Passar o fim de semana trancado em casa, como este último de fevereiro, não é uma novidade, é rotina nos tempos de Pandemia, e com pé quebrado…. Mas com quase a cidade inteira, presumivelmente, também fechada no mesmo quadrado – e de aniversário – foi uma novidade, inédita que eu lembre. Sábado e ontem, a cidade parou. E mesmo da minha janela, que mostra quase nada de Xanxerê, deu para ver e sentir no ar o medo de uma cidade apavorada, assustada mesmo. Sensação também compartilhada em conversas zapeadas com amigos. Mas amenizei e atribuí tudo ao famoso “novo normal” que já está meio velho e nem desperta mais muita atenção. Mas está mais vivo que nunca e, pelo jeito, veio morar com a gente por muito tempo, ou para sempre!
Ontem à tarde, em entrevista coletiva, e diante da gravidade do momento, o Prefeito de Xanxerê, Oscar Martarello publicou novo decreto que : Prorroga suspensão de atividades não essenciais; autoriza a retomada gradativa de serviços essenciais suspensos na sexta-feira, sem lockdown; autoriza alguns serviços a portas fechadas ao público; e, fundamentado na situação de emergência em saúde pública decretada ainda em 2020 pela OMS, e no decreto de calamidade pública em vigor desde 25/02/2021, convocou médicos, fisioterapeutas e psicólogos para prestar atividades semanais junto ao ambulatório de campanha, mediante indenizações posteriores aos profissionais com base na tabela SUS, entre outras medidas. Os profissionais requisitados deverão prestar seis horas semanais de serviços, em escala de trabalho no ambulatório ou no Hospital São Paulo, a ser definida pela secretaria municipal de saúde.
O aniversário de 67 anos de Xanxerê foi para refletir, analisar e reforçar que esse “novo normal” é surpreendente, imprevisível – até para um mundo que havia se acostumado a planejar e programar tudo, com antecedência e perfeição nos detalhes. Com um ano de Pandemia, ela mostrou – mais do que essa alta inesperada (pela maioria) da incidência de doentes e vítimas fatais – que vai ainda demorar para ir embora, definitivamente. Mas os seres racionais, os humanos, nos orgulhamos de nossa capacidade de adaptação a todas as situações possíveis. Pena que alguns, uma minoria, ainda esperam o retorno do “velho normal”. E teimam em ignorar a imprevisível e grave nova realidade.
Porém tais teimosos negativistas sempre estiveram presentes nas horas de grandes crises e mudanças, e se encaixam perfeitamente no cenário, exatamente como em outras situações críticas que atingiram todo o planeta. Não vivemos outra Pandemia desse porte, mas alguns ainda lembram da II Guerra, ou leram sobre ela. E uma guerra mundial, acredito, deve ser a situação mais parecida com a Pandemia da Covid19 de que temos notícia. Temia e teme-se ainda, a eclosão e conflitos mundiais entre grandes potências. Mas ninguém previu, nem imaginou, uma guerra mundial contra…um vírus! E igual ao início da última grande guerra, há quem negue a gravidade e os riscos do momento. Assim como muitos negaram e minimizaram as sérias ameaças do nazismo, quando tudo começou.
Não tenho muita paciência com tais negativistas teimosos, por aqui na Quirera. E nem mudei de opinião: Pessoas que seguem negando a Ciência e os conhecimentos que mantiveram, até agora, a Humanidade vivendo aqui neste planeta, para mim se assemelham a muitos nazistas e simpatizantes. Eles, lá no surgimento do nazismo, negaram e minimizaram o risco que ele representava. Não vou chamar os negativistas atuais de nazistas, mas existem muitas semelhanças entre eles. Agora, como no surgimento no nazismo, nem se reconhecem e ainda se menosprezam os riscos futuros…. Como, por exemplo, esse Coronavírus desembestar em criar novas e novas cepas, mutações, cada vez mais agressivas e ainda mais letais…
Os futuros riscos podem ser visualizados imaginando que (tomara que não) as vacinas desenvolvidas até agora não sejam efetivas no bloqueio das novas mutações – que já estão acontecendo no mundo todo e no Brasil. As mesmíssimas mutações, vale lembrar, transformaram um (até um ano atrás) quase inofensivo e bem conhecido vírus, no maior e mais perigoso inimigo da civilização humana, em pleno século 21! O novo Coronavírus é imprevisível, conforme estamos nos conscientizando. Menos mal que em menos de um ano nossos (agora) salvadores do planeta – os pesquisadores, cientistas e estudiosos já conseguiram a vacina, um golaço deles! Mas ainda não podemos dizer que empatamos o jogo!
As notícias do Brasil e do mundo, neste feriado com tudo fechado, em pleno sábado, não foram as melhores. A média de mais de mil mortos/dia há várias semanas, no Brasil, as informações preocupantes sobre novas mutações, mundo a fora, junto com pessoas contraindo a doença até pela terceira vez – e cada vez com sintomas mais graves, fazem refletir, muito, sobre o ameaçador “novo normal”. As vacinas tão esperadas chegam em conta-gotas tão incerto que nem sabemos se vai alcançar a maioria da população…. Sem menosprezar, ainda, o colapso do sistema de saúde, de Xanxerê, do Oeste, em toda Santa Catarina e na maioria dos estados brasileiros…. Uma situação também inesperada e menosprezada, por muitos negacionistas, de novo! Os números, entretanto, começaram a falar mais alto. Espera-se que eles tragam, junto com eles, a necessária maior valorização de vidas humanas…. Até porque sem elas não há produção, nem consumo – para usar palavras mais ao gosto de empresários…
Diversos países, menores em área e população, mas com economias mais fortes que a do Brasil conseguiram conter picos de casos, como o que acontece agora no Brasil, adotando a mais radical de todas as medidas: Um Lockdown de 15 dias ou mais. Natural dizer que os prejuízos econômicos são praticamente incalculáveis. Mas experiências como as da Alemanha, Inglaterra e outros demonstraram, com todas as letras – e todos os prejuízos – que a economia não “vai a pique”, nem quebra de vez, como alguns apregoam! Ninguém me disse, mas arrisco um palpite: A gravidade da situação em Chapecó, a maior cidade do Oeste, teve um dos gatilhos detonadores no funcionamento – ininterrupto – de grandes frigoríficos. Falo do entra e sai, 24 horas por dia, de milhares de operários que se revezam em turnos de oito horas, de domingo a domingo. Uma das causas está aí, mas, é claro, há outras…
Não estou culpando as agroindústrias, nem criticando sua justa e verdadeira condição de mantenedoras de muitos municípios do Oeste, de suas economias e de sua própria existência. Mas é impossível negar que essa realidade: Trabalho 24 horas por dia, mais a necessária locomoção diária de milhares de operários de Chapecó, Concórdia, São Miguel do Oeste, Maravilha, Joaçaba, Capinzal, Ipumirim e outros, até dezenas de municípios satélites, é uma verdadeira máquina dispersora de Corona vírus. Além de movimentar diariamente milhares de pessoas – nem sempre em condições sanitárias ideais – para dezenas de municípios, também vale lembrar da condição socioeconômica da maioria dos trabalhadores da agroindústria, brasileiros, haitianos e outros migrantes que aportaram por aqui, em massa, em busca de reconstruir suas vidas.
Novamente, friso que não culpo trabalhadores, daqui e de outros países que aqui vieram e foram bem recebidos. Porém, seu padrão de vida nas cidades-satélites onde moram os coloca entre a população de menor renda, os menos assistidos. Não por acaso a faixa de população onde a Pandemia – segundo pesquisas – causa mais contágios, vítimas fatais e doentes! Conheço o mecanismo de funcionamento das grandes agroindústrias. Sei o suficiente para reconhecer que paralisar um frigorífico – por um dia que seja – causa um enorme efeito dominó de prejuízos a criadores de aves e suínos e também a setores agregados como o metal mecânico, transportes de cargas, distribuidores de insumos, indústrias de refrigeração e outros, não menos importantes para a economia como um todo.
Mas, caso os números não apresentem melhoras nesta semana que se inicia – e tomara que eles caiam – não haverá o que fazer com o “novo normal”, a não ser pensar – e planejar muito bem – um lockdown geral e irrestrito por vários dias, ou semanas. E não só de frigoríficos, é claro…. Simplesmente porque não haverá mais o que fazer. Preocupa também o passo de tartaruga da campanha de vacinação, no Brasil todo, para desespero de muitos. E dizem para não misturar política com Pandemia, e eu concordo. Mas apontar um dedo para o Ministério da Saúde e para o Governo Federal pela sua lerdeza, incompetência e inúmeros erros na condução da Pandemia não é misturar política. É a realidade! É óbvio que a população também tem grande parcela de culpa. Mas é impossível minimizar ou ignorar a brutal – e já reconhecida mundialmente – incapacidade, desleixo criminoso e inaptidão deste governo para enfrentar a Pandemia.