Somos criados, formatados, programados e projetados para “se dar bem na vida”: ganhar dinheiro, alcançar a fama e o sucesso, virar “o cara”! Isso ao menos no Capitalismo, onde o Deus Mercado opera milagres e abençoa os fiéis que têm grana, concedendo-lhes graças celestiais magníficas! Estas vão da mera impunidade ao status de ser intocável, igual ao Temer, o FHC, o Aécio e outros. Passamos a vida aprendendo a nos comportar, “andar na linha” e, ultimamente a ser “politicamente corretos”. Seria justo – e daqui a pouco é capaz de virar lei – ganharmos uma cartilha ao nascer, com todos os procedimentos que devemos seguir!
Particularmente, com bastante cautela e alguma ingenuidade sempre cultivei, ou tentei cultivar alguma rebeldia, na doce ilusão de não ser (mais) uma cópia “de todo mundo”. Porque se todos devem seguir as mesmas normas e adotar atitudes idênticas, não resta dúvida que o plano é integrar e igualar um imenso rebanho caminhando a esmo. A falha é que nos ensinam também que podemos ser exemplares únicos, acima da média, um gado com grana mas também com um pedigree original e personalíssimo, top – como se fala agora. Esse seria o modelito suprassumo da série “gente que se dá bem na vida”, também conhecido como a nata!
E tem o outro extremo desse modelo: O “elemento” que além de não se enquadrar nem ser formatado para andar conforme o rebanho, renega as normas pré-estabelecidas pelo Deus Mercado. E manda à merda (sempre que consegue) a meta de “se dar bem na vida”! Prefere, isso sim, viver bem a vida, em todos os momentos possíveis, sem amarras e do jeito que achar melhor! Muitas vezes esse ”estilo” dá cadeia, má-fama, maledicências, baixa popularidade, enorme rejeição social e outras dores de cabeça – na visão do rebanho maior! Mas é apenas o preço da contestação, da rebeldia, da irreverência, ou do inconformismo com o “status quo”.
“Gente desse tipo” não raramente é rotulada com uma série de preconceitos, palavrões, impropérios e xingamentos mesmo. E também é comum eles pagarem altos preços – em vários tipos de moedas, o que inclui perseguição, rejeição e isolamento. Alguns conseguem “furar o bloqueio” da sociedade bem-comportada, as “pessoas do bem”, e são parcialmente reconhecidos, às vezes até exaltados, mas sempre como exceções à regra. Na ditadura alguns chegaram a ser chamados de “heróis malditos” – porque tinham a horrorosa pretensão de querer ensinar o rebanho geral a pensar diferente, fora da curva, longe do “Deus Mercado” E isso era – e ainda é – um perigo!
Essa corrente de atitudes diante da vida se ampliou e se ramificou em muitos caminhos. Todas são vertentes tentando fugir do convencional, do rebanho, da vida programada, cobrada e exigida pela sociedade. E não ser “mais do mesmo”, para atender os desejos predominantes da civilização…Não estou falando, nem apregoando, a marginalidade nem o banditismo, o submundo ou o crime. Mas é fato que existem muitas outras formas de levar a vida sem estar sempre de joelhos e orando para o Deus Mercado nos dar fortuna, fama e sucesso! Aliás, esse rebanho majoritário – acredito eu – é sem dúvidas o que mais aluga a agenda, do Deus Mercado e de outros Deuses…
Essa opção, a dos “fora da curva” envolve até alguma religiosidade, na medida em que não prega a acumulação de riquezas, nem a fama e o sucesso. Basta viver bem. O que pode ser traduzido em conseguir suprir suas necessidades básicas e ter algum conforto, sem ostentação, esbanjamento ou exagero. Sem querer mostrar e provar, escancarar para os outros que o vivente “é o cara”! Nada disso! Para esse povo basta apenas viver em paz consigo mesmo. Sem o compromisso obrigatório e inseparável de trabalhar, a vida toda, até se matar para…acumular dinheiro, riqueza, poder. Isso, em primeiro lugar, porque daqui levamos porcaria alguma…E há outros bons motivos!
Daí, quando dá aquela vontade de achar ou opinar, palpitar ou, na real: Se meter na vida dos outros! E achar que esses ”indivíduos”, esses “outros” poderiam ter feito isso ou aquilo, construído sei lá o quê, ou ter ido sabe-se lá para onde…Daí, quando der essas vontades, é bom lembrar que nem toda a boiada “vai por aí”…Alguns preferem ficar sentados à beira do caminho, olhando a rica e numerosa tropa se matar em busca de fama, da fortuna e da ostentação. Ou seja: Em ser “alguém na vida”! Em “se dar bem”! E.… acabam se esquecendo de …viver! Viram robôs ou quase isso. Ou pior que isso…
Mas vamos combinar: Muitos são felizes sendo bem assim e fazendo isso. Então, tal realidade não quer dizer que eles estejam “errados”, ou que sejam menos inteligentes, ou infelizes. Tal realidade mostra apenas que cada um é dono do seu nariz e faz da sua vida o que bem quiser e o que conseguir fazer! Se eles “chegaram lá”, meus sinceros parabéns! Fizeram por merecer, sem dúvidas! Só não acho bom, nem bonito, medir as demais pessoas – especialmente os que estão nem aí para ter um monte de dinheiro no banco – com a mesma régua de quem “chegou lá”….Porque nem todos querem chegar lá. E muitos sequer estão interessados em o que é, ou onde fica, esse “lá”…Da parte que me cabe, eu cheguei aqui. E está de bom tamanho, além de muito bom! Obrigado!