Faltam 45 dias para a eleição que definirá prefeitos, vices e vereadores de todo o Brasil. Uma disputa muito importante por indicar a (in) satisfação popular diante da política, de governos, das agremiações partidárias e do mandato de quatro anos cumpridos pelos atuais vereadores e chefes de executivos municipais. Experts em eleições consideram os pleitos municipais um poderoso indicativo também para as eleições de 2022, pois “tiram a temperatura”, podem indicar novas tendências, ou a manutenção do que está na área… Pela razão óbvia, mas nem sempre percebida, de que o eleitor (a) não mora nem no estado, nem no país, mora no município. Essa máxima era bem mais verdadeira nos tempos pré globalização e antes da internet, porque hoje muitos podem e se consideram cidadãos universais, mas nem todos. O morador do município conhece de perto a maioria dos candidatos a prefeito e a vereador, cruza regularmente com eles por aí, e cobra deles os serviços públicos que são mantidos pelos impostos pagos pela maioria. Os eleitos, faz tempo, nem sempre lembram que são trabalhadores pagos pelo povo.
No desacorçoado momento político do país, a rejeição de políticos anda em alta, mas isso também não é novidade, embora hoje provavelmente essa rejeição seja bem maior do que há quatro anos atrás. A corrupção parece ter se tornado a uma espécie de padroeira invertida da política brasileira. Culpam-se, indiscriminadamente, todos os políticos, o que é uma injustiça com os honestos e leais aos compromissos que assumiram na campanha. E paradoxalmente pouquíssimos, ou ninguém, tem a coragem de reconhecer que políticos corruptos existem porque há eleitores que votam neles, muitas vezes conhecendo, e muito bem, a banda podre dos mesmos…, mas são amigos, parentes, compadres, vizinhos, colegas de trabalho ou de futebol, ou de fuzarca. Ou são candidatos bonitos, simpáticos, bem-falantes e, mais recentemente, consideradas “pessoas do bem”. Poucos são os que escolhem os candidatos por seu potencial para governar, e bem, o município. Também tem muitos que simplesmente votam naquele que, acham eles, “vai ganhar a eleição”!
A coisa chamada eleição funciona mais ou menos assim, mas não há motivos para desespero, e isso nem vai acontecer. Afinal, se olharmos logo ali alguns anos atrás, as coisas já foram bem piores, tanto em termos de se ter bom candidatos (hoje tem mais), como em relação a uma escolha livre, consciente e bem estudada dos eleitores, que também são mais numerosos que há pouco. Porém, a prática de votar em quem “vai dar emprego para minha filha”, infelizmente, ainda é uma realidade. Note-se que não estou me referindo a Xanxerê, nem a municípios vizinhos, especificamente. Falo da média geral, da paisagem de todos os municípios brasileiros. Levar vantagem em tudo ainda é uma preferência nacional, e muitos dos que frequentam essa igrejinha são, na maioria das vezes, os mesmos que viram bicho quando condenam a corrupção. A hipocrisia e a falsidade de inúmeros brasileiros é outra vergonha nacional! E ao dizer isso não estou xingando quem quer que seja. Estou apenas fazendo uma leitura reta da realidade que está aí. Negar essa triste realidade é tapar o sol com a peneira…
A Democracia e os processos eleitorais podem ser complicados, difíceis, trabalhosos, viciados e/ou lenientes com a corrupção. Mas ambos, desde muitos anos, são os melhores processos – e universalmente utilizados – para o povo escolher seus representantes, os caras que irão cuidar dos interesses coletivos (que é bem diferente dos interesses de cada um) e serem pagos, muito bem pagos, aqui no Brasil, pelo mesmo povo. Particularmente gostaria de viver num país onde quem quisesse trabalhar pela coletividade não recebesse qualquer salário, muito menos aposentadoria. Sua remuneração deveria ater-se apenas ao ressarcimento de seus gastos com alimentação, transporte, hospedagem e gastos em geral, no exercício de sua função pública. Se isso um dia vier a acontecer aqui no Brasil acredito que pouquíssimos se arriscariam a “colocar seu nome à disposição” dos eleitores e eleitoras. Em Xanxerê um candidato a prefeito garante que vai renunciar ao seu salário, caso seja eleito prefeito. A promessa é sem dúvidas atraente, mas estou curioso para sentir a reação popular à proposta. Os eleitores, ultimamente, têm mostrado reações imprevisíveis, nas urnas. Porém não resta dúvida que a ideia surpreendeu e é muito comentada.
No Brasil os representantes são regiamente pagos, e muitos dos eleitos acabam fazendo da política uma profissão, um meio de vida, o que deveria ser vetado. A maioria dos candidatos, hoje, entra na política para fazer carreira – o que também não é crime algum. Apenas acredito que seria muito saudável se limitar o número de disputas que o candidato poderia participar, para disputar os diversos cargos públicos através de eleições. Temos, em Santa Catarina e no Brasil várias gerações de mesmas famílias vivendo, exclusivamente, da política. Isso, por si só, já dá a régua e o compasso para se avaliar a honestidade e a sinceridade de alguém que se diz disposto a “trabalhar pelo povo”. Na verdade, esse “quadro” está trabalhando para sustentar sua família, e para manter o “legado” de seus familiares. A política, por si só, não deveria ser profissão de ninguém. Ou seja: A remuneração dos políticos não deveria existir. Aí sim veríamos quem está na área para trabalhar pela comunidade. Ou para “fazer o pé-de-meia”, ou por conta da sua grande “fogueira das vaidades” ou, ainda, para satisfazer sua ambição de poder, de mandar!
O enorme desinteresse popular pela história da política desse país, pela falta de leitura e, até pouco tempo, pela própria atividade política em si, tem grande parcela de responsabilidade por hoje termos um panorama político nacional eivado de péssimos exemplos. Isso vem desde o Império, e nunca, mas nunca mesmo, aconteceu alguma tentativa de banir monstrengos do nosso sistema político – tipo a famigerada “imunidade parlamentar”! Para que imunidade, se o eleito deve trabalhar pela coletividade, ser totalmente transparente em seus atos e, de acordo com inúmeras leis, trabalhar sempre com total honestidade? Se todas essas premissas existem exatamente para tentar barrar corruptos – e se existe lei para julgar e condenar desvios e assaltos à barrosa – não há qualquer justificativa lógica para se conceder imunidade parlamentar a qualquer candidato eleito.
E essas coisas só deixarão de existir, no Brasil, no dia em que uma ou várias multidões forem para a rua protestar e exigir seu fim! Ou seja, se o povo, a população, faz olhar de paisagem para tais aberrações é porque concorda com isso. Então, não reclamemos! Por falar nisso, seria bom, também, ouvir candidatos assinarem documento garantindo que abrem mão da imunidade parlamentar. De novo, adianto: Não se está aqui fazendo qualquer alusão, muito menos “mandando indiretas” a quem quer que seja. De Xanxerê ou do mundo! E para fechar: Imunidade parlamentar é uma Jabuticaba, fruta que praticamente só existe no Brasil. Entretanto, como muitos sabem, fazer o povo ir para as ruas e protestar, nesse país é muito difícil. Mas sosseguemos: Já foi bem pior…. Embora ainda hoje existam muitíssimos que enxergam comunismo, ou esquerdismo, em qualquer reivindicação livre e soberana das demandas e das bandeiras populares…