“Agora todo mundo que morrer é de Covid, e para cada morto o prefeito ganha R$ 20 mil”. A sentença mostra a ignorância política e cultural, que leva as pessoas a acreditar em coisas sem pé nem cabeças. Ouvi isso há uma semana, de um bolsonarista fanático. Ele acredita que as mortes na Pandemia são culpa exclusiva de prefeitos e dos governadores, que estão roubando “do Bolsonaro, que acabou com a corrupção”. Brasileiros que têm coragem para acreditar no que esse xanxerense me disse são os mesmos que elegeram o atual (des) presidente. Pior que isso somente lembrando: Os votos em branco e nulos foram decisivos para o resultado da última eleição presidencial. E presidente, qualquer presidente, tem sempre muita responsabilidade pelo que acontece no país! Sempre busquei tentar entender a relação do brasileiro com as eleições, com os fatores e as razões que determinam a escolha do eleitor. Sou testemunho de eleição que elegeu um prefeito porque ele era “o mais lindo” entre todos os candidatos. Esse argumento também foi muito bem usado, aliás, pelo então candidato e ex-presidente Collor de Mello! Votar em prefeito que prometeu emprego para a filha, ou para a sogra, é o mais comum. Mas também em Xanxerê famosa a história do vereador que se elegeu distribuindo tijolos. Também lembro de um outro que se elegeu distribuindo os aqui chamados “Ranchos”, popular cesta básica, que acabou quebrando uma cooperativa, segundo aquelas famosas más línguas.
E também vi com esses mesmos olhos que a terra há de comer, uma extensa fila de eleitores, em plena rua e dois dias depois de uma eleição a prefeito, esperando para receber “a segunda parcela” da venda de seu voto, em espécie! Também sou testemunho de um militante, partidário filiado e amigo do prefeito recém-eleito sair cuspindo fogo, porque o prefeito negou emprestar-lhe uma boa grana – do erário – para ele quitar contas atrasadas. Furioso, ele lembrou que seus adversários políticos usavam e abusavam desse expediente, e arrematou: ”Se eles faziam isso, porque nós não podemos fazer”??? Detalhe: O partidário do prefeito era um dos que gostavam de chamar seus adversários – que perderam a eleição – de ladrões e corruptos. Também vi candidato a prefeito derrotado lamentar, no mesmo dia da apuração dos votos: “Perdemos porque faltou dinheiro para comprar uns votos na véspera da eleição”…
Gosto mais de divulgar as qualidades e virtudes de Xanxerê e de seus habitantes do que “falar dessas coisas”. Ou, no entendimento de alguns, de “falar mal”…, mas um foco não deve excluir o outro: Talvez a característica vergonhosa da cidade onde nasci (e de onde gosto mais de falar das coisas boas) seja exatamente a inaceitável e vexatória compra de votos, sempre presente, em toda as eleições municipais que acompanhei. E enquanto participante de comitês em diversas campanhas municipais, vitoriosas e derrotadas, não tenho NENHUMA dúvida de que os dois lados, ou quantos lados houver, sempre utilizaram desse “argumento” para, digamos, “conquistar votos”. Pior que isso, a meu ver, somente a justificativa de personalidades da história política de Xanxerê: “ Se não tiver dinheiro para comprar votos, não ganha”… Isso pode ser verdade. Mas não venham me dizer que isso é culpa “dos eleitores”. Não é. E a prova é a correria, nos comitês eleitorais na noite de todas as vésperas do dia da eleição, para “fechar bairros”. Tal prática, informo aos neófitos em eleições xanxerianas, visa evitar que os adversários consigam reverter “votos nossos, comprando nossos eleitores” na calada da noite. Vergonhoso e extremamente ridículo…!
Acredito que a culpa, nesse caso, está muito mais em quem paga, quem compra o voto, do que em quem vende, embora ambos sejam criminosos! Os eleitores foram viciados, ao longo de muitas eleições, em vender seu voto. Aprenderam a ganhar dinheiro, favores, tijolos, empregos, dentaduras, viagens, empregos e uma longa séria de “agrados”. Aqui mesmo no Oeste tem outro fato histórico, acredito que o único do gênero: Funcionários de uma poderosa empresa, que sempre eram “comprados” para votar no candidato a prefeito amiguinho do patrão resolveram, mas não falaram isso para ninguém, pegar os trocos e votar….contra o candidato do patrão! Este, perdeu a eleição. E muitos dos eleitores perderam o emprego, foi uma bela lição, que custou empregos, mas foi uma ótima lição, difícil – mas não impossível – de ser reeditada! E se falarmos em eleição para vereador a coisa fica pior ainda. Teve recém-eleito que ganhou um carro para mudar de partido. Tem quem oficialmente renunciou, mas na verdade fez uma permuta de seu mandato por algumas benesses pessoais, e intransferíveis. Teve vereador que foi dormir eleito presidente da Câmara, e na manhã seguinte viu sua eleição naufragar, porque um companheiro de partido resolveu, digamos, “mudar de opinião”, também na calada da noite….
