De tanto ouvir sobre aglomerações e isolamento social visitei o indispensável amansa burro para tentar descobrir mais sobre essa falta que faz – à “galera”, mas também a adultos e idosos – a vontade de estar cercado de pessoas com quem tenhamos alguma afinidade. Seja ela por simpatias, gostos, desgostos ou aversões semelhantes ou qualquer elo que nos una, nos atraia e faça com que nos enxerguemos, ou nos achemos parecidos, com outras pessoas. Já sabia que tal necessidade chamam de gregarismo. E fui lá ver o que é isso: “gregarismo sm [der. de gregário ]. – 1. Tendência de animais e plantas para viver em grupos organizados ou compactos. 2. No que se refere às pessoas, tendência ou facilidade para se adaptar sem resistência às imposições da vida social ou para seguir passivamente as diretrizes dadas de cima, para se submeter acriticamente às ordens de um líder”.
E na busca também lembrei da frase “Nenhum homem é uma ilha”, de autoria do Poeta e Religioso Inglês, John Donne (1572-1631), embora a mesma frase também seja atribuída ao filósofo e político, também Inglês, Thomas Morus(1478-1535). Mas é de John Donne o texto que diz: “Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti” (John Donne, Meditações VII). Filósofos e filosofias à parte, o fato é que a Pandemia retirou do fundo do baú velhas perguntas, mas de caras novas…
E “voltando” a 2021, a lei agora é que aglomerar ajuda a multiplicar – e a criar novas cepas, ou ameaçadoras variantes – do Corona vírus, o novíssimo e poderoso inimigo da civilização dos Humanos, no planeta Terra. Não sei se é evolução, ou coincidência ou providência divina, ou tudo junto, o fato de termos hoje (ainda bem) a Internet, que supre muitas das necessidades do tal gregarismo, agora proibido. A Internet não nos deixa ficar com caras e bocas de ilhas, perdidas no meio de um mar de tantas mortes…. Imaginemos como tudo seria, se não tivéssemos Internet. E de cara fica visível que as reclamações seriam muito maiores, e a vida, muito pior! Então, além vacina – desenvolvida e disponibilizada em tempo recorde – a Ciência, ela mesma, que também criou a Internet, nos livrou de muitas e enormes dificuldades e problemas, em pleno Século 21.
… ao mesmo tempo, essa mesma bendita Ciência (e os Cientistas junto) nunca antes havia sido tão renegada, contestada, e desprezada mesmo, por tanta gente! E na legítima caradura, sem argumentos ou justificativas que, minimamente, servissem de fundamento para surgirem tantos negacionistas, que acreditam em heresias, como a da terra plana. Ainda bem que não estamos de volta à Idade Média… Se assim fosse, os negacionistas correriam o risco de serem queimados na fogueira! Mas ninguém cogita nisso hoje – ao menos por enquanto. Mas o paralelo serve para ilustrar o tamanho absurdo que é negação da Ciência. Algo que pode ser classificado como desumano, porque está ceifando muitas vidas – e talvez a maioria delas que acreditam, ou são levadas a acreditar, em heresias da Ciência, a deturpação e a negação de conhecimentos científicos reiteradamente comprovados e universalmente aceitos. Pior que isso é que muitos veem esse bizarro surgimento do negacionismo – das vacinas, principalmente – como algo aceitável, normal…
E a Internet, ao mesmo tempo em que nos atualiza sobre os conhecimentos da Ciência – e as vitórias já alcançadas pelos cientistas nesta Pandemia – nos assusta com notícias informando o crescimento do negacionismo, não só no Brasil, mas em todo o planeta! E a situação da pandemia NÃO está sob controle, como muitos aprendizes de negacionistas querem nos fazer acreditar, negando, para começar, a gravidade do quadro aqui no Brasil. Na quarta-feira, o Jornalista Ricardo Kotscho, titular de uma coluna chamada “Balaio do Kotscho” – que leio e recomendo, revelou um dado grave, e curioso: Nos seis primeiros dias de abril o Brasil registrou um fato, com números comprovando, que nunca havia acontecido em toda a história do pais: Morreram mais brasileiros do que nasceram! O déficit, segundo ele, foi superior a 400 almas. Situações semelhantes ocorrem em guerras civis, ou mundiais. Nunca em tempos de paz…
Mesmo assim, e apesar de todos os avisos e alertas de cientistas e especialistas, do Brasil e no mundo todo, grande parte dos brasileiros ainda espera, como se espera um milagre, que daqui a pouco a Covid simplesmente “vá embora”, ou seja totalmente erradicada, num piscar de olhos! É bem mais fácil, e muito mais inteligente e inadiável acreditar que a Covid é uma doença nova que atinge a todos, e que sua cura, se vier, ainda vai demorar muito, e custar milhares de vidas. Temos é que agradecer e esperar que as vacinas consigam enfrentar e nos livrar dos males que ainda virão, cada vez mais agressivos, por conta de mutações do Corona Vírus – que já começaram a acontecer. E estão matando mais que no início da Pandemia. E se temos a vacina e esperamos que ela funcione bem, temos que nos dedicar a fazer uma guerra sem tréguas à disseminação e multiplicação do vírus – o que acelera o surgimento de novas variantes dele!
Então, voltando às aglomerações, ao gregarismo e à constatação de que ninguém é uma ilha, é hora de, por enquanto, mandar tudo às favas, incluindo os filósofos e a filosofia. Porque a hora é de salvar a pele e a vida, de cada um e de muitos, senão a de todos. E aglomerar – do jeito que gostávamos tanto e que nos dá uma bruta saudade – é algo que deve agora ser considerada uma legítima heresia científica… Heresia, é bom frisar, que não vai levar ninguém a ser queimado numa fogueira. Mas pode nos levar de volta à idade da pedra, ou das cavernas. Principalmente se consideramos que os negacionistas, no Brasil especialmente, seguem acreditando em tratamento precoce e nas cloroquinas da vida. Algo que o mundo inteiro já sabe e já avisou: Não Funciona! Para disfarçar essa mentira, agora também se resolveu (veja bem 35) … mudar o nome do tratamento precoce! Só o nome, as mentiras e os falsos remédios que não curam, seguem exatamente iguais!
Um bom – e sem aglomerações – fim de semana a todas (os)!