Milhares de comprimidos de hidroxicloroquina que foram doados pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil estão encalhados em depósitos em Santa Catarina. O medicamento, sem comprovação científica de eficácia contra a Covid-19, foi enviado a cidades brasileiras em setembro do ano passado e pouco utilizado. Das três cidades catarinenses que receberam a carga doada, duas estão com estoques parados e já cogitam devolver o medicamento. Em um esforço diplomático do governo Bolsonaro com o então presidente norte-americano, Donald Trump, 458 mil comprimidos de hidroxicloroquina de 200mg foram enviados ao Brasil e distribuídos para cidades e estados que demonstraram interesse entre setembro e janeiro. Dessa quantia, quase metade veio para três cidades catarinenses: Joinville, Lages e Pinhalzinho. As informações fazem parte de um relatório do Ministério da Saúde divulgado pela Lei de Acesso à Informação (LAI). A maior carga de hidroxicloroquina enviada dos EUA veio para Joinville. A maior cidade de SC recebeu 160,5 mil comprimidos e, segundo a Secretaria de Saúde, utilizou apenas 0,8% até hoje. Pouco mais de mil comprimidos foram utilizados com base nas receitas de médicos aos pacientes. A carga com mais de 159 mil unidades do medicamento está parada desde então na Central de Abastecimento Farmacêutico da prefeitura. Com parte do estoque já perto do vencimento, a prefeitura de Joinville começou o processo de devolução dos remédios para o Ministério da Saúde. Situação parecida ocorreu em Lages, na Serra. A cidade foi à segunda no país que recebeu mais comprimidos da hidroxicloroquina doada por Trump. Dos 63 mil comprimidos recebidos, 57 mil estão encalhados. Com um volume menor e uma política de incentivo ao tratamento precoce, a cidade de Pinhalzinho, no Oeste, foi à única que usou 100% dos comprimidos doados. Todos os 3 mil que chegaram em setembro já foram receitados, e até hoje o município mantém uma distribuição constante da droga. Nesta segunda-feira (01) a Organização Mundial da Saúde publicou um parecer definitivo desaconselhando o uso da hidroxicloroquina no tratamento preventivo da Covid-19. O documento foi publicado na revista científica The BMJ e é assinado por um painel de especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS. Desde meados do ano passado a OMS já afirmava que não havia benefícios comprovados do medicamento contra o coronavírus, mas agora a posição é firmemente contrária ao uso. A base da diretriz são seis estudos clínicos que envolveram mais de 6 mil pacientes. Especificamente em Santa Catarina, ainda no ano passado um manifesto assinado por mais de 600 médicos se posicionava contrário à recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus. A lista incluía, além da hidroxicloroquina e cloroquina, outros remédios muito comentados recentemente como ivermectina e nitazoxanida.