São fatos bem conhecidos de muitos xanxereenses. Mas pouquíssimos admitem falar nisso. Óbvio que não se tem provas das negociatas. E quem deve julgar e mostrar provas de crimes é a Justiça eleitoral. A situação é muito parecida com a sentença sobre acreditar em bruxas: ”Yo no creo! Pero que las hay, las hay….”. E não estou falando “nessas coisas” para que as mesmas não se repitam na próxima eleição municipal. Elas vão se repetir. Mas se eu descobrir, antes delas acontecerem, não vou deixar de contar…Essa é uma batalha inglória e perdida, desde já. Mas alguém TEM que dizer isso…Para algumas pessoas saberem que nem todos são cegos, nem cúmplices de vergonhosas marmeladas. São essas mesmas pessoas as que mais esbravejam contra a corrupção, os tais “santinhos do pau oco”. Os mesmos que culpam SÓ os políticos pelas vergonhas nacionais e mundiais que estamos assistindo…. Lembro de uma eleição para prefeito em que um grupo de estudantes (eu junto), reuniu-se e imprimiu em mimeógrafo panfletos pregando” Não venda seu voto”, que foram distribuídos em bocas de urna. Depois, ficamos sabendo que o “nosso” candidato também tinha comprado votos, mas perdeu, segundo consta porque o dinheiro foi insuficiente. Também guardo bem viva na memória a imagem de um juiz eleitoral que fechou, ao vivo e a cores, em plena luz do dia, uma emissora de rádio, que fazia propaganda totalmente ilegal para um candidato, faltando poucos dias para a eleição. E tem “a joia da coroa”: Um atentado falso, encenado a tiros, contra um opala de um candidato a prefeito – que se elegeu por conta disso. Quem me contou a história, que ria muito do feito, foi o próprio autor dos disparos, infelizmente já falecido…
No meu “currículo” de assessor contratado para escrever textos de campanhas em eleições municipais em Xanxerê, no placar entre derrotas e vitórias, “perdi mais que ganhei”. Mas não tenho qualquer mágoa, nem arrependimento por isso. E enquanto eleitor, sempre joguei no time que não vota “para ganhar a eleição”, embora, é claro, ajudar a eleger o candidato seja uma sensação ótima. Voto em quem eu acho o melhor, ou no menos pior…. E assim, não me arrependo de ter perdido na maioria das vezes em que trabalhei em assessorias. Porque, como disse Darcy Ribeiro, jamais me sentiria bem se estivesse no lado que venceu…. Eleição não é campeonato, nem gre-nal. E também jamais troquei voto, ou apoio, por favores pessoais. Nas vezes em que trabalhei em comitês de campanha sempre cobrei, em dinheiro, pelo meu trabalho. Embora (risos) até hoje tenha uma dívida para cobrar, mas ela, faz tempo, já foi para a pasta de perdidos…. Por essas e outras, nas eleições municipais que se aproximam vou começar por nem revelar meu voto, e muito menos trabalhar, para candidato algum. Desta vez, vou fazer diferente de todas as anteriores: Sou Jornalista, não mais assessor! Não me envolvo em campanha, não apoio e nem declaro meu voto, nem para vereador, nem para prefeito. Isso vai me bloquear o acesso a muitas informações, notícias e principalmente, fatos nada edificantes. Mas conhecendo as eleições de Xanxerê, olhar de longe vai ser um alívio. Melhor não ver.…E ninguém depois poderá me dizer que trabalhei por A ou B, para rebater minhas críticas! E também será saudável, politicamente. Não é que me considere santo, é que tem coisas que, nestes tempos, melhor passar ao largo…E aos que insistirem que isso é “falar mal de Xanxerê”, digo apenas que isso é falar a verdade. E a verdade, todos sabemos, às vezes dói…