Jornalista, professor e ex-colega Sérgio Murilo de Andrade critica no Facebook a prefeitura de Floripa por inaugurar obra inacabada (o que é proibido por lei) – e ironiza que isso não sai na imprensa da capital pois lá é terra de “imprensa amiga”, diz Sérgio. E é verdade. A imprensa catarinense, talvez mais de 90% dela, é “imprensa amiga”. Essa “imprensa” aí é a que só publica “notícias boas” ou positivas, zero de coisas erradas, zero críticas… No máximo a imprensa amiga divulga notícias neutras em relação ao prefeito, governador ou presidente que esteja com a bunda na cadeira do poder. Notícias negativas, coisas feias, que é preciso melhorar/solucionar, as notícias verdadeiras, necessárias e úteis para a autoridade agir, essas não têm vez. Não saem na imprensa amiga…E isso não é iniciativa do repórter, ou do editor ou de quem escreve a matéria. São ordens do chefe, do patrão, que não quer perder a “verba publicitária oficial” – dinheiro público, de impostos, é bom lembrar. Note o atento (a)leitor(a) que hoje existem as notícias verdadeiras…porquê? Bem, as fake hoje…
Na faculdade de comunicação da Ufsc (habilitação Jornalismo), bons professores ensinam que decidir se a notícia é boa ou ruim cabe ao leitor. Portanto a informação deve ser exata e o mais completa possível, sem comentários, seca. Isso para o leitor ficar bem informado, a notícia como ela é, só os fatos! Mas se a notícia não sair na imprensa (amiga), ou se essa imprensa der um “trato de beleza” nela, ela fica manipulada. E a sua opinião sobre a gestão do prefeito, governador ou presidente vai ficar prejudicada. Errada ou só pela metade. Em bom português, sua opinião será manipulada, porque ele nem sequer sabe da realidade completa! Sabe só a notícia boa, da “imprensa amiga” permitiu que ele soubesse. Da realidade pura, nua e crua, do que aconteceu MESMO o leitor da imprensa amiga fica sabendo a metade. Ou nem a metade. Assim se constrói leitores e principalmente ELEITORES que conhecem a metade da realidade. Ou nem a metade. E que – por extensão, enxergam o mundo pela metade. Ou nem isso.
E todo proprietário de meio de comunicação, o patrão, sabe que se ficar “na esquerda”(isso quer dizer “do contra”, ou “comunista”) do prefeito ou do governador ou do presidente, a primeira coisa que o patrão vai perder será a verba oficial, os ricos patrocínios, anúncios e campanhas do governo, dinheiro grande. E garantido…porque é dinheiro público: é de todos e não é de ninguém, portanto vale quase tudo, ou tudo! Em vi$ta di$$o, o patrão escala a “imprensa amiga” e todos ganham! Ou quase todos…O leitor, cidadão, contribuinte, esse não! O leitor é tapeado, enganado, prejudicado, logrado e tratado como imbecil, idiota mesmo. Sabe só da metade, ou nem isso. Muitos acham que isso é consequência de prefeitos, governadores e presidentes que só querem elogios…Pode ser. Eles se acham perfeitos e, nessa condição, não aceitam qualquer tipo de notícia crítica – principalmente as verdadeiras, justas e necessárias!
Também na faculdade de Jornalismo contaram que a imprensa catarinense, na sua origem, era a filha querida da política partidária. Ou seja, nas décadas de 1950/60 era filha adotiva da UDN ou do PSD – os dois maiores partidos da época; cada partido tinha seu jornal, ou sua rádio, ou ambos. Dependesse quem estivesse no poder, a imprensa do outro partido era oposição… E partidos brasileiros nos estados sempre tiveram donos, na maioria das vezes donos também de muito dinheiro e amigos de outros, também muito ricos. Tanto que rádios e jornais por si só, de receitas próprias, não sobreviviam: Dependiam sempre de dinheiro que o patrão injetava, ou do dinheiro que o patrão, sempre de muitas posses e de muitos amigos ricos, arrumava com o prefeito, o governador, o presidente, os deputados e por aí a fora. Imprensa livre? Pelo menos quanto a jornais impressos acho que nunca existiu na “grande imprensa” de Santa Catarina. Emissoras de rádio, talvez menos ainda, porque aí é concessão pública e se criticar algum governo, está (até hoje) sujeito a perder a concessão.
É possível muitas conclusões das notas anteriores, mas (aprendi) cabe ao leitor chegar a elas. Mesmo assim, algumas – óbvias – são possíveis. A principal para mim é a de que o cidadão, o contribuinte, o leitor e o eleitor (entre outros) PAGAM, dão do seu dinheiro para serem engambelados, logrados, enganados e tapeados pela “Imprensa Amiga”. Repórter por 20 anos aqui no oeste catarinense muitas vezes questionei prefeitos, principalmente, sobre a TRANSPARÊNCIA e a HONESTIDADE deles quanto a aceitar críticas e responde-las! Isso sem sair correndo e ligar para o dono do jornal/rádio/televisão pedindo a cabeça, a demissão, do repórter “que teve a ousadia de me criticar” – como eles gostam de dizer. Por conta disso, aqui no Oeste ainda vigora a lei chamada “Se criticar o prefeito, perde o emprego”!
Vai daí que fica fácil criticar, é covardia, culpar eleitores – que não conseguem eleger prefeitos que façam uma administração para resolver problemas/ melhorar a vida do povo e que cumpram suas promessas. É óbvio que eleitor enganado, logrado, passado para trás e direcionado pela “Imprensa Amiga” durante anos e anos não vai saber votar. Ou vai escolher aquele que a “Imprensa amiga” favorecer, que seja melhor para ela, a “imprensa amiga”. Além, é claro, daqueles eleitores que votam “em quem me der mais”. Mas aí é uma conversa para outra coluna…
Quirera Gourmet informa – desde aqui do moinho de pedra – ser fervoroso fã do conceito de que a imprensa deve cumprir seu papel: Ser imprensa. E Só. Nem amiga, nem inimiga. E deve falar a verdade, preferentemente TODA a verdade. E para botar mais lenha, vale lembrar o genial brasileiro Millôr Fernandes, para quem “Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”!