Uns vão, outros vêm. Enquanto há quem ande com passos ligeiros, outros param e observam aquilo que se passa. Nessas horas, quem anda rápido exime-se da culpa negligente de nada fazer.
E, assim, era apenas uma linda árvore, de verdes folhas, mas com os passos ligeiros de cada andante, não se via que as folhas caiam, uma após a outra e por dias em grande quantidade. Raízes enfraquecidas, seu viço e beleza deram margem à aspereza de sua estrutura e a feiura de final de vida.
Observar a morte daquela árvore é tão pecaminoso, quanto observar e nada fazer perante a morte da alma humana que ainda poderia ter motivos de vida. Dos mortos que já viveram, muitos chegam à fatalidade devido palavras atravessadas na garganta, sendo o princípio da morte de almas de tantos jeitos, o sufocamento do ser.
Foi-se o homem que nem crime cometeu, aquele que não tinha pão, aquele menino que tinha demais e o que não teve vez. Foi-se a mulher que não pode ter voz e ficou com medo de clamar por ajuda. Todos morrem e só quando mortos passam a ser vistos.
Enquanto isso, a perfeita sociedade letrada que detém daquilo que denominamos de poder de tantas faces apenas acrescenta mais um nome que vira número para a estatística de fatalidades de finais de vida. Se foi falta de oportunidade, se foi falta de conselho ou coragem, pela falta de água, de pão ou de amor, as folhas secam, caem e tudo que se vê deixa de existir.
O último suspiro, o pedido de socorro pode estar ao nosso lado, nos passos ligeiros e ansiosos daqueles passam pelas folhas de uma árvore esquecida ou de um ser humano que anda, que tudo tenta, mas que não é cultivado pelo amor e nem sabem o que é um presente feliz.
É assim que os dias passam e as folhas caem.