, acredito. Mesmo que o ser criado seja loiro, de olhos azuis e filho de famílias milionárias.
De qualquer forma, voltamos ao começo: as liberdades que Deus nos deu nos tornam naturalmente intrometidos. No caso intrometidos em assuntos até a pouco considerados exclusivos dos domínios divinos. E isso tem um outro detalhe: Seria, na prática, a criatura querendo ser maior e mais inteligente que seu criador. Pelo menos na lógica válida até os dias de hoje, isso é uma evidente abolição de limites, uma pretensão absurda e, talvez, o pretenso caminho para a derrocada do Ser conhecido como Supremo Criador.
Resta dizer a ele que suas criaturas estão ficando impossíveis, muito difíceis de lidar. Incluindo aí estes meus botões. Um bom fim de semana a todas e a todos!