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01/06/2020 às 08:38
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Quirera Gourmet – 01/06/2020

Quirera Gourmet

Péssima Ideia Em Má Hora

Da esconjurada Série “vai de mal a pior”, a escolha da noite de sábado para bolsonaristas protestarem contra o STF, em Brasília, imitando manifestações da racista e odiosa Ku Klux Klan, mostrou mais uma vez que no Reino da Terra Plana – nova designação do Brasil segundo seguidores do despresidente – as coisas começaram a desabar. Ou, para ser mais claro, a casa começou a cair. Primeiro, durante a semana o negacionista Sérgio Camargo, empossado sob protestos de milhões de negros e brancos brasileiros na Presidência da Fundação Palmares, anunciou sob vaias gerais que pretende criar duas medalhas para homenagear pessoas acusadas de serem racistas. Típica iniciativa bostonaresca, daquelas criadas para arrumar enxurradas de críticas e fortalecer os já 70% contrários ao desgoverno, Camargo já foi nomeado e depois destituído, mas agora foi renomeado para o cargo. É negro, nega o racismo e pior ainda, elogia e enaltece a escravidão! Tento, mas não consigo achar a resposta à pergunta: “O que o desgoverno espera ganhar com isso”? Na mesma noite de sábado uma avalanche de internautas comemorava que 70% da população não aprova esse desgoverno. Acho é pouco, vai aumentar…

 

Má Ideia Em Péssima Hora

E na mesma noite de sábado, nada menos que 25 cidades das terras do “Tio Sam” transformaram-se em verdadeiros caldeirões, com protestos violentos, mais de 1.600 prisões e conflitos com a polícia motivados pelo assassinato, em Illinois, do homem negro George Floyd, que passou mais de oito minutos deitado no asfalto, e filmado com o joelho de um policial branco pressionando seu pescoço, enquanto ele pedia, sem sucesso, que o salvassem. O racismo, sempre negado no Brasil e, para muitos, algo menor ou em extinção nos Estados Unidos, mostrou, lá e aqui, que está bem vivo e com organizações atuantes, apesar de ilegais, graças às vistas grossas da lei. Matar crianças, adultos, mulheres e homens negros, para muita gente virou algo normal, aceitável. Mas não é e nem podemos aceitar – quem quer que seja – que pense algo meramente parecido com isso! Racismo é crime, e criminosos devem ser punidos! Também durante a semana a Polícia Carioca invadiu a casa e matou um adolescente negro, dentro da própria casa e depois sumiu com o corpo, encontrado depois por familiares num IML do Rio de Janeiro. A Bloomberg, uma agência de notícias dos Estados Unidos foi a primeira, que eu vi, a apontar o grotesco, o absurdo, entre as manifestações racistas de Brasília se contraponto a milhares de norte-americanos, brancos e negros, protestando lá contra o racismo…

 

Aqui e Lá, a Influência De Líderes Racistas…

Muitos podem pensar que essa onda de protestos antirracistas nos Estados Unidos seja unicamente, ou “apenas” uma resposta ao assassinato de George Floyd. Mas não é. Os racistas sabem que discriminação é crime, e também sabem que a maioria, quase unanimidade, da sociedade mundial e de qualquer país condena e criminaliza o racismo. Mas eles continuam sendo racistas, sempre que podem. E acham isso porque acreditam  “que ninguém está vendo”, ou porque tem alguma “autoridade acima deles” que faz vistas grossas, ou mesmo estimula – disfarçadamente, ou não – o racismo. São públicas e notórias várias declarações racistas do despresidente brasileiro, com destaque para aquela  famosa: ”Meus filhos não correm o risco de namorar negras ou virar gays porque foram bem educados”. Na terra do Tio Sam, presidida pelo maior ídolo do nosso despresidente, Trump não teria coragem para tamanha agressão. Mas aquele policial com o joelho no pescoço de Floyd deve ter pensado em Trump e outros “zagueiros”, em sua retaguarda, dando cobertura para seu ato. E se manifestantes racistas têm coragem para fazer manifestações racistas em frente ao STF, em Brasília, é porque eles sabiam que a Polícia não iria aparecer. Muitos podem achar que aquilo “não foi nada”. Mas foi! Da mesma forma, está na imprensa e nas redes sociais dos últimos dias manifestações pró-nazismo. As duas situações têm uma explicação lógica e óbvia: Líderes estão estimulando os que só faziam isso “quando ninguém está vendo”…

Racismo Estrutural… Você Já Ouviu Falar?

Racismo estrutural é o termo usado para reforçar o fato de que há sociedades estruturadas com base na discriminação que privilegia algumas raças em detrimento das outras. No Brasil, nos outros países americanos e nos europeus, essa distinção favorece os brancos e desfavorece negros e indígenas. Para entender do que se trata o racismo estrutural, é preciso dar um passo atrás. Entender, antes de tudo, o que é racismo — e o lugar que ele ocupa na formação da sociedade brasileira. Vamos pensar nos materiais usados para a construção de uma casa. São necessários cimento, vergalhões, tijolos, areia e água para a construção do alicerce. Ao subir os vergalhões, os tijolos são sobrepostos um ao outro, fixados sobre camadas de cimento.  Isso dará sustentação a toda construção.
Conseguiu imaginar a construção desse alicerce? E o que essa história toda tem a ver com a definição de racismo?
Na construção da sociedade brasileira, o racismo é o cimento. Ele é o elemento que sustenta a estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira. O Brasil carrega uma história de 300 anos de escravidão. Dentre os países da América, o nosso foi o último a abolir a escravidão negra formalmente, em 1888.  Depois de mais de um século, ficou enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira um pensamento que marginaliza as pessoas negras, as impede de se constituírem como cidadãs plenas.

(Leia, amanhã: Em Xanxerê, existe Racismo?)

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