Tem gente que, às vezes, sente vontade de voltar no tempo. Esse, porém, não diz respeito àquele que um dia foi seu, mas ao tempo que, conscientemente, jamais lhe pertenceu.
O motivo desse desejo de regresso, certamente, não tem haver com as dificuldades da vida de nossos antepassados e, sim, com a ideia de que, talvez, em outros tempos os sentimentos existissem para além do momento. Há quem questione a veracidade das vivências, em épocas passadas, daquilo que é essencial ao ser humano, mas o fato é que, aparentemente, o amor sentido ou aprendido, construía famílias sólidas, em geral, e não superficiais como tantas de nosso tempo.
Quanto mais observamos os relacionamentos de algumas tristes realidades, mais nos parece que a importância de amar, por desilusões ou motivos diversos, não está na lista de prioridades da vida de tantos. O significado da expressão “colha o dia”, mais conhecido como “carpe diem”, foi substituído por beije o quanto puder, tenha o mais que conseguir e “viva a vida”. Resumindo, apenas bastaria trocar as vestes para ser feliz!
Que concepções de vida e de felicidade distorcidas! Esses seres humanos vazios de sentimentos estão ou são incapazes de construir aquilo que de fato tem importância, independente do tempo referido. Consequentemente, a incapacidade momentânea e em tantos permanente de amar resulta nesse corriqueiro e moderno desfazer-se de relações, geralmente marcadas pelo amor de um só.
Assim, mesmo que regados à festa, a solidão irá corroer esses seres que, embora se julguem cheios de vida, estão em algum lugar e momento sentindo tudo, sem sentir verdadeiramente nada. É fato, que o silêncio irá emudecê-los em algum momento!
Se a culpa é da máquina, do copo ou do corpo (do outro), não é possível afirmar, mas o fato é que, cada vez menos, busca-se a construção de relações permeadas daquilo que chamamos amor e, entristeçam-se, há seres aparentemente tão gentis que, infelizmente, julgam-se incapazes de amar!
Ah, que saudades de outros tempos! Saudades, até de Alberto Caeiro, que diria que amar combina com a eterna inocência, mas, infelizmente, essa não tem mais espaço nos dias atuais.
Por Luciane Marangon Della Flora