Em 71,1% dos homicídios registrados no Brasil em 2018, o agressor usou uma arma de fogo para cometer o crime. No total, 41.179 foram assassinadas dessa forma naquele ano, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (27) pelo Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os pesquisadores criticam a flexibilização do acesso à armas promovida atualmente pelo governo federal e temem que isso represente alta de mortes. A proporção de homicídios cometidos com armas de fogo tem se mantido estável ao longo dos últimos 15 anos, na casa dos 70%. Mas o número varia de Estado para Estado. No Rio Grande do Norte, por exemplo, 89,8% dos assassinatos em 2018 foram cometidos com esse instrumento, porcentagem que foi crescendo continuamente ao longo da última década. Em 2008, o número estava em 75,1%. A proporção atual é mais alta que a média também no Ceará (85,8%), em Sergipe (84,6%), em Alagoas (81,8%), na Paraíba (80,9%) e em Pernambuco (80,4%).
O estudo lembra que, em um ano e meio da gestão do presidente Jair Bolsonaro, já foram editados onze decretos, uma lei e quinze portarias que, na visão dos especialistas, fragilizam os instrumentos de controle e fiscalização de armas de fogo e munições no Brasil. Isso pode ter como consequência a obtenção de armas por traficantes e milicianos, exemplificam. O armamento civil é uma bandeira pública de Bolsonaro, que recorrentemente reforça a intenção de fragilizar normas de controle. A gestão defende que mais armas na mão dos cidadãos podem representar um freio aos indicadores de criminalidades. Mas pesquisas têm mostrado que o aumento na circulação de armas leva a mais crimes.
Essa violência tem como principal alvo a juventude brasileira. A pesquisa aponta que os homicídios são a principal causa de mortalidade de jovens entre 15 e 29 anos, atingindo pessoas com “plena capacidade produtiva, em período de formação educacional, na perspectiva de iniciar uma trajetória profissional e de construir uma rede familiar própria”. Os números mostram que 30.873 jovens foram vítimas de homicídio em 2018, o que configura uma taxa de 60,4 mortes a cada 100 mil jovens brasileiros. “Contudo, ainda que a morte violenta de jovens continue representando um grave problema, os números de 2018 indicam um cenário melhor em comparação ao ano anterior: diminuição de 13,6% na taxa e de 13,7% nos números absolutos. O decréscimo nos homicídios de jovens acompanha a melhora nos índices gerais de homicídios no país ocorrida nesse período”, explicam os especialistas.
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CP