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02/08/2021 às 06:52
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Quirera Gourmet – 02/08/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

Estudar Fora!

“Estudar fora”! Esse era o sonho de consumo lá por 1965, para a ‘piazada’ dos 12 anos, nascidos e criados em Xanxerê. E meta que poucos alcançavam, só os “paitrocinados”. Estudar no Brasil nunca foi barato, menos ainda em anos de ditadura militar. Verdade também que nem todos na época tinham esse projeto de vida. E nem existiam por aqui ainda, muitas pessoas com “projetos de vida”…E nem com “muita vontade” de sair debaixo da asa dos pais, a maioria descendentes de italianos. E estes gostavam de contar com a presença – e a ajuda – dos filhos, como rezava a tradição! Mas fui “estudar fora”. As escolas xanxereenses “iam só” até o ginásio, em 1969.

“Ser Doutor”

Dessa parte, olhando para lá enxergo pergunta muito comum, para a gente responder, vinda dos “mais velhos”: “O que você quer ser quando crescer”? Muitas respostas já diziam “jogador de futebol”. Mas a maioria era médico, engenheiro, advogado, dentista e outros invariavelmente anexados à pasta de “quando crescer quero ser doutor”! Isso quando em casa, os pais incentivavam o estudo dos filhos. Muitos preferiam, ou eram obrigados a contar com a força braçal dos filhos, para suprir a família. Jogo duro, aqueles tempos na então “Capital do gatilho”.

Suinocultura

O fim da década de 1960 assinalava que “o pinheiro acabou” – e com ele o primeiro ‘boom econômico’ da região de Xanxerê, com cerca de 30 serrarias, incluindo as de Abelardo Luz, Faxinal, Bom Jesus…, mas os pinheirais e a “madeira de lei” – que muitos diziam que nunca acabaria – acabaram! E começaram a aparecer os frigoríficos em Concórdia e Chapecó, com a integração, que sustentou muitos pequenos agricultores em suas terras, por algum tempo. Mas nem todos: Suinocultores, especialmente, sofreram duros revezes com a integração, e muitos perderam a propriedade.

Frigoríficos

Nesse cenário de frágeis atividades econômicas – maior fonte de renda, a madeira, estava no fim, a lavoura de milho e soja, ainda não se consolidara – a criação ‘integrada’ de suínos e depois de aves foi a nova atividade econômica escolhida para alavancar o desenvolvimento. E o ‘projeto de vida’ de Xanxerê já nos anos 60 (porque Chapecó já possuía), era ter um frigorífico! Algo que minha geração não viu acontecer…E foram décadas de promessas e tentativas, mas sem sucesso!

Gente de Fora

Embora fossem anos de ditadura, a política partidária – limitada a Arena e MDB – já produzia divisões, e prejuízos, na construção dos potenciais econômicos município. Quem mais tinha votos era a velha UDN, centralizada na Arena, e pode-se dizer que na maioria absoluta dos municípios, a ARENA nunca perdeu eleição municipal, pelo menos em Xanxerê. O partido também abrigava os principais empresários, os que tinham dinheiro, Money. Num tempo em que comprar votos era quase uma lei…. Os demais partidos e simpatizantes, do PTB de Brizola, Jango e Getúlio, entre outros, foram todos para o MDB, uma federação de tendências políticas, nem todas de esquerda.

A Concorrência

Outros se calaram, pois não havia outra opção. Assim, por conta da concentração de poderes econômico e político nas mesmas mãos, há estórias famosas e até folclóricas, por conta de inevitáveis choques, entre os interesses econômicos e os interesses políticos: As escolhas geralmente feitas por quem tinha a prefeitura nas mãos. Se o grupo político dominante achasse interessante vetar a entrada de algum empreendimento ‘de fora’, o empreendimento ‘não vingava”! E isso era muito comum, em vários municípios: Um inacreditável ‘medo da concorrência”, era forte!

“Mala nas Costas”

Guardadas as proporções, e com um pouco de pimenta, isso aqui era o “Velho Oeste: Tinha bangue-bangues dominicais, no Cine Luz! E volta e meia na rua mesmo, ao vivo e a cores! E ‘forasteiros’ nem sempre eram ‘bienvenidos’…  Sem falar que aqui era a ‘capital do gatilho’! Vivi para ver, em 1989, um candidato a prefeito de Xanxerê (que ficou em segundo lugar), ser chamado de ‘mala nas costas’, por não ser nativo, embora trabalhasse e vivesse por aqui a mais de 15 anos. A hospitalidade nunca foi exatamente uma das (muitas) qualidades dos xanxereenses. E há histórias tristes, e famosas, sobre isso…

A Melhor Conquista

Hoje não existem mais (ainda bem) tais preconceitos com ‘gente de fora’, até porque hoje a maioria do povão é exatamente ‘essa tal gente de fora’. Mas a mentalidade tacanha, retrógrada, de alguns xanxereenses influentes, que poderiam, então, serem ditas da ‘elite’ local’ não é motivo de orgulho da cidade… Mesmo assim, o município se desenvolveu e se consolidou como polo microrregional. Daquele período de dominação política e econômica pelo mesmo grupo de poder, por décadas, o melhor resultado foi o último ‘boom’ da economia local: A instalação e a consolidação da Unoesc Xanxerê. Hoje – e há vários anos – o empreendimento que mais atrai recursos e ‘gente de fora’ para Xanxerê.

Investimentos de Fora

Nas últimas décadas, todos prefeitos xanxereenses e suas administrações gastaram saliva e recursos para tentar atrair empreendimentos ‘de fora’ – indústrias, especialmente – sem muito sucesso…O ‘velho filão’ dos frigoríficos esgotou-se, hoje, E o último – dos que eram para ser instalado em Xanxerê está e vai bem, no município de Abelardo Luz. Desta vez nem tanto por picuinhas políticas, mas majoritariamente por opção do empreendedor.

Os Daqui

Outra análise possível na economia do município e região do Alto Irani mostra vários empresários do agronegócio que migraram e diversificaram seus negócios – e alguns que saíram daqui em definitivo – para o Centro Oeste e até para o Norte do país. Óbvio que cada um sabe onde é melhor investir seu capital. Mas é uma realidade:  São poucos os que ganharam bom dinheiro por aqui e que mantém ainda seus maiores investimentos aqui – uma opção que só cabe a eles mesmos, é claro! Nesse capítulo cabe um pequeno comparativo com Chapecó, ou Concórdia, por exemplo, onde empresas que nasceram por lá cresceram e mantém-se fortes, até hoje.

Voltaram!

Não pensei, nem escrevi estas linhas pensando em apontar equívocos, nem erros ou qualquer desapreço aos pioneiros de Xanxerê, principalmente os ex-prefeitos. Pensei apenas no que vi e vivi aqui, por enquanto. Para tentar contribuir, de alguma forma, com eventuais novos ‘sonhos de consumo’, ou mesmo ‘projetos de vida’. E essa ideia nasceu ao constatar que muitos, ou vários, pelo menos, voltaram e/ou estão pensando em voltar a viver na cidade que, um dia, deixaram para trás para ‘ir estudar fora”. Espero que tenham estudado e que tais estudos possam ser úteis à (assustadora) atual ‘Campina da Cascavel’ – a mesma que já foi a (temível) ‘Capital do gatilho’!

 

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