Quase quatro anos depois do crime, um empresário badalado e dois supostos comparsas viram réus pelo assassinato de Adélcio Haubert de 65 anos, ex-vice-prefeito de Santa Maria do Herval/RS.
O juiz de Dois Irmãos, Miguel Carpi Nejar, aceitou a denúncia contra os três na tarde da terça-feira (19). Eles devem ir a júri. O crime, conforme o Ministério Público, teve motivação financeira.
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Haubert era dono do frigorífico Boa Vista, que já foi o maior empregador e fonte de receita de Santa Maria do Herval. Empresário popular e respeitado, aceitou o convite para concorrer a vice-prefeito e ocupou o cargo de 1993 a 1996.
Em maio de 2018, decidiu vender o frigorífico para o empresário catarinense Cristiano de Bem Cardoso de 44 anos. A tradicional firma estava em recuperação judicial.
O comprador, que ostentava negócios com artistas de renome nacional e prometia reerguer o frigorífico com pesados investimentos, e fez uma proposta irrecusável. Ofereceu R$ 10 milhões, parcelados, com o compromisso de sanar todas as dívidas e financiamentos.
A expectativa do expressivo investimento combinou com as aparências. Cardoso passava a imagem de empreendedor bem-sucedido. Ele chegou de helicóptero à empresa, de forma triunfal, impactando positivamente funcionários e a população.
Mas não pagava o antigo dono, nem honrava as dívidas. A produção começou a cair ainda mais. O negócio promissor começava a se revelar um calote milionário. Haubert passou a cobrar a dívida com frequência, pessoalmente, no frigorífico. Incomodado com as cobranças, conforme o Ministério Público, Cardoso mandou matar o credor.
De acordo com a denúncia do promotor de Justiça Bruno Amorim Carpes, encaminhada no último dia 18 ao fórum, o empresário delegou o assassinato ao funcionário de confiança Silvio Soares das Chagas de 48 anos, que recrutou Jôni André Haubert de 34 anos, e outro homem, não identificado, para a execução. Jôni era primo de segundo grau da vítima.
O plano foi colocado em prática às 19h52 de 21 de outubro de 2020, uma quarta-feira. Haubert e a esposa Flávia, na época com 64 anos, assistiam televisão na sala de casa, na Rua Beno Zimmer, bairro Boa Vista do Herval. Os tiros passaram pelos vidros.
Um acertou a cabeça de Haubert, que morreu cinco dias depois no Hospital Unimed, em Novo Hamburgo. A esposa, ferida por fragmentos da bala que atingiu o marido, precisou reconstruir o rosto. Eles estavam sozinhos. Os dois filhos e três netos moram em outras cidades da região.
O promotor descreve a ação dos pistoleiros. “Jôni, juntamente com outra pessoa cuja identidade é desconhecida, ficou de tocaia em frente à residência das vítimas, aguardando o momento em que estivessem sentadas no sofá, distraídas, sem qualquer possibilidade de defesa, ocasião em que efetuaram os disparos.”
Conforme apontado pela perícia, a dupla usou uma carabina calibre 38 e um revólver calibre 32. As armas não foram encontradas. “Os crimes foram cometidos mediante emboscada, já que os atiradores ficaram escondidos em frente à residência, que é toda envidraçada, aguardando o momento em que o casal sentou-se na sala para assistir televisão, passando, então, a disparar as armas de fogo”, acusa Carpes.
Os três réus devem ir a júri pelo homicídio de Haubert e pela tentativa de homicídio de Flávia.
Cardoso ostentava empreendimentos com o artista na Grande Florianópolis. Há fotos e declarações dos dois em projetos da construção civil e na criação de cavalos, publicados nas redes sociais e na imprensa, em 2015. Em uma postagem, Cardoso e Sorocaba exibem o projeto de condomínio residencial em Governador Celso Ramos, no litoral catarinense.
Já o sertanejo nega investimentos com Cardoso. “Sorocaba nunca foi sócio! Apenas prestou serviço para ele há mais de cinco anos e não tem nem contato mais”, afirmou, a assessoria de imprensa do artista.
Nos últimos anos, o suposto mandante comprou várias empresas, de diferentes ramos, em recuperação judicial. A maioria das empresas adquiridas está em Santa Catarina, mas há também no Paraná e em São Paulo. Cardoso é de Criciúma e tem endereço de moradia em área nobre de Florianópolis.
Entre as empresas compradas por Cardoso está o antigo frigorífico Unibon de Xanxerê, que durante a passagem de Cardoso pela capital do milho, passou a se chamar Satiare Alimentos.
Colaboração: Silvio Milani
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