Na juventude a gente queria matar “o cara que inventou o trabalho”; Na idade adulta ficar sem trabalhar é provocar problemas de saúde, física e mental. Na terceira idade trabalhar bem menos e sem ter que cumprir horário é uma recompensa. E trabalhar em casa, sem horário, de bermuda e chinelo é muito bom! Muita gente acredita que fazer Jornalismo não é trabalho, ”é só escrever, ou falar”…Mas é bem mais que isso. Primeiro tem que saber escrever, pelo menos razoavelmente bem, o que nunca será fácil… E embora hoje existam muitos que ignoram isso, para escrever ou falar qualquer coisa o Jornalista precisa estar bem informado sobre o que fala ou escreve, para não incorrer em besteiras, ou mentiras – que passam a ele com muita frequência especialmente por políticos, mas também por outros espertalhões. Há também uma tênue linha que separa a notícia pura e direta, bem apurada, da notícia que já traz embutida qualquer julgamento de valor feita pelo repórter. Quem pode julgar, se quiser, é o leitor. Cabe ao Jornalista informar da maneira mais completa possível, mas jamais querer julgar, ou induzir julgamentos na notícia veiculada. Dar opinião sobre os fatos é privilégio artigos assinados, ou de colunas de opinião, mediante a assinatura e a responsabilidade pelo que disse.
A profissão de Jornalista, igual a todas as profissões, tem muitas armadilhas para quem a exerce. O repórter, especialmente os novatos – “focas”, muitas vezes acabam se deslumbrando pelo fato dele ficar “sabendo das coisas” antes dos outros. E acaba “se achando” um ser superior” por conta disso. Grave erro. Até pode-se admitir que a profissão, o Jornalismo, tenha peculiaridades que a diferenciam, como manter (os atuantes) Jornalistas razoavelmente bem informados sobre uma variada gama de assuntos – algo que outras profissões não exigem. Mas sempre entendi que a profissão sim é que pode ser diferenciada, o profissional, não. “Se achar o melhor” é um erro em qualquer profissão. A humildade e a permanente autocrítica são indispensáveis ao bom desempenho do Jornalista. E mesmo agindo assim é impossível não cometer erros.
Este escrevinhador – em mais de 30 anos de profissão – já cometeu muitos e graves erros, embora os acertos tenham sido maioria.. Num deles, grave e de triste lembrança, juntamente com uma colega de redação acabamos por confundir e trocar fotografia e o nome de uma vítima de acidente de trânsito que veio a falecer. Resultado da imensa “barriga”: “matamos” um amigo que até hoje desfila por aí garboso e cheio de vida, graças a Deus! Pedimos as indispensáveis desculpas ao amigo e publicamos a errata. Mais que isso, infelizmente, não tem… Noutra vez, por milha falha de revisão e culpa total também minha, chamei, em nota de casamento, o casal de “Fulano e Sicrano”! Simplesmente porque esqueci de fazer a saudável e ultra necessária revisão final do texto, no caso uma legenda de fotografia. Esqueci de colocar os nomes dos noivos, que não lembrava direito no momento em que escrevi. Também graças a Deus consegui desfazer a terrível má impressão que causei, e até hoje os noivos são amigos, e bem casados. Para tentar aliviar escrevi depois que fulano e sicrano era este repórter, não os noivos! Mas foi um erro terrível. Na última vez que encontrei “o amigo que matamos”, foi possível até rir: Disse para ele que, mesmo depois de morto, ele estava com muita saúde!
Desde que comecei a escrever em jornal – em 1979, no então Diário Catarinense, título que depois foi vendido para a RBS, mas era dos Diários Associados (da Tupi) e tinha redação no bairro Saco dos Limões, em Florianópolis – tive a sensação de que as palavras que escrevemos não desaparecem, nem ficam arquivadas em papel ou em imagens. Elas parecem ficar suspensas no ar, por aí…E podem a qualquer momento desabar sobre a minha cabeça! Pode ter algum exagero nisso, mas é excelente freio naquelas horas em que dá (e muita) vontade de escrever besteiras, ou noticiar fatos sobre os quais você não tem todas as informações necessárias para escrever. E tive ótimos professores, dentro e fora da faculdade. De um deles guardo lembrança que nunca vou esquecer, o Ayrton Kanitz, professor da UFSC de técnicas de redação. Um dia ele pegou um texto meu, leu e me aconselhou: “Tá bom, Romeu. Mas procure “economizar as pretinhas” – referindo-se as teclas da máquina de datilografia, as “pretinhas”. Me ensinou a reler o texto e procurar retirar palavras dispensáveis, que podem sair, sem alterar o sentido. Ainda economizo nas pretinhas, Kanitz!
Acho que comecei escolher o Jornalismo como profissão de tanto ver meu pai, “Seu Romeu”, escrevendo a mão, com sua Compactor de pena, muitas vezes sob luz de velas, nos imensos livros que os cartórios de Registro de Imóveis eram obrigados a manter, e guardar em segurança. Com meu pai também comecei a aprender ler e escrever, sentado ao seu lado no sofá em frente a TV, enquanto ele fazia eu acompanhava seu passatempo preferido: Palavras cruzadas, que vinham no Correio do Povo, sua leitura diária, também para acompanhar seu imortal Grêmio. E ainda no então quarto ano do curso primário frequentado no Colégio La Salle, ganhei um concurso de redação promovido em uma “Semana do Estudante”, que reunia os colégios da cidade. Tema da redação: “O trabalho”. Infelizmente a redação perdeu-se nas mudanças. Outro prêmio que recebi, em dinheiro foi de uma reportagem que venceu um concurso sobre os 30 anos da Extensão Rural em Santa Catarina, promovido pela então Acaresc, hoje Epagri. Essa mostrei para meu pai, pouco antes dele falecer, para lembra-lo do que eu lhe dissera quando abandonei a Medicina para ser Jornalista….
Mas até decidir que Jornalismo era a minha profissão foi um longo caminho. Passou por três anos na Faculdade de Medicina da UFSC, em floripa. Desisti e até hoje não me arrependo: Lia tudo o que caía na mão, comprava revistas, jornais e livros…menos os de Medicina! Quando desisti e disse ao meu pai que “daqui não vai sair Médico”. E ele reagiu assim quando lhe informei que gostaria de fazer Jornalismo: “Jornalismo? Você não vai morrer de fome? Olha que isso não dá dinheiro…”. Seu Romeu sabia das coisas. Mas respondi: “Sei que não dá, mas para o feijão eu me garanto”! E assim tem sido, até agora. Na faculdade de Medicina convivi com futuros médicos que ainda no primeiro ano já estavam calculando quanto iriam ganhar, depois de formados…. Aquilo me desestimulou mais ainda, ficar rico e juntar um monte de dinheiro nunca foi minha meta. A única possibilidade disso sempre foi e ainda é… acertar na loteria ! Apesar de decepcionado com a maior parte da imprensa brasileira atual, e apesar de saber que nossa grande imprensa reflete aquilo que a maioria dos brasileiros acha correto, não trocaria meu trabalho e minha profissão por nada. É o que aprendi e onde gosto de trabalhar!