De repente, visitou-me na janela, um pequeno e ágil beija-flor, uma das criaturas mais belas da natureza. Há quem ache, há quem não. O certo é que as bonitezas desse mundo possuem uma simplicidade incomparável e não necessitam de exposição e grande visibilidade para se tornarem inesquecíveis.
Parece que tudo que é muito ornado é, também, artificializado e convenhamos que a nossa sociedade artificializa-se a cada dia. Esquecemos, tantas vezes, que é na naturalidade do viver que se encontram os maiores e também esquecidos tesouros. Flores belas, nuvens de tantas formas, os apertos de mão de amizades sinceras, os tantos perfumes da vida, nos sugerem que não é preciso formalidade para ser verdadeiramente feliz.
O que vale mais? Uma pequena flor colhida com amor de um jardim ou um belo e enorme buquê caríssimo, camuflado de desculpas pela falta existente entre pessoas? Joias, ouro, dinheiro, nada disso é capaz de comprar amores verdadeiros, aqueles que permitem o toque de almas.
Tocar um violão, um piano, um belo jovem corpo, comprar o que tanto se deseja, nada disso é comparado ao toque de almas, que se encontram e percebem que sentir vai além daquilo que se vê. As relações verdadeiras entre familiares, amores e amigos perdem-se nesse mundo, onde parece-nos que a troca de favores e as relações de interesse estão imperando sobre aquilo que deveria mover as relações verdadeiramente humanas. Insanidade a nossa!
As aparências mudam, as almas deveriam evoluir. Entretanto, nessa evolução mundana, de correria ao insano, ao poder, ao parecer ser, esquecemo-nos, por tantas vezes, de observar o pequeno beija-flor à janela, convidando-nos a voar para a vida, a sorrir e viver para além das aparências sociais, políticas e interesseiras desses nossos dias infiéis, que nos enganam que viver é consumir, é ter poder e não simplesmente ter aquilo que costumamos chamar de paz.