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24/06/2022 às 11:18
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Prenúncio de uma tragédia; Responsabilidade família, sociedade e estado

Morde & Assopra
Por: Flavio Carvalho
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Hoje passamos por aqui para fazermos uma breve reflexão sobre fatos que para algumas pessoas, têm ao que parece, se tornado “modinha”.

Tudo começou a ganhar maior destaque em Santa Catarina, após a chacina registrada em 04 de maio de 2021, quando um jovem de apenas 18 anos, sem histórico criminal, invadiu uma creche na cidade de Saudades armado com uma adaga e atacou bebês, professoras e funcionários, matando três crianças, uma professora e uma funcionária no massacre, que acabou ganhando repercussão internacional.

A partir destes fatos, num primeiro momento, autoridades dos três poderes legalmente constituídos ainda em 1988, assim como, estudiosos, médicos das mais variadas áreas da ciência, passaram a expressar opiniões e tentar montar uma linha de raciocínio que pudesse apontar o que desencadearia tal conduta ou levaria uma pessoa a cometer tamanha barbárie.

Fato é, que desde então, algumas escolas e cidades passaram a tomar certas medidas de segurança para controle do acesso de terceiros no recinto escolar. Mas isso ao que parece não está se mostrando eficiente, ou até mesmo após a “febre ter baixado”, muitos esqueceram do assunto em questão.

Fatos recentes, entretanto, mostram que devemos ainda nos manter atentos ao comportamento de jovens, crianças e adolescentes. Apesar de não ter sido constatado o registro de outra tragédia, o prenúncio está aí, pertinho de todos nós! Basta olharmos os casos registrados em outras escolas a exemplo de Chapecó, Xanxerê, e mais recentemente em Faxinal dos Guedes.

Sejam armas brancas, de airsoft, ou outras, o que tem levado cada vez mais jovens e crianças a criar este pensamento por vezes de vingança ou até mesmo de fazer “justiça com as próprias mãos”? Seria este o prenuncio de uma nova tragédia!

Poderíamos prever que, às vezes, as crianças parecem inocentes prisioneiras, condenadas não à morte, mas à vida, sem ter consciência ainda do que significa essa sentença. Mesmo assim, todo homem deseja chegar a velhice, época em que se pode dizer: “Hoje está ruim e cada dia vai piorar até o pior acontecer”. – Arthur Schopenhauer

Responsabilidade: família, sociedade e estado

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se insere num conjunto de medidas propostas a partir da Carta Magna Brasileira – a nossa Constituição Federal de 1988 – que trazem a criança e o adolescente para o palco das discussões, de modo que eles adquiram status de sujeitos, cujos direitos passam a ser discutidos, observados e fiscalizados.

Diante disso, devemos nos atentar e refletir de forma específica a importância da sociedade civil, bem como da família e do Estado para a efetivação desses direitos.

Segundo o Princípio da Prioridade Absoluta, inserido na Constituição Federal, a criança e o adolescente devem figurar, obrigatoriamente, entre as prioridades das autoridades públicas, apesar da realidade do país estar em flagrante contradição com o citado princípio constitucional.

Diante da falta de cumprimento de muitos dispositivos constitucionais, os órgãos incumbidos de zelar pela proteção dos direitos da criança e do adolescente (como o Ministério Público e a Defensoria Pública) têm escolhido a via judicial como uma das alternativas para forçar o Estado a cumprir suas obrigações.

Mas não apenas o Estado deixa de cumprir a sua obrigação para com a população infanto-juvenil. E é de conhecimento de todos que a desestruturação familiar (o que resulta em crianças e adolescentes vivendo nas ruas, vítimas de maus-tratos por parte de genitores omissos, em situação de dependência química etc), o baixo poder aquisitivo das famílias (em função da situação econômica e social do país, especialmente a falta de oportunidades de trabalho), a proximidade com agentes da violência na comunidade (a ideia de que a violência já é algo normal) e a falta de perspectiva para o futuro levam os adolescentes à prática de atos infracionais.

Mas existem outros atenuantes, que enquanto pais e sociedade devemos estar atentos! Foi-se o tempo em que os pais precisavam muitas vezes “pegar o filho pela orelha para colocá-lo para dentro de casa” (quando ficava brincando com amiguinhos até tarde na rua), hoje muitas crianças e adolescentes “precisam ser pegas pela orelha e colocadas para fora de casa”, afim de poder ver a luz do sol brilhar de forma natural e não apenas através da tela de um computador e/ou celular.

As redes sociais são ferramentas que aproximaram muito as pessoas e deram ampla liberdade de expressão, muitas pessoas utilizam as redes para se comunicar, algo que tem dificuldade de fazer pessoalmente, ou seja, algumas pessoas conseguiram muita liberdade e se sentem inclusive incluídos. E vários estudos sobre redes sociais demonstram que as relações têm impacto significativo na vida das pessoas.

Pois bem, o quanto isso é salutar? Até aonde podemos dar liberdade às crianças e jovens nessa imensidão que é a internet e especificamente nas redes sociais? Essa é uma discussão que a sociedade não tem se aprofundado da forma como deve, tem que haver envolvimento de pais, educadores, Poder Público, a sociedade como um todo. Isso porque está sendo criada uma geração extremamente dependente da tecnologia e esquecendo das relações sociais que são importantes na formação do caráter dos jovens.

Existem vários aspectos que são preocupantes nesses assuntos, os jovens deixaram de lado a leitura e a convivência familiar para dedicar este tempo para as redes sociais e internet, o que passa a criar uma barreira de comunicação dentro da entidade familiar, aliado a isso o perigo dos criminosos cibernéticos explorarem a confiança dos jovens, das mais variadas formas. Essa ausência de comunicação dentro da entidade familiar é preocupante, pois os pais achando que os filhos estão dentro de casa, protegidos, mas diante do computador é na verdade uma falsa sensação de segurança, pois pode ser muito mais perigoso do que estar em uma festinha com amigos ou em um evento social.

É importante destacar que mídias sociais, em razão da capacidade de compartilhamento e interatividade, modificaram as formas de relacionamento entre jovens e adolescentes. Ao proporcionar, por meio de sites e aplicativos, ambiente de encontro entre indivíduos por vezes vulneráveis, se tornam fatores de risco para a saúde mental.

Por essas e outras inúmeras razões é muito importante que os pais e responsáveis não descuidem das crianças e adolescentes no tocante a utilização de redes sociais e internet, eles devem ser monitorados sempre, e isso não quer dizer que venha ser invasão de privacidade. Isso é cuidado, os pais devem possuir todas as senhas das crianças e jovens para o livre acesso às suas redes socais e internet, explorar o histórico de sites e aplicativos visitados e utilizados, para que não haja surpresa desagradável. Devem também limitar com rigor a utilização da internet e redes sociais.

Também é importante passar um tempo com as crianças e adolescentes para observar se não há mudança de comportamento dos seus filhos, pois ao menor sinal atitudes devem ser tomadas com intuito de evitar graves problemas no futuro, problemas inclusive em determinados casos irreversíveis.

Demorou muito tempo até que se desse conta de que as crianças não são homens ou mulheres em dimensões reduzidas. As crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio. – Walter Benjamin

Mas o que fazer, quando um destes (família, sociedade e estado), se mostra indiferente ou até mesmo age de forma omissa às suas responsabilidades para com nossas crianças e adolescentes?

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