Em determinado momento, deparei-me com dois vídeos distintos, mas que nos fazem refletir igualmente o sentido de tudo e a pequenez de muitas de nossas atitudes diárias. Ambos retratavam as reações de menininhos ao poderem fazer coisas que tantos nem se dão conta do valor que possuem. Um dos pequenos, ao ganhar um simples óculos, consegue ver. O outro, ao ganhar um aparelho auditivo, ouve aquela que cultivou sua vida desde o ventre.
O sorriso daquelas crianças pequenas é indescritível, capaz de levar às lágrimas aqueles que, de repente, percebem a pequenez de tantas coisas que insistimos em cultivar nessa vida.
Temos o dom de ouvir perfeitamente, entretanto, nossos ouvidos agem como se fossem completamente surdos diante de tantas falácias que circundam em nosso meio, que convenhamos, está um tanto quanto problemático. Conseguimos ver, mas os nossos olhos cegos não atentam para as bonitezas da vida, bem como aquilo que não deveria mais estar ocupando o lugar que está.
E o que dizer da capacidade da fala? Esse deixa de ser dom para tantos, assumindo apenas uma forma cruel de destruir aqueles que incomodam, especialmente os que possuem a capacidade de formar opinião ou que estejam para além das imoralidades sociais e políticas desse nosso dia-a-dia.
Mundo, mundo, vasto mundo, como disse Carlos Drummond de Andrade! Jamais precisaríamos nos chamar Raimundo, mas é preciso questionar se nossos sentidos estão em débito com a vida. Naturalmente, como uma reação em cadeia, deixamos de promover o que é bom, mas, fatalmente, como por bisbilhotice, colaboramos de maneira fiel para a propagação daquilo que hoje nos representa em tantos quesitos.
Talvez, muitos precisem apenas de um simples óculos ou aparelho auditivo para que possam ver e ouvir direito aquilo que está se passando, para que, talvez, consigam reagir àquilo que não está nítido ou audível nos dias atuais. Seria tão bom poder sorrir verdadeiramente para as belezas que nos cercam e não termos que ver os sorrisos irônicos de certos seres que fazem parte de uma sociedade adoecida pelo individualismo e o jogo de interesses. A ausência de valores humanos de outros tempos, a falta de empatia com o outro, talvez resulte em um verdadeiro caos, tão sujo quanto à sociedade que José Saramago retrata em sua obra Ensaio sobre a Cegueira.
Enquanto isso, enquanto os nossos sentidos não estejam totalmente capazes, fiquemos com os vídeos e mensagens que nos acalentam e ainda nos dão uma ilusória esperança. Compartilhemos, então, essas mensagens nas redes sociais, na tentativa de acalmar nossa alma inquieta diante de tanta cegueira e imobilidade de alguns.