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18/08/2021 às 06:50
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Quirera Gourmet – 18/08/2021

Quirera Gourmet
Por: Romeu Scirea Filho

O Jornalismo nos Tempos da Peste

Observar, ler, ouvir, analisar e escrever, ou arquivar, ou deletar, jogar no lixo, esquecer. As informações disponíveis sobre uma imensa variedade de assuntos também cabem numa escala de valores que classifica sua maior ou menor importância, para a opinião pública e para o interesse geral. E isso pode ser usado para determinar o peso de uma notícia, o interesse que ela causa ao ser divulgada.

Hoje esses cuidados – fundamentais para o Jornalismo em tempos atrás, andam meio desvalorizados. Informações supérfluas, descartáveis ou, pelo menos, de menor interesse ou totalmente inócuas, que causam consequência nenhuma ou mínima no dia-a-dia, ganharam status até inexplicável. Chamou-se isso de ‘cultura inútil’, tempos atrás ou, no popular, de “enchimento de linguiça”…

O manjado conceito de que cachorro mordendo gente não é notícia, mas gente mordendo cachorro é, continua muito usado. E foi até reforçado, por conta do boom de valorização dos “melhores amigos do Homem”: Morder cachorro hoje vira crime de maus tratos a animais. E dá até cadeia! Já se o melhor amigo te carcar uma dentada na perna é porque você não lhe pareceu uma figura simpática.

As notícias hoje também pecam – e são muito criticadas, por não trazer o nome “dos artistas”. Trazem só “a arte”, mesmo que muitas vezes o contraventor, ou o criminoso, tenha sido preso em flagrante. Ainda não compreendi bem os motivos dessa omissão de nomes, especialmente em casos de flagrantes. Mas desconfio que seja uma forma de “proteger gente de bem” e suas famílias, no noticiário policial…

Acho isso um farisaísmo, enquanto Jornalista, porque apurar amplamente e com profundidade os fatos, o que realmente aconteceu – e nomes de envolvidos-  é cláusula pétrea, talvez a mais pétrea do Jornalismo. Noticiar fatos pela metade, ou omitindo detalhes fundamentais não pode ser chamado de Jornalismo, fica mais parecido com disse –  me – disse-me de comadres conversando no portão da rua…

E o Jornalismo hoje ainda enfrenta outra grande, a maior, dificuldade, em termos de confiabilidade: As famosas e mal faladas Fake News – talvez a mais maligna das pragas do século. E com a pressa com que nos habituamos a fazer tudo hoje em dia, é comum aceitarmos toda informação bombástica como verdadeira. Pior ainda: A mesma pressa nos empurra a divulgar, rapidinho, baboseiras e inverdades…

Nesses dias de Sérgio Reis falando grandes besteiras (e se arrependendo logo depois), e na mesma linha do abobral oferecido pelo autor de Menino da Porteira, recebi um WhatsApp atribuído à Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, deputada federal licenciada, falando em nome do Agro e chamando o STF e o Congresso Nacional de “pestes perniciosas”, que estariam reescrevendo – a seu bel prazer – a Constituição brasileira…

Com o detalhe de que a voz na gravação da notícia era igual da ministra, e nem suspeitei que pudesse ser mais uma mentira. Mas fui salvo pelo gongo ao ler, em seguida na mesma “notícia” a ministra recomendando fazer “rancho” no mercado por dois meses! Aí a farsa fez plim-plim, porque uma ministra da agricultura, do Brasil, falar tamanha barbaridade, é para assustar incautos, ingênuos, ou xiitas que chamam o STF de comunista!

E minutos depois veio a confirmação da minha a suspeita, quando a assessoria da ministra desmentiu, na imprensa, que ela tenha dito aqueles disparates. Investiguei um pouco mais e aceitei a hipóteses de a notícia ter sido fabricada pelo famoso “Carlucho” Bolsonaro, o vereador do Rio de Janeiro que é editor chefe de Fake News, desde a campanha de seu papai, num tal Escritório do Ódio.

Conseguir filtrar mentiras de notícias reais nem sempre é tão fácil. Principalmente por que as falsas verdades sempre trazem um tempero picante e escandaloso que nos dão vontade de sair espalhando, a mil, pelo mundo! Possuir, deter, conseguir o conhecimento de um fato em primeira mão, ou entre poucos, sempre nos dá uma sensação de empoderamento. E tal condição dá um brilho no “ se achão” de cada um…é preciso ostentar! Porque, dizem, gente é para ser feliz e para brilhar!

Ser mais ou melhor que os outros e se, possível, que a maioria dá uma polida no Ego e nos deixa mais confiantes de que é verdade, sim, que “somos os caras”! Só fica bem feio quando, daqui a pouco descobrimos que comemos mosca e que o que divulgamos como uma bomba não passa de uma estrondosa lorota, conversa para Inglês ver. Ou para boi dormir…

Já me vi nessas canoas furadas e o jeito mais honesto de diminuir o fiasco é reconhecer o erro e contar a verdade…o quanto antes! São ossos do ofício, e mesmo com anos de estrada ninguém pode dizer que está livre de cair numa dessas, muito disseminadas nos dias atuais. Fica aquele mal-estar de ter repassado inverdades e mais ainda, de ter sido pego comendo mosca, de boca aberta. O nosso mundão não é para amadores, faz tempo…

Aquele velho chavão dos tempos da faculdade que avisava: “Todo homem bem informado é um homem perigoso” continua válido, e até criou filhotes. Como aquele que entende que o repassador de Fake News ou é um sujeitinho mal informado, ou é mau caráter, com o agravante de poder ser as duas coisas, ao mesmo tempo! Ninguém gosta de ser pego na mentira. Mas atualmente isso acontece com muita frequência.

Noticiar fatos pela metade ou menos, omitir detalhes importantes do que se noticia ou valorizar muito um detalhe, tentando induzir a conclusão do leitor são outros defeitos comuns. As palavrinhas enganam, fazem de conta que não deixam ver as intenções de quem as escreve. Mas isso nem sempre acontece, e a “verdade” que o repórter quer vender, muitas vezes está bem longe de ser toda a verdade. Ou apenas a verdade!

Gosto, muito, da minha profissão. E estou sempre atento ao apedrejamento que ela é vítima, diariamente, em sites em veículos de comunicação da mídia aberta a todos. Posso lamentar e para não parecer perfeccionista demais, ás vezes faço vista grossa a erros primários de ortografia, ou de apuração dos fatos. E estes últimos considero os mais graves, e os mais comuns…Infelizmente. Divulgar conteúdos falsos ou distorcidos é muito pior que escrever osso… com cedilha!

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