Foi vapt – vupt e estamos em setembro do ano dois da peste! Tempos que passam rápido, mas não terminam nunca, esses da Pandemia. Tempos em que não se pode aglomerar, mas alguns aglomeram, mesmo sem festa de igreja, nem bailão, nem desfile de dia sete. E esse dia sete de 2021 já ganhou um novo desfile, o da cara-de-pau e da envergonhada, e previamente fajuta, tentativa de acabar com a Democracia.
Estes anos 2000 causam a amnésia da história recente do Brasil. Amnésia oportunista, porque os livros da história ainda contam o último golpe militar. Um tempo triste, para quem foi testemunho, tempo de retrógrada e muito malvista ditadura, torturadora e assassina, para os que conviveram com ela – e não são negativistas! Agora os com amnésia, aliados aos que negam a história, querem repetir o passado. Igualzinho a 2018, quando se elegeu outro “salvador da pátria”!
Mas é Semana da Pátria amada e idolatrada Brasil que, para sermos bem realistas deveria se chamar de “Pátria à venda a preço de bananas, ou dada de presente, Brasil”! E são os tempos da nova realidade, da nova política e da Terra plana, com Jesus na goiabeira, osso e pé de galinha na panela – para alguns, por enquanto. E poucos estão dando importância para isso. Mas é setembro e isso significa primavera no ar….
Certamente porque a qualidade de vida, ou a vida mesmo, dos mais pobres, nunca despertou grande interesse, a governos e classes dominantes nesse país, deitado eternamente em berço esplêndido! E ouvindo o redobrado e heroico brado retumbante! Dos filhos deste solo é mãe gentil, e nada mais que isso, Pátria Brasil! A rigor talvez o maior problema deste país esteja numa velha piada….
Aquela em que Deus dava explicações sobre os cinco continentes criados por ele, um por um. Todos com graves problemas, guerras, vulcões, terremotos, catástrofes, pestes… Menos a América Latina e especialmente o Brasil, onde Deus teria adiantado: Lugar com belíssimas praias, clima agradável, terras férteis, recursos naturais abundantes, nada de vulcões ou furacões, com florestas, fauna e flora exuberantes…”. Aí o Todo-poderoso foi interrompido com a pergunta: “mas aí então vai ser o paraíso, Senhor”?
O criador dos Céus, da Terra, dos raios e trovões, riu da pergunta e balançou a cabeça, negativamente: “Não, meu filho, é nada disso! Você vai ver o povinho ‘fidamãe’ que vai crescer lá dentro”! E assim tem sido! E essa irônica verdade divina tem nos sido revelada a cada dia, e sempre mais claramente! O brasileiro médio já culpou o comunismo da Rússia (em 64) de Cuba, da Venezuela e agora o da China (que nem dá para chamar de comunismo), pelos males que nos afligem…
Mas decerto daqui a pouco esse povo, quem sabe? Esse povo pode uma hora dessas cair “no real”, se assumir, sair do armário, e reconhecer que estamos (muito) mais para um amontoado de gente do que para um povo propriamente dito! Porque não somos – de jeito nenhum – aquele povo que é cantado no hino nacional. E vangloriado – de peito pra fora e barriga pra dentro – ao se falar em “Pátria amada Brasil”! Quem ouve pela primeira vez o hino brasileiro deve imaginar que somos um povo que dá a vida pela pátria!
Na verdade, damos a vida sim! Mas só para dar um jeitinho e se arrumar no trecho, “endireitar o cargueiro”, ficar bem na foto ou, no vocabulário dos tempos da Terra redonda, “fazer o pé de meia”. O negócio – desde o ‘capitão da indústria’ da Fiesp até o muambeiro do ‘parágua’ – é levar vantagem de tudo! E torcer “pro Framengo, ou para o Curínthia”! E sempre botar a culpa nos outros e tachar os que não concordam com essa ostentação de burrice, de comunistas, socialistas e petistas!
Essa é a Pátria real, que infelizmente fica escondida debaixo da cama, ou do tapete – por que as pessoas ainda fingem ter vergonha na cara, mas é fake! A prova também está naquela famosa Constituição brasileira, pouco divulgada, mas bem conhecida de todos: Artigo Primeiro: ”Todo brasileiro deveria ter vergonha na cara”! Artigo segundo: “Revogam-se as disposições em contrário”! Agora imaginemos a Rede Globo, maior potência da comunicação social no hemisfério Sul, lançar uma verdadeira campanha de patriotismo, com o slogan: ”Brasileiro: Tome vergonha na Cara”! Não ria… Isso poderia ser uma revolução…Mas daí: Êpa! É Comunismo, de novo!
Porém, tinha razão, como sempre, Chico Buarque quando compôs “ a gente vai levando”: “ Mesmo com o nada feito /Com a sala escura / Com um nó no peito / Com a cara dura / Não tem mais jeito / A gente não tem cura…”! Eu sinceramente tenho a mínima ideia de onde o Senhor das Esferas foi buscar a receita para preparar, no fogo médio, esse povinho verde-amarelo-azul-e-branco!
No Sete de setembro e na comemoração da “nossa independência” me assaltam duas vontades na Pátria-amada-Brasil: De rir e de chorar! De rir porque, vamos combinar: somos patriotas bem ridículos, mais que inúteis, e essa tendência vem aumentando, a ponto de burrice e ignorância verde-amarelas agora estarem na moda! E de chorar porque temos “tudo na mão”. Mas sequer conseguimos traçar um rumo – com mais de 500 anos de história – para construir uma nação que nos orgulhe!
Se é mesmo verdade que D. Pedro I berrou, em algum lugar, o tal “Independência ou Morte”, o redator do discurso devia estar bêbado. Porque ser independente mesmo, ter vontade própria, sem copiar ninguém, nem atrelar nosso cargueiro a outro país – especialmente o “Tio Sam” – é um sonho de bem poucos brasileiros. Arrisco a citar Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Ariano Suassuna, Tom Jobim, Celso Furtado, Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Miguel Arraes, e Lula… Mas devem existir mais uns quatro ou cinco, se tantos.
Estes, pode-se dizer que em algum momento tentaram construir ou semear um Brasil independente, digno, altaneiro, e com justiça social! Mas não foram muito longe, infelizmente. Mesmo assim, não se desespere, que “essa terra ainda vai cumprir seu ideal/ainda vai tornar-se um império colonial”, como também ironizou e previu o Buarque de Holanda. Enquanto isso, vamos levando! E viva o Brasil! Viva o povo brasileiro